05/11/2015 às 01:36

Revista local será vendida por 50 moradores de rua

Governador esteve no lançamento do projeto que contou com apoios de secretaria de Estado e da Lei de Incentivo à Cultura do DF

Por Amanda Martimon, da Agência Brasília


. Foto: Andre Borges/Agência Brasília

A partir de sexta-feira (6), a revista Traços começa a circular em Brasília, levada pelas mãos de 50 moradores de rua, chamados de porta-vozes da cultura no projeto selecionado pela Lei de Incentivo à Cultura do Distrito Federal. Os vendedores da publicação mensal foram escolhidos em parceria com a antiga Secretaria de Desenvolvimento Humano e Social, pasta que, na reforma administrativa, se uniu às Secretarias do Trabalho e do Empreendedorismo, e de Políticas para as Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos.

O governador Rodrigo Rollemberg participou do lançamento, acompanhado da esposa, Márcia Rollemberg, e do secretário de Cultura, Guilherme Reis, na noite desta quarta-feira (4), na área externa do Museu Nacional da República. “Esse trabalho vai mudar a vida de quem vende e de quem compra. As pessoas terão um novo olhar sobre a cultura de Brasília”, disse o chefe do Executivo, ao adquirir o primeiro exemplar, vendido pelo porta-voz Ricardo Bispo.

Com 23 anos, há cinco na rua, Bispo vê no projeto uma chance de voltar a ter uma moradia e de completar os estudos. “Vai abrir portas. Ainda estou fazendo o ensino médio, mas quero ter uma casa e fazer uma faculdade”, contou. Ele e os outros 49 vendedores foram selecionados dentre 73 inscritos, no Centro Especializado para População em Situação de Rua, na 903 Sul, serviço vinculado à secretaria parceira. Os demais aguardam uma nova oportunidade na fila de espera.

Geração de renda
Para começar a vender, cada um recebeu 30 exemplares, sem pagar pelos custos. A ideia é que, agora, com o dinheiro obtido nas primeiras vendas, eles consigam um ciclo de geração de renda. A partir daí, o exemplar custará R$ 1 aos moradores de rua, e a revista será comercializada por R$ 5 — os R$ 4 de lucro ficam para eles.

Para permanecer no projeto, é necessário seguir um código de conduta, publicado na primeira edição. Entre as regras está a proibição de consumo de bebida alcoólica, por exemplo, e da presença de crianças no ponto de venda.

Durante o mês de outubro, os vendedores passaram por capacitação que incluiu uma oficina de fotografia. Os trabalhos podem ser vistos na exposição Rua em Foco, no Museu da República. A mostra conta com recursos do Fundo de Apoio à Cultura do DF e faz parte de outro projeto, o Equinócios: Atividades em Comunidade, que busca, por meio da arte, resgatar o potencial das pessoas que vivem nas ruas.

Editor-chefe e idealizador, André Noblat destacou a importância do apoio governamental para executar o projeto planejado há dez anos. “A revista é a parte mais fácil, o importante é que seja uma ferramenta de inclusão social.” A capa do primeiro número traz o bandolinista Hamilton de Holanda, entrevistado especial. Há também matérias sobre ocupações culturais em locais públicos, bandas e artistas de Brasília e a história de um ex-morador de rua.

Patrocínio
A intenção dos que trouxeram a iniciativa para Brasília, inspirados em experiências semelhantes em outros 123 lugares do mundo, é expandi-la. Por enquanto, eles têm patrocínio para dez meses de trabalho. Por meio da Lei de Incentivo à Cultura do DF, até agora o periódico captou R$ 820 mil, mas está habilitado a arrecadar até R$ 1,2 milhão. Empresas interessadas podem investir a diferença restante. Quem patrocina ganha incentivos fiscais do governo, como abatimento de impostos.

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