Presidiários participam das obras do Estádio Nacional de Brasília em programa de ressocialização por meio de oportunidades de capacitação, trabalho e inclusão

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19/01/2012 às 03:00

Detentos trabalham no ENB

Presidiários participam das obras do Estádio Nacional de Brasília em programa de ressocialização por meio de oportunidades de capacitação, trabalho e inclusão

Por

    Carlos Rezende, da Agência Brasília

    Mais do que redescobrir o gosto de ganhar a vida com o próprio suor e a experiência de viver novamente em sociedade, os detentos que trabalham no canteiro de obras do Estádio Nacional de Brasília (ENB) têm consciência de que estão dando uma contribuição histórica para o país, já que participam da construção de uma das mais modernas arenas da Copa do Mundo de 2014. A ação faz parte do Programa Começar de Novo, criado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em 2009, para estimular a reinserção social de sentenciados e egressos do sistema carcerário no mercado formal de trabalho.
     
    A intermediação entre sentenciados e o Consórcio Brasília 2014, responsável pela construção do estádio, é feita pela Fundação de Amparo ao Trabalhador Preso do DF (Funap-DF), vinculada à Secretaria de Segurança Pública (SSP-DF). A Funap-DF encerrou 2011 com aproximadamente 1,6 mil detentos trabalhando em várias instituições públicas e privadas do Distrito Federal, inclusive nas obras do estádio. O objetivo é diminuir a reincidência criminal por meio de oportunidades de capacitação e de trabalho e, dessa forma, promover a inclusão dessas pessoas na sociedade.
     
    De acordo com o diretor executivo da Funap, Adalberto Monteiro, a fundação busca atender fielmente aos princípios da ressocialização dos detentos, com o intuito de melhorar sua condição de vida, elevar a autoestima e despertar neles o interesse pela atividade lícita – o que já vem sendo observado.
     
    Atualmente, cinco sentenciados trabalham no Estádio Nacional de Brasília, mas a rotatividade é grande: o número de sentenciados na construção do estádio já foi maior (chegou a ter 11 pessoas em cumprimento de pena) e tende a crescer novamente a partir dos próximos meses.
     
    Os detentos que trabalham na construção do ENB cumprem pena em regime semiaberto e são obrigados a retornar todos os dias para o Centro de Detenção Provisória (CDP), localizado no Setor de Indústrias e Abastecimento (SIA). Eles têm direito a benefício de remissão – que prevê a redução da pena em um dia para cada três trabalhados. Além disso, recebem uma bolsa de ressocialização no valor de R$ 540, auxílio-transporte e se alimentam, gratuitamente, no refeitório do canteiro de obras.
     
    A função desempenhada pelos detentos é importante. Eles são responsáveis pela higiene no canteiro de obras, onde circulam diariamente cerca de três mil trabalhadores. “Eles fazem serviços de limpeza e tratam do lixo. E trabalham tanto quanto os outros operários”, destacou o encarregado de serviços gerais do Consórcio 2014, Alisson de Moraes Mendes.
     
    De acordo com os sentenciados, o trabalho no ENB vale a pena. “Estamos respirando ar puro, trabalhando como qualquer outro operário e isso é bom. Nos devolve a dignidade e a coragem para levantar a cabeça novamente”, disse à AGÊNCIA BRASÍLIA um dos detentos que trabalham na obra, de 36 anos.
     
    Outra chance – Como os sentenciados não possuem outras fontes de renda, a bolsa ressocialização fornecida pelo Consórcio 2014 é uma grande ajuda no sustento de seus familiares. “Estamos tendo outra chance de perceber como é importante ganhar dinheiro com o suor de nossos próprios rostos”, enfatizou um dos detentos, de 38 anos. “No lugar da vergonha, temos agora o orgulho de estar participando da construção de um dos estádios da Copa do Mundo. Vamos entrar para a história”, ressaltou outro, de 24 anos.

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    Foto: Pedro Ventura