Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (Pais) objetiva assegurar o sustento digno e saudável, preservar a natureza e aumentar a renda dos agricultores no DF

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09/01/2012 às 03:00

Tecnologia ajuda agricultura familiar

Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (Pais) objetiva assegurar o sustento digno e saudável, preservar a natureza e aumentar a renda dos agricultores no DF

Por

    Carlos Rezende, da Agência Brasília

    Uma nova tecnologia agrícola e ecológica, que começou a ser utilizada desde o meio do ano passado no Distrito Federal, está transformando a vida de aproximadamente 170 famílias de pequenos agricultores da Bacia do São Bartolomeu, na cidade de São Sebastião. Conhecido como Produção Agroecológica Integrada e Sustentável (Pais), o programa tem como intuito garantir o sustento digno e saudável e o aumento da renda dos agricultores familiares com a venda de excedentes produtivos e preservar o meio ambiente.
     
    Tem sido tão bem sucedido que, em dezembro passado, foi objeto de um protocolo de compromisso para que seja fortalecido na região, assinado pelo Governo do Distrito Federal (GDF) – por meio da Secretaria de Agricultura e Desenvolvimento Rural do Distrito Federal (Seagri-DF), da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-DF), da Fundação Banco do Brasil (FBB) e do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).
     
    “O Pais é uma forma de introduzir a agricultura agroecológica, incentivando a diversificação da produção e evitando desperdício de alimentos, água, energia e tempo”, explica o presidente da Emater-DF, José Guilherme Tollstadius Leal. As regras para participar do programa são simples: respeitar a vida, a natureza, os hábitos e costumes da população e, sobretudo, a sustentabilidade das comunidades com menor poder de consumo.
     
    Kit-Pais – O programa funciona da seguinte forma: cada uma das 170 unidades existentes no DF, conhecidas como Kit-Pais, funciona com um viveiro de animais no centro do sistema, que normalmente é um galinheiro, mas que também pode ser um chiqueiro. Em volta, como em ondas de canteiros circulares crescentes, são cultivadas variedades de hortaliças e plantas aromáticas. Além disso, o programa conta com um quintal agroecológico e um conjunto de dispositivos para irrigação.
     
    O pacote básico inicial possui sementes, dez galinhas e um galo para cada família. Oferece também caixa d´água, bomba e mangueira para irrigação por gotejamento, adubo orgânico e calcário, além das orientações para manejo do sistema e comercialização de excedentes – que são fornecidas pelo grupo de instituições, cada uma delas responsável por uma área diferente. Os recursos financeiros investidos anualmente em cada kit possuem custo aproximado de R$ 9 mil e são bancados pelas instituições participantes.
     
    Além disso, o Pais permite um intercâmbio integrado entre produção animal e vegetal. Restos da horta não utilizados para consumo humano, como folhas queimadas, raízes, talos e sabugo de milho, por exemplo, são utilizados na alimentação dos animais. E os dejetos fisiológicos dos animais, como o esterco, são utilizados como adubo na plantação.
     
    O engenheiro agrônomo da Emater-DF Luiz Márcio Ueno explica que esses pequenos agricultores assentados na Bacia do São Bartolomeu já exploravam a terra há algum tempo, mas viviam com dificuldades. “Eles não conseguiam produzir nem para o próprio sustento. Com a nova tecnologia, aprenderam a utilizar melhor recursos como terra, água e trabalho. Em pouco tempo,  obtiveram ótimos resultados, tanto em suas próprias alimentações como na venda de excedentes produtivos, porque o ciclo de produção das hortaliças é muito rápido”, esclarece.
     
    Orientações e prioridades – Na implantação do Pais, os técnicos procuram saber o que a família costuma utilizar na base de sua alimentação. “A prioridade é plantar o que o agricultor vai comer. Depois é que vai se avaliar o que o mercado está pedindo”, destaca Ueno. Todo o processo de orientação e acompanhamento ao agricultor dura um ano e meio.
     
    O agricultor Valter José Dias recebeu a equipe de reportagem da AGÊNCIA BRASÍLIA em sua chácara no Núcleo Rural Morro da Cruz com um largo sorriso no rosto. “Estou contente demais da conta com o Pais”, comemora. Não é para menos. De acordo com ele, há um ano, levava cerca de três caixas de produtos para sua barraca, que abre apenas aos domingos na Feira Permanente de São Sebastião. Hoje, leva 25 e não traz nada de volta.
     
    Antes do Pais, Dias produzia alface e cheiro-verde (salsinha e coentro). De seis meses para cá, diversificou a produção e atualmente cultiva brócolis, couve, repolho, rúcula, agrião, rabanete, mostarda, cenoura, beterraba, pimentão, pimenta, abóbora, banana e milho. Tudo em apenas um hectare e sem a utilização de adubo químico ou hormônios. “Veneno nunca mais”, garante.
     
    Dias garante que trabalha com produto de primeira qualidade, que pode ser consumido sem medo. “Uma freguesa encontrou uma lagarta na minha couve e me disse: agora acredito que o senhor trabalha com produtos verdadeiramente orgânicos. E nunca mais deixou de comprar em minha banca”, diz, com bom-humor.
     
    “Minha família se alimenta com produtos saudáveis e isso é excelente”, destaca. Seu filho, Vilmar Dias, 22 anos, complementa: “Os repolhos daqui são mais gostosos e macios dos que o que a gente compra no supermercado”. A resistência dos produtos é outro diferencial apontado por pai e filho.
     
    A durabilidade das hortaliças e a segurança no manejo das hortas são os principais motivos que fizeram o produtor João Soares Silva, 44 anos, converter toda a sua produção de 3,5 hectares, localizada no Núcleo Rural Zumbi dos Palmares, para a técnica de cultivo orgânico, após experimentar o sistema do Pais. “É melhor para a saúde da gente, tanto na alimentação quanto no trabalho da roça”, afirmou. “Eu nunca me dei bem com produtos químicos. Há alguns anos sofri uma intoxicação e quase morri”, lembra.
     
    Fundo de Aval – sancionado pelo governador Agnelo Queiroz no final de 2011, o Fundo de Aval do Distrito Federal servirá como instrumento de financiamento para os produtores rurais e tem a proposta de impulsionar a produção agrícola no DF. Os recursos virão das taxas cobradas pela concessão de uso dos imóveis rurais. A Seagri-DF estima que R$ 3 milhões estejam disponíveis aos agricultores neste ano.
     
    Segundo a Seagri-DF, a partir de agora, os agricultores locais que precisam de um aval financeiro, mas têm dificuldades em dar garantias aos bancos, terão condições de investir e produzir mais. Os recursos poderão ser utilizados para compra de equipamentos, como trator e máquinas de colheita, e insumos necessários à produção.
     
    Regularização fundiária rural – Desde julho do ano passado, o GDF vem regularizando as terras rurais públicas. A medida é uma reivindicação antiga de milhares de agricultores da cidade, que buscam recuperar o direito à segurança jurídica para gerenciar seus negócios de forma legal, o acesso ao crédito e à regularização ambiental, além de possibilitar que o Governo desenvolva políticas públicas que incentivem o desenvolvimento rural, como o Pais.
     
    A Sala de Atendimento para a Regularização Fundiária fica na sede da Seagri-DF, na sala 12, SAIN – Parque Rural S/N, no final da Asa Norte, ao lado da sede da Emater-DF. Interessados podem entrar em contato pelo telefone 3274-9067 ou pelo e-mail sarf.seapa@gmail.com.
     
    Saiba mais sobre a importância dos programas no setor da Agroecologia desenvolvidos pela Emater-DF pelo site www.emater.df.gov.br

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    Foto: Brito