26/06/2016 às 17:27, atualizado em 26/06/2016 às 23:43

Retomadas propostas de uso consciente de Águas Emendadas

Unidade de conservação deve ser um dos centros de divulgação de boas práticas agrícolas no contexto do 8º Fórum Mundial da Água

Por Maryna Lacerda, da Agência Brasília

A parceria entre o Instituto Brasília Ambiental (Ibram) e a Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (Adasa) para ampliar os projetos na Estação Ecológica de Águas Emendadas está sendo retomada. Representantes das duas instituições analisam a situação da unidade em visitas periódicas para entender os níveis de ameaça de degradação ambiental. A ideia é que Águas Emendadas se torne um centro de difusão de práticas agrícolas em harmonia com a preservação, como parte das atividades programadas para o 8º Fórum Mundial da Água, que ocorrerá em Brasília, em 2018.

Estação Ecológica de Águas Emendadas

A ideia é que Águas Emendadas se torne um centro de difusão de práticas agrícolas em harmonia com a preservação, como parte das atividades programadas para o 8º Fórum Mundial da Água. Foto: Tony Winston/Agência Brasília

Desde 2014, existe um acordo de cooperação técnica entre Ibram e Adasa para executar ações de proteção ambiental, pesquisa científica e educação no local. As medidas fazem parte do plano de manejo da unidade de conservação, documento obrigatório a todas as áreas de proteção estabelecidas no País. Até então, parte dos projetos vinha sendo executado de forma isolada. “Queremos alavancar o uso da estação ecológica, observando o cuidado com a conservação, visto que ela é uma área de proteção integral”, destaca a superintendente de Áreas Protegidas do Ibram, Tânia Brito.

A ideia é que sejam oferecidos cursos de capacitação dos produtores rurais que têm propriedades em torno da estação ecológica. Palestras, oficinas de estímulo à redução do uso de defensivos agrícolas e demonstrações de práticas alternativas de cultivo fazem parte do programa. “Queremos fazer o trabalho de conservação e mostrar que é possível ter atividade agrícola e lucro”, explica a analista de atividade de meio ambiente do Ibram Danielle Vieira Lopes. No atual estágio, o grupo de trabalho faz levantamento da quantidade de fazendas e chácaras nas imediações de Águas Emendadas e o tipo de atividade agrícola desenvolvida.

Além disso, a Adasa prepara um trabalho de monitoramento dos mananciais que afloram no perímetro da área de preservação. A proposta é avaliar a qualidade de águas para saber se ela tem sofrido influência das ameaças ambientais.

No atual estágio, o grupo de trabalho faz levantamento da quantidade de fazendas e chácaras nas imediações de Águas Emendadas e o tipo de atividade agrícola desenvolvida.

No atual estágio, o grupo de trabalho faz levantamento da quantidade de fazendas e chácaras nas imediações de Águas Emendadas e o tipo de atividade agrícola desenvolvida. Foto: Tony Winston/Agência Brasília

Uma ideia que também tem sido analisada pelo departamento técnico da instituição é a aplicação do programa Produtor de Água nas propriedades vizinhas à estação. “A exemplo do que ocorre no Núcleo Rural do Pipiripau, onde os produtores se dedicam à preservação das nascentes, estudamos a possibilidade de trazer um projeto semelhante para cá”, explica o gestor de projetos da Coordenação de Projetos Especiais da Adasa, Cláudio Odilon da Costa.

Os riscos de degradação ambiental em Águas Emendadas

A Estação Ecológica Águas Emendadas tem 10.547 hectares. Ela é cercada por propriedades rurais, a maioria de até 2 hectares, suscetíveis ao parcelamento irregular. “Águas Emendadas sofre intensa pressão urbana, seja pela expansão de Planaltina ou pelos constantes focos de parcelamento para criação de condomínios irregulares”, destaca Danielle. Alguns sintomas desse problema estão bastante evidentes. É o caso do assoreamento da Lagoa Bonita, que fica dentro da unidade.

No caso das grandes propriedades, o uso de herbicidas e outros insumos químicos acabam por contaminar a área protegida. Uma evidência é o desaparecimento de bromélias, apesar de se tratar de uma região bastante úmida. A proximidade com a BR-020, uma das vias mais movimentadas que cortam o Distrito Federal, completa o rol de ameaças impostas à unidade de conservação.

Por que o nome Águas Emendadas?

Águas Emendadas tem esse nome em razão de ser o ponto no qual nascem os afluentes de importantes bacias hidrográficas do continente: a Bacia do Paraná, que escorre para o Sul do País, e a Bacia Tocantins/Araguaia, que segue para o Norte. Em uma vereda de 6 quilômetros, em terreno plano, a água aflora em diversos pontos até formar os córregos Brejinho, origem da Bacia do Paraná, e Vereda Grande, ponto de partida da Bacia Tocantins/Araguaia.

Águas Emendadas tem esse nome em razão de ser o ponto no qual nascem os afluentes de importantes bacias hidrográficas do continente.

Águas Emendadas tem esse nome em razão de ser o ponto no qual nascem os afluentes de importantes bacias hidrográficas do continente. Foto: Tony Winston/Agência Brasília

Os primeiros registros de Águas Emendadas remontam aos tempos dos bandeirantes, no século 18. Ali era um ponto de descanso e abastecimento de quem seguia para o interior profundo do Brasil. Com o passar do tempo, a região se consagrou como Mestre D’Armas, por causa de um ferreiro com habilidade em conserto de armas de fogo que se fixou na área. O local também foi citado pelo relatório da Comissão Exploradora do Planalto Central, chefiada por Luís Cruls. A proximidade com o ponto de divisão das duas bacias foi considerada fator importante para estabelecimento de uma nova capital.

Em 1967, com Brasília devidamente criada, um grupo de botânicos liderados por Ezechias Heringer, conheceu o local e percebeu a necessidade de ampliar a proteção da área. Em 1968, o Decreto nº 771, do então prefeito Wadjô da Costa Gomide, estabeleceu a Reserva Biológica de Águas Emendadas. Em 1988, o Decreto do Executivo local nº 11.137, de 16 de junho de 1988, elevou Águas Emendadas à condição de estação ecológica.

Edição: Paula Oliveira