08/02/2016 às 11:23

Parceria em transporte torna mais ágil trabalho de equipe de transplantes

Desde que convênio da Saúde com o Samu e o Detran entrou em vigor, há oito meses, não houve perda de doações de córneas no DF. Reportagem acompanhou captação

Por Amanda Martimon e Rafael Alves, da Agência Brasília


. Foto: Gabriel Jabur/Agência Brasília

Com prazo curto para captar órgãos de doadores e implantá-los em pacientes, a Central de Transplantes da Secretaria de Saúde conta com o auxílio do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) e do Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF) desde junho de 2015. O apoio logístico para o deslocamento da equipe que faz a coleta é apontado pela pasta como fundamental para o bom desempenho conquistado por Brasília em 2015 tanto na doação de órgãos e tecidos quanto na realização das cirurgias. “Às vezes, perdíamos doação por problemas no transporte interno. Com a cooperação, eliminamos esse gargalo”, destaca a diretora de Transplantes da Secretaria de Saúde, Daniela Salomão.

Até setembro do ano passado, Brasília estava em primeiro lugar em transplantes de coração, fígado e córnea, considerando a proporção da população em cada unidade federativa. Pelo mesmo índice, a capital federal era nona no transplante de rins e segunda em número de doadores. O ranking é da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos, que compila os dados a cada trimestre. O resultado final de 2015 ainda não foi divulgado.

As metas locais do sistema público de saúde foram superadas. No ano passado, houve 494 transplantes de córneas em Brasília, bem acima da meta de 280. De coração, ocorreram 30, dez a mais. A doação de fígado também ficou além do esperado: de 40 para 63. Oitenta e sete pessoas receberam rins novos, sete a mais que a expectativa.

Captação
A equipe que capta os órgãos atua em três turnos, sem interrupção. Os profissionais ficam de prontidão no Hospital de Base, na Asa Sul. Logo que ocorre o aviso de uma possível doação, o grupo é transportado de imediato pelo Samu. Foi assim na manhã de 28 de janeiro deste ano, quando o chamado partiu do Hospital Regional do Gama, pouco antes das 10 horas.

Com a viatura já preparada, o técnico responsável pela retirada da córnea do doador seguiu para a região administrativa. O primeiro destino foi a residência da família do doador — nesse caso, uma vítima de arma de fogo que faleceu no hospital. Antes do procedimento, os familiares passaram por entrevista e assinaram autorização.

Para o transplante de córnea, a retirada pode ser feita até seis horas após o óbito, mesmo que outros órgãos, como coração, estejam paralisados. Se o corpo for mantido refrigerado, esse prazo aumenta em mais 12 horas.

No caso do dia 28, a captação ocorreu no Instituto de Medicina Legal da Polícia Civil do DF, para onde o corpo foi transferido enquanto a família dava anuência para a doação. Em outras situações, a retirada de órgãos ou tecidos é feita no hospital.

A captação inclui todo o globo ocular, que é levado para o Banco de Olhos do Hospital de Base. Lá é feita a preparação necessária para que as córneas sejam transplantadas. Antes de retornar ao hospital, no entanto, a equipe leva amostras do sangue do doador até o Hemocentro de Brasília.

No laboratório, são feitos testes sorológicos, cujos resultados saem em cerca de uma hora. Só após a confirmação de que não há impedimentos para o transplante, a equipe manipula as córneas. Após todo o processo, elas ficam refrigeradas no hospital e podem ser transplantadas em, no máximo, 14 dias.

De acordo com a chefe do Banco de Olhos do Hospital de Base, Mônica Barbosa dos Santos, nenhuma doação de córnea foi perdida desde que foi firmado o convênio da Central de Transplantes com o Samu e o Detran-DF. “A captação aumentou em quase 70%. Antes, a média era de 30 córneas por mês. Depois da parceria, esse número passou para 50.”

Prazos
A agilidade para transplantes é crucial. Coração, rim e fígado seguem procedimentos com prazos mais curtos do que o de córneas. É necessário que, após constatada a morte, o corpo seja mantido com condições vitais para a retirada dos órgãos.

Segundo informações da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos, o tempo máximo para que o coração seja implantado no receptor é de quatro a seis horas; para fígado, de 12 a 24 horas; para rins, de 48 horas. Em Brasília, uma pessoa viva pode doar parte do fígado e um dos rins a parentes até o quarto grau e a cônjuges.

Códigos
O transporte do Samu e do Detran é organizado em códigos de três cores. No verde, o deslocamento é feito por carro do serviço de atendimento móvel. No amarelo, por viatura com sinalização. No vermelho, o helicóptero do Departamento de Trânsito é acionado.

“De acordo com o chamado, o Samu e o Detran sabem quanto tempo disponível vão ter”, conta Daniela Salomão, da Central de Transplantes. Além do convênio local, o Ministério da Saúde coloca à disposição viagens em aviões comerciais e pela Força Aérea Brasileira.

Fila
Embora os números possam mudar diariamente, até a terceira semana de janeiro havia 15 pacientes à espera de um coração novo, 102 de córnea, 35 de fígado e 319 de rim.

De acordo com a Saúde, o tempo médio de espera para pacientes que precisam receber um rim no DF é de dois anos. São levados em conta fatores como tamanho, peso e genética. Dos outros órgãos, a média é menor. Para ter um coração, a espera é de 4,3 meses; para fígado, 6,2 meses; e para córneas, 3,8 meses.

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