15/11/2016 às 09:25, atualizado em 16/11/2016 às 09:35

Paradas do Cruzeiro são revitalizadas com imagens da história e cultura da região

Ação é feita em parceria da administração com moradores e o comércio local. Ao todo, 20 pontos de ônibus recebem embelezamento com trabalhos artísticos

Por Jade Abreu, da Agência Brasília

As paradas de ônibus do Cruzeiro estão ficando de cara nova. O que antes estava descascado e com a pintura desbotada tem sido restaurado. O novo visual estampa, em forma de arte, a história da região administrativa, que desde 1959 abriga moradores.

Na oitava parada de ônibus, Vivi representou o grupo Arco-Íris, uma associação de combate à Aids com sede no Cruzeiro desde 1990

Na oitava parada de ônibus, Vivi representou o grupo Arco-Íris, uma associação de combate à Aids com sede no Cruzeiro desde 1990. Foto: Tony Winston/Agência Brasília

Fazem parte da nova decoração, por exemplo, momentos marcantes da escola de samba Aruc (Associação Recreativa Unidos do Cruzeiro), orgulho da comunidade. Está também retratado o grupo Pellinsky, que reforça a cultura amazonense em atividades infantis.

Com mãos cobertas de tinta, a designer Vivi Dourado, de 42 anos, marca a lápis os traços que serão coloridos. “Eu quero levar uma mensagem positiva de que o que é feio pode ficar bonito”, diz. Moradora do Cruzeiro, ela conta que desejava revitalizar as paradas desde 2014, mas o projeto só começou em outubro deste ano.

[Olho texto=”Eu quero levar uma mensagem positiva de que o que é feio pode ficar bonito” assinatura=”Vivi Dourado, designer e moradora do Cruzeiro” esquerda_direita_centro=”direita”]

Um dia antes de a artista começar a esboçar sua pintura, a administração prepara o ponto de ônibus e coloca massa corrida para nivelar parte da estrutura. As tintas e os materiais são doados por comerciantes locais que incentivam a ação. “É como uma tela em branco”, afirma.

Vivi integra o Portal do Voluntariado — uma iniciativa do governo, que cruza informações de quem tem vontade de colaborar em atividades sociais com as de organizações que desenvolvem esse tipo de trabalho.

Ao todo, são 20 paradas que estão sendo revitalizadas. Até o momento, Vivi pintou oito. “Cada uma tem um formato diferente. Às vezes a gente tem que adaptar o desenho que tinha planejado para caber em um novo formato”, explica.

O tempo da pintura varia para cada imagem. A média é de quatro horas. No entanto, a designer afirma ter passado 12 horas em um ponto de ônibus. O trabalho pode ser acompanhado pela hashtag #CruzeiroArteNaParada.

Pinturas reproduzem histórias da cidade

Paradas do Cruzeiro são revitalizadas com imagens da história e cultura da região

Foto: Tony Winston/Agência Brasília

Na oitava parada de ônibus, Vivi representou o grupo Arco-Íris, uma associação de combate à Aids com sede no Cruzeiro desde 1990. É uma organização não governamental que acolhe soropositivos e presta assistência e conselho de saúde aos portadores do vírus HIV.

Morador da região administrativa há 52 anos, Marcelo Coutinho diz acompanhar o trabalho da artista. “É muito lindo, fico vendo mudar a cara das paradas.” Ao passar pela oitava pintura, Coutinho puxa a memória: “eu vi a construção dessa parada. Ela já estava tão velhinha”.

A curiosidade dos residentes do Cruzeiro é comum, segundo Vivi. A comunidade para, assiste, dá palpite, elogia e oferece café. “Já almocei na casa de uma moradora que parou para ver a pintura”, lembra a artista.

[Olho texto=”As pinturas reforçam movimentos culturais e sociais para que outros moradores tenham mais orgulho” assinatura=”Reginaldo Sardinha, administrador regional do Cruzeiro” esquerda_direita_centro=”esquerda”]

Ela também já pintou a Igreja de Nossa Senhora da Dores e a Aruc, que representa o berço do samba na cultura brasiliense. O espaço foi desenvolvido pelos primeiros moradores da região, servidores públicos cariocas na maioria, transferidos do Rio com a mudança da capital brasileira para Brasília.

A revitalização das paradas surgiu da articulação do administrador do Cruzeiro, Reginaldo Sardinha, com a artista e comerciantes em torno da parceria. “Era uma forma de melhorar a região sem aumentar as despesas. As pinturas também reforçam movimentos culturais e sociais para que outros moradores tenham mais orgulho”, afirma.

Edição: Vannildo Mendes