03/08/2017 às 08:56, atualizado em 03/08/2017 às 11:08

Mais de 5,3 mil animais silvestres foram atropelados no DF em cinco anos

Levantamento do Ibram, de 2010 a 2015, mostrou que rodovias duplicadas, como a BR-020, e vias próximo a unidades de conservação de proteção integral são as que mais registram esse tipo de acidente

Por Maryna Lacerda, da Agência Brasília

Pássaros de pequeno porte, sapos e cobras são as espécies mais atropeladas nas vias do Distrito Federal. Levantamento divulgado pelo Instituto Brasília Ambiental (Ibram) aponta que, de abril de 2010 a março de 2015, 5.355 animais foram atingidos por veículos — em quase todas as ocorrências, eles não sobrevivem.

A maioria dos atropelamentos ocorre em rodovias duplicadas como a BR-020.

A maioria dos atropelamentos ocorre em rodovias duplicadas, como a BR-020. Foto: Tony Winston/Agência Brasília

Os acidentes mostram-se mais comuns em rodovias duplicadas e nas imediações de unidades de conservação de proteção integral.

São os casos da DF-205, nos arredores da Reserva Biológica da Contagem (próximo à Fercal), e da DF-131, estrada que margeia a Estação Ecológica de Águas Emendadas, em Planaltina. Ambas as vias se destacaram no mapeamento, para o qual foram percorridos 55.176 quilômetros.

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“Percebemos que os atropelamentos ocorrem com mais frequência em locais onde há maior tráfego e onde o espaço para o animal percorrer é maior”, explica Rodrigo Santos, biólogo e analista de Atividades de Meio Ambiente, do Ibram.

Trechos no Programa de Assentamento do Distrito Federal (PAD-DF) e na Área de Proteção Ambiental (APA) da Cafuringa, na região da Bacia de Santa Maria, também têm muitos registros de acidentes. Além delas, a BR-020, em Planaltina, apresenta muitas ocorrências dessa natureza.

A pesquisa foi feita no âmbito do Projeto Rodofauna, do Ibram, e resultou na tese do doutorado de Santos para o curso de Ecologia da Universidade de Brasília (UnB).

O balanço deu origem a mapas de incidência de atropelamentos, material que pode embasar campanhas de conscientização da população a respeito dos cuidados com a fauna.

A velocidade desenvolvida pelos veículos é fator significativo na mortandade. “O atropelamento é um impacto maior que o tráfico para a fauna. Isso porque perdemos o animal, não existe possibilidade de retorno ao meio ambiente”, afirma o analista do Ibram.

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Em cinco anos de levantamento, somente três animais foram encontrados ainda com vida pelas equipes de pesquisadores. No entanto, eles morreram a caminho do Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas-DF), do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

Veículos de grande porte causam impacto na fauna

Além de atropelamentos, carros e caminhões também podem matar a fauna com rajadas de vento. Espécies de pequeno porte, como o Volatinia jacarina, popularmente conhecido como tiziu, morrem com o impacto do vento.

“O tiziu fica na margem da pista, se alimentando de grãos que caem de carregamentos. Só o deslocamento de ar causado pelo caminhão pode matá-lo”, explica Rodrigo Santos.

O levantamento encontrou 1.221 indivíduos da espécie atropelados no período. O tiziu é um pássaro pequeno de natureza migratória. Ele vem para o Planalto Central para se reproduzir.

Outras espécies atingidas com frequência
Sapo-cururu (Rhinella schneideri) 190
Coruja-buraqueira (Athene cunicularia) 114
Cobra-de-duas-cabeças (Amphisbaena alba) 103
Cascavel (Caudisona durissa) 94
Cachorro-do-mato (Cerdocyn thous) 79
Anu-preto (Crotophaga ani) 63
Tesourinha (Tyrannus savana) 61
Saruê (Didelphis albiventris) 61
Jiboia (Boa constrictor) 58
Suindara (Tyto furcata) 56
Fonte: Instituto Brasília Ambiental (Ibram)

Atropelamentos intencionais são comuns

Há casos em que os animais sofrem atropelamentos de forma intencional, seja por superstição ou por aversão à espécie. Cobras são vítimas comuns desses motivos.

“Percebemos a intencionalidade ao encontrarmos uma cobra morta no acostamento. Às vezes, vemos até marcas de pneus no asfalto, o que mostra que o condutor saiu da pista para atingi-la”, conta Santos.

A atitude, no entanto, provoca perda severa à biodiversidade da região. Por isso, os motoristas devem evitar esse hábito. “O trabalho principal é a sensibilização dos condutores”, defende o biológo do Ibram.

A sinalização é instalada em áreas onde é comum a travessia de animais.

A sinalização é instalada em áreas onde é comum a travessia de animais. Foto: Tony Winston/Agência Brasília

Um dos cuidados fundamentais para evitar atropelamentos é não jogar alimentos na estrada. Isso porque restos de comida são um dos atrativos dos bichos para a pista.

Outra dica é estar atento à placa de travessia de animais. “As placas são colocadas justamente em locais de passagem de fauna, como corredores ecológicos. Ao avistá-las, a recomendação é reduzir a velocidade”, orienta o servidor do Ibram.

Ao encontrar um animal silvestre atropelado com vida, pode-se acionar o Batalhão de Polícia Militar Ambiental (BPMA), capacitado a fazer resgates. Os telefones para contato são a Central 190 e o canal direto de comunicação com o batalhão, pelo celular (61) 99351-5736.

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Edição: Raquel Flores