16/11/2014 às 11:41

Icterícia prolongada pode indicar doença grave

O sinal clínico é um dos sintomas da atresia biliar, responsável por 50% de transplantes hepáticos em crianças

Por Da Secretaria de Saúde


. Foto: Pedro Ventura / Arquivo

BRASÍLIA (16/11/14) – Condição comum em recém-nascidos, a icterícia neonatal prolongada por mais de 14 dias pode significar a atresia biliar. A doença, pouco conhecida, é responsável por 50% dos casos de transplante hepático em crianças e adolescentes.

 

Para evitar que o recebimento de um novo fígado seja a única possibilidade de cura para o bebê, o diagnóstico precisa ser rápido. “Se a criança não for operada dentro dos primeiros dois meses de vida ela perde a chance do tratamento clínico e cirúrgico”, ressaltou a coordenadora do corpo clínico do Hospital da Criança de Brasília (HCB), Elisa de Carvalho.

 

No HCB, onde funciona o único ambulatório pediátrico de doenças hepáticas do DF, metade das crianças encaminhadas para transplante hepático é portadora de atresia. “Como a icterícia é comum em bebês, esse é um sinal clínico que muitas vezes é negligenciado, pouco valorizado. Por isso, as crianças chegam tardiamente para os serviços especializados”, lamentou.

 

A atresia biliar é uma obstrução progressiva das vias biliares que pode levar à falência hepática e óbito caso não seja tratada, em geral antes dos 3 ou 4 anos. A doença afeta um em cada 15 mil bebês.

 

DIAGNÓSTICO – A icterícia ocorre quando a pele e o branco dos olhos (esclerótica) da criança ficam amarelados. A alteração se deve ao excesso de bilirrubina, pigmento de cor amarelada produzido normalmente pelo metabolismo das células no sangue. Quando o fígado não consegue metabolizar toda a quantidade do pigmento, a bilirrubina acumula no sangue.

 

A grande diferença da icterícia fisiológica do recém-nascido para a dos portadores de atresia biliar é a sua duração e a coloração das fezes e urina. Normalmente, um recém-nascido tem icterícia fisiológica até o 14º dia de vida. Já o bebê com atresia, além de ter icterícia por mais tempo, apresenta, também, fezes esbranquiçadas, a acolia ou hipocolia fecal, e urina escura, a colúria.

 

“Olhar a cor das fezes e da urina faz parte do exame clínico de criança ictérica”, ressaltou Elisa de Carvalho. “Se o pediatra não olha, passa despercebido. Isso atrasa o diagnóstico e aumenta a indicação de transplante hepático.”

 

A coordenadora de Neonatologia da Secretaria de Saúde, Marta Vieira, ressalta que os sintomas geralmente vão se manifestar com maior intensidade entre a segunda e a terceira semanas. “É por isso que nos 30 primeiros dias de vida é muito importante o acompanhamento médico com uma semana e antes do primeiro mês.”

 

O Núcleo de Saúde da Criança esclarece que o acompanhamento do recém-nascido pode ser realizado tanto por um pediatra quanto por um médico de família.

 

TRANSPLANTE – O diagnóstico tardio foi o que levou Ana Júlia Rocha Jesus, hoje com 13 anos, a precisar de transplante. Aos 2 meses e 18 dias de vida, a bebê teve acidente vascular cerebral (AVC). “Ela tinha o cocozinho claro e o xixi era tão amarelo que até manchava as roupas, mas como era meu primeiro filho, eu não tinha noção de que algo estava errado”, contou a mãe, Iracilda Rocha.

 

Depois do AVC, a menina foi atendida pela médica Elisa Carvalho e, mesmo antes de sair o resultado da biópsia para confirmar a atresia, os pais da criança optaram por levá-la a São Paulo. Lá, além de ser o centro de referência em Kasai, a cirurgia para curar a doença, também realizava o transplante intervivos (com doador vivo), inexistente em Brasília, na época.

 

A bebê foi submetida à cirurgia quando tinha 3 meses, idade limite para que a técnica tenha sucesso. O procedimento, no entanto, não deu certo. A menina teve uma série de complicações e não saía mais do hospital.

 

O transplante acabou sendo a única saída para a criança. Aos 8 meses, recebeu um terço do fígado materno. “Eu falo que a Ana Júlia tem dois nascimentos, dia 22 de junho, quando ela nasceu, e 25 de fevereiro, que foi quando ela renasceu”, brincou a mãe.

 

“A princípio eu não queria muito ser a doadora, porque ficava pensando em quem iria cuidar dela, porque a gente era muito apegada. Mas a gente não tinha mais tempo.”

 

A adolescente hoje esbanja saúde. Devido à recuperação da filha, a mãe é uma entusiasta do transplante intervivos. “Não acontece nada com o doador, só o incômodo mesmo da cirurgia”, disse Iracilda.

 

Na primeira consulta de Juan Carlos de Jesus Nascimento, o pediatra disse à mãe do bebê de um mês, Driele Nascimento Pereira, que o caso do menino poderia ser mais grave. “Ele estava muito amarelo, com fezes brancas”, contou Driele.

 

O diagnóstico veio poucos dias depois, no Hospital de Base, e o menino foi submetido à cirurgia Kasai com dois meses. Diferentemente do caso de Ana Júlia, a cirurgia de Juan Carlos deu certo e ele não precisou do transplante.

 

“Quanto mais cedo a criança for diagnosticada, mais chances tem de sobreviver com o próprio fígado”, ressaltou o gastroenterologista do HBDF José Tenório.

 

Atualmente, o menino só vai ao hospital para fazer acompanhamento e todos os exames vão apresentando resultados normais.

 

(C.C*)