06/05/2019 às 18:21, atualizado em 07/05/2019 às 09:26

Fábrica de concreto da Novacap é reativada com ajuda de 15 detentos

Só de meio-fio, o carro-chefe na fabricação, a média diária é 200 a 280 peças. Às vezes mais

Por Lúcio Flávio, da Agência Brasília

É como se fosse uma colmeia, com cada função bem delineada e definida diariamente. Só que, ao invés de favos de mel, são tijolos, blocos de cimento, placas pré-moldadas, tampas de boca de lobo, lajes, bancos e mesas de praças. Assim vem funcionando, a todo vapor, a fábrica de concreto da Novacap, reaberta recentemente, após período de restruturação. O ritmo de trabalho é intenso e marcado pelas demandas vindas de todas as administrações regionais do DF. Só de meio-fio, o carro-chefe na fabricação, a média diária é 200 a 280 peças. Às vezes mais.

“Atendemos todas as RAs. Essa semana recebemos dois pedidos grandes, 400 meios-fios para a UPA de Ceilândia e, depois que asfaltamos três ruas em Planaltina, mais 500”, conta Célio Gomes, responsável pelo espaço. “Grande parte da matéria-prima do que fabricamos vem de sobra de obras, ou seja, reciclamos esse material e transformamos em benefício para a sociedade”, detalha.

O funcionamento, de segunda a sexta, dessa pequena indústria de manufatura tem a parceria da Fundação de Amparo ao Trabalhador Preso (Funap). São de 13 a 15 internos voluntários do regime semiaberto do Centro de Progressão Penitenciária (CPP) que entram com a mão de obra. Em troca recebem redução na pena. Trabalham 3 dias e reduzem 1 na condenação.

“É uma mão de obra excelente. Sem eles, não conseguiríamos atender nossa demanda, até porque temos uma equipe reduzida”, agradece, Célio, há mais de 20 anos à frente da fábrica. “Eles trabalham orientados o tempo todo por dois funcionários experientes da Novacap”, detalha.

Ressocialização

Prestes a ganhar um contrato remunerado pela Novacap, L. B., 24 anos, há três meses é voluntário do projeto. Preso por assalto, o jovem detento agora acredita no trabalho como dignificação do homem. Sobretudo porque, como reeducando – como esses internos são conhecidos no meio judiciário – ele teve a chance não apenas de aprender uma profissão, mas refletir sobre os atos errados que cometeu.

“Além de ajudar na nossa ressocialização, dá oportunidade de emprego. Eu mesmo, antes de vir para cá não sabia nenhum trabalho, tudo que sei aprendi com a experiência que ganhei aqui”, revela. “Sem falar que é uma forma de compensar o mal que fizemos um dia para a sociedade”, diz.

Já C. C. S., 32 anos, um dos 100 voluntários do Centro de Progressão Penitenciária (CPP) acredita que ter o trabalho reconhecido depois de anos dedicados ao crime, é prêmio. “É como se fosse uma recompensa que ganhamos por querer fazer o bem para à sociedade”, compara.

E, como em toda colmeia o papel de cada um é fundamental, os agentes penitenciários que escoltam os detentos, das 8h30 às 15h30, tem sua parcela de importância em todo esse processo. Mais do que meros vigilantes, além de fundamentais na segurança do local para onde os voluntários do CPP são designados, esses servidores da justiça são parceiros diários dos internos na luta rumo à ressocialização.

“Cada preso sabe o que fazer sob nossa orientação, mas nosso trabalho vai além da escolta e da garantia de segurança da sociedade e dos presos. Não é só um trabalho de fiscal, mas também de solidariedade porque queremos que todos voltem ressocializados”, torce o agente Paulo Marcelo Calixto.