21/09/2017 às 09:18, atualizado em 21/09/2017 às 09:23

Alunos do ensino médio iniciam curso técnico de conservação e restauro

Por um ano, os adolescentes serão capacitados em aulas ministradas no Museu Vivo da Memória Candanga. Iniciativa inédita integra programa Cultura Educa

Por Gabriela Moll, da Agência Brasília

Mais que um espaço de preservação da história e de homenagem aos pioneiros da construção de Brasília, o Museu Vivo da Memória Candanga, no Núcleo Bandeirante, agora também é um equipamento de formação técnica.

Por um ano, os adolescentes serão capacitados em aulas ministradas no Museu Vivo da Memória Candanga. Iniciativa inédita integra programa Cultura Educa.

Por um ano, os adolescentes serão capacitados em aulas ministradas no Museu Vivo da Memória Candanga. Iniciativa inédita integra programa Cultura Educa. Foto: Pedro Ventura/Agência Brasília

A partir desta quinta-feira (21), o local recebe estudantes do ensino médio da rede pública matriculados no curso técnico em conservação e restauro.

Ministrada nas dependências do museu, a profissionalização é voltada para o entendimento sobre conservação de documentos, noções de arquivamento e de restauro de obras de arte e preservação do patrimônio.

A diretora do local, Rosane Stuckert, disse estar honrada em ter recebido os estudantes durante a aula inaugural do curso, na quarta-feira (20). “Esse é um laboratório vivo de preservação do nosso patrimônio. Somos responsáveis por transmitir esse legado às gerações futuras.”

[Olho texto='”Esse é um laboratório vivo de preservação do nosso patrimônio. Somos responsáveis por transmitir esse legado às gerações futuras”‘ assinatura=”Rosane Stuckert, diretora do Museu Vivo da Memória Candanga” esquerda_direita_centro=”esquerda”]

A iniciativa inédita faz parte do MedioTec, modalidade do Pronatec para adolescentes oferecida em concomitância ao ensino médio regular. O projeto é viabilizado pelo governo federal, mas executado em parceria entre as Secretarias de Educação e de Cultura, por meio do programa Cultura Educa.

Para a estudante Melissa Mendes, do 2º ano do Centro Educacional Gisno, de 16 anos, o interesse pelo curso veio acompanhado da identificação com os livros e as disciplinas de humanas. “Não tinha vontade de fazer cursos que normalmente são oferecidos, e esse me chamou a atenção”, conta.

Moradora da Cidade Ocidental (GO), no Entorno, a jovem é uma das 13 matriculadas na turma que começou nesta semana. “O patrimônio é onde nasce nossa história, por isso é importante conhecer e preservar”, atesta a futura técnica em conservação e restauro.

Depois de assistir a um filme histórico de 16 minutos, os jovens seguiram para a galeria principal, onde fica a exposição permanente Poeira, Lona e Concreto.

A visitação, guiada pelo funcionário do museu Ronaldo Medeiros, narra a história de Brasília por meio de fotos, objetos e ambientações fidedignas de lugares como o Brasília Palace Hotel e o Hospital Juscelino Kubitschek de Oliveira.

Edenilson Lemes, de 16 anos, aluno do 1º ano do Centro de Ensino Médio Júlia Kubitschek, na Candangolândia, foi influenciado a fazer a disciplina pela região administrativa onde mora. “Minha vó veio da Paraíba e sempre me contou sobre o local, conhecido como Lonalândia na época dos acampamentos dos candangos”, ensina.

[Olho texto='”Brasília é uma cidade histórica e singular pela pluralidade de pessoas que vieram para cᔑ assinatura=”Edenilson Lemes, estudante do Centro de Ensino Médio Júlia Kubitschek, na Candangolândia” esquerda_direita_centro=”direita”]

“Brasília é uma cidade histórica e singular justamente pela pluralidade de pessoas que vieram para cá”, define o adolescente, que conta ter sido instigado a se inscrever na formação para entender melhor sobre a identidade local. “Também sou muito ligado nas artes, escrevo poesia, faço teatro, gosto de filosofia”, elenca.

Os estudantes também aproveitaram para conhecer a Casa do Mestre Popular, espaço que guarda o acervo do artista maranhense radicado em Brasília Mestre Pedro (1920-2005), autor de esculturas ligadas ao Cerrado.

Especialista em conservação e restauro, a bibliotecária Neide Aparecida Gomes será um dos quatro professores da turma de secundaristas. “Temos que ter um olhar de responsabilidade sobre o que é o nosso patrimônio, seja ele material, imaterial, afetivo”, avalia.

De acordo com a docente, a importância da formação está não só na necessidade de qualificar a mão de obra especializada para o mercado de trabalho, mas também de garantir ensinamentos multidisciplinares.

“Para conservar, precisamos entender de química com os produtos que usamos e com a ação do tempo; de biologia, para sabermos quais insetos comem os livros, por exemplo; e sobre o clima e o meio ambiente”, aposta.

Fazeres artísticos estimulados em cursos técnicos

Transitar por outros espaços é fundamental para a formação dos estudantes, como explica a professora Fernanda Marsaro, coordenadora de Políticas Educacionais para Juventude e Adultos, da Subsecretaria de Educação Básica.

“Acreditamos que a aprendizagem deve transcender à sala de aula, com ensinamentos mais atrativos e significativos”, acrescenta ela, sobre a oferta de cursos técnicos em modalidades que abrangem fazeres artísticos.

Em 2017, também foram iniciados os cursos de técnico em teatro, com 30 alunos, e em artes circenses, com 25, ambos ministrados na Faculdade de Artes Dulcina de Moraes, no Plano Piloto.

[Numeralha titulo_grande=”1,7 mil” texto=”Total de alunos matriculados nos cursos do MedioTec em 2017″ esquerda_direita_centro=”esquerda”]

Com o objetivo de atrair os adolescentes para o campo da arte em ambientes práticos, outros equipamentos públicos culturais serviriam de palco para a parceria entre as secretarias pelo Cultura Educa.

Na inscrição do MedioTec em agosto foram ofertadas 20 vagas para o curso de técnico em canto, na Casa do Cantador, em Ceilândia, e outras 19 para o de técnico em dança, no Centro de Dança, no Plano Piloto.

Mesmo assim, os cursos não tiveram demanda para fechar turmas. De acordo com a servidora, é prioridade da pasta estimular o interesse dos estudantes nas formações e estender as parcerias para que os cursos possam melhor atender a comunidade.

Só em 2017, de acordo com a pasta de Educação, foram matriculados 1,7 mil estudantes em cursos técnicos e outros cerca de 7 mil em cursos de formação inicial e continuada, de menor carga horária.

Há oportunidades em áreas como computação, informática, vestuário e moda, enfermagem, nutrição e programação de jogos digitais. Além de unidades de ensino, figuram entre os locais das aulas a Biblioteca Nacional, o Hospital das Forças Armadas e organizações não governamentais (ONGs).

Ainda há vagas para o curso técnico

Como a oferta não foi atendida, a Secretaria de Educação oferecerá mais dez vagas para estudantes que ainda queiram iniciar o curso de técnico em conservação e restauro no Museu Vivo da Memória Candanga.

Os interessados devem comparecer à Coordenação do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), na sede da Secretaria de Educação (Setor Bancário Norte, Quadra 2, Bloco C, Edifício Phenícia), das 9 horas ao meio-dia e das 14 às 17 horas. É preciso levar os documentos pessoais e a declaração de escolaridade.

Como ajuda de custo, os matriculados ganharão R$ 2 por hora-aula assistida — ou seja, com comprovação de frequência. Eles terão ainda o direito de requerer o Passe Livre.

Museu Vivo da Memória Candanga

Localizada na antiga Cidade Livre, a instalação que atualmente abriga o Museu Vivo da Memória Candanga (veja vídeo gravado em 2015) foi ocupada em 1957. Lá, funcionava o Hospital Juscelino Kubitschek de Oliveira, erguido em 60 dias para atender operários na época.

Atualmente, o local é considerado o maior sítio de conservação do período da construção de Brasília, com 184 mil metros quadrados de área.

Funcionamento do Museu Vivo da Memória Candanga

Na Epia Sul, Lote D, Núcleo Bandeirante

De segunda a sábado

Das 9 às 17 horas

Entrada gratuita

Telefone: (61) 3301-3590

Edição: Vannildo Mendes