23/01/2020 às 10:00, atualizado em 12/04/2024 às 16:43

Museu Histórico de Brasília: relicário da nova capital 

Na Praça dos Três Poderes, museu-monumento guarda uma narrativa que mistura dados históricos, culturais e urbanísticos sobre a interiorização da capital desde a colônia 

Por Jéssica Antunes, da Agência Brasília 

Rafael Rangel, gerente do Complexo Cultural Três Poderes. “A nova geração de brasilienses se sente representada e os brasileiros, de todos os cantos do país, podem entender o processo de interiorização da capital, executado por JK.”. Foto: Acácio Pinheiro/Agência Brasília

As letras gravadas em baixo relevo em placas de mármore branco são história escrita e esculpida no centro do país. É em um monumento erguido na Praça dos Três Poderes e inaugurado junto com Brasília que o processo de interiorização da capital é contado, de forma permanente, para nunca ser esquecido. O Museu Histórico de Brasília é o relicário da nova capital, e mistura dados históricos, culturais e urbanísticos do processo que trouxe a sede brasileira para o cerrado. 

O museu-monumento foi criado por Oscar Niemeyer para eternizar a construção de Brasília. O projeto data de 1958, mesmo ano de construções como o Palácio do Planalto, o Congresso Nacional, o Supremo Tribunal Federal, a Catedral e o Teatro Nacional. O edifício é sustentado por um par de vigas que forma um bloco de concreto de 35 metros de comprimento e cinco de largura, apoiado em uma estrutura que abriga a escada que leva ao vão com inscrições nas paredes.  

Ele tem revestimento em mármore branco de Cachoeiro do Itapemirim (ES). O principal acervo é a escultura de 1,5 tonelada da cabeça de Juscelino Kubitschek feita em pedra-sabão por José Alves Pedrosa, os três textos esculpidos nas fachadas e os 16 gravados na sala interna, todas em fonte conhecida como Garamond, cravadas na rocha. As obras foram feitas de agosto de 1959 a abril de 1960. 

Interiorização

Na fachada oeste, há a cronologia do processo de interiorização da capital entre 1789 e 1960. Nela, estão destacadas datas importantes, como 2 de abril de 1956, quando o presidente JK visita o local escolhido e determina as providências para o início das construções. A obra foi tombada pelo Governo do Distrito Federal em 1982 e pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 2007. 

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No livro Por que construí Brasília, Juscelino Kubitschek descreveu a inauguração do museu-monumento. “À uma hora da tarde, encerrei o programa das solenidades daquela histórica manhã, inaugurando o marco que assinalava o nascimento de Brasília como capital da República”, relatou. 

Tratando como um “bloco de concreto vestido de mármore”, o presidente enalteceu o repositório de opiniões, emitidas por diversas personalidades, sobre a nova capital. “Ao monumento se incorporou, por iniciativa da generosidade de meus amigos, uma escultura, em granito, da minha cabeça”, relatou. Ele é considerado o primeiro museu da capital. 

Representatividade 

“Quando idealizado, o objetivo era criar um espaço de memória que guardasse essa transição da capital para as pessoas não esquecerem da história com o passar dos anos”, esclarece o gerente do Centro Cultural Três Poderes, Rafael Rangel. Por isso, os textos relatam as ideias de trazer a sede do país para o centro geográfico. 

Há, por exemplo, passagens de Marquês de Pombal e dos Inconfidentes Mineiros, além de várias aparições nas Constituições Brasileiras desde o Império. Por fim, JK, Oscar Niemeyer e Lúcio Costa também assinam textos com as próprias experiências.

[Olho texto=”Quando idealizado, o objetivo era criar um espaço de memória que guardasse essa transição da capital para as pessoas não esquecerem da história com o passar dos anos” assinatura=”Rafael Rangel, gerente do Centro Cultural Três Poderes” esquerda_direita_centro=”esquerda”]

“[O museu] é importante pelo marco. Até quem é de Brasília vê a história dos pais, dos avós, que ajudaram a construir a cidade. A nova geração de brasilienses se sente representada – por ver a história dos pais e avós, conhecidos que ajudaram a construir a cidade – e os brasileiros, de todos os cantos do país, podem entender o processo de interiorização da capital, executado pelo JK”, entende Rangel. 

É a curiosidade de quem passa por um dos principais pontos turísticos da capital que leva as pessoas a subirem as escadas que conduzem à coletânea de textos. Os vigilantes que trabalham no local também ajudam ao estimular a entrar quem pensa que o espaço é apenas um monumento. No caderno que marca presença, há nomes de diversas partes do país. 

Na cidade, a família do engenheiro agrônomo Mário Pedro Seber Júnior, 50 anos, não tinha o Museu Histórico de Brasília no roteiro de passeios, porém passou parte da programação conhecendo mais da história da capital. Paulistas morando no Pará, eles estavam de passagem por Brasília e, apesar de não ser a primeira vez no DF, nunca tinham entrado ali. 

Família do agrônomo Mario Pedro Seber incluiu o Museu Histórico de Brasília em seu roteiro pela capital. Foto: Acácio Pinheiro/Agência Brasília

“Eu sabia que existia um motivo para a capital vir para cá, que não foi uma loucura de JK. Já contei para ele [o filho Thomas, 12 anos], que não teria nada no Centro-Oeste se Brasília não existisse”, disse Mário Pedro. Professora, a esposa Eliane Seber, 45 anos, acredita que o museu “cumpre o objetivo de contar a história, o que é ainda mais importante para a juventude”.

O espaço é de responsabilidade da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do DF (Secec) e é parte integrante do Centro Cultural Três Poderes. Em 2019, mais de 29 mil pessoas passaram por lá. A média mensal foi de 2.450 visitantes por mês, ou 80 por dia. A limpeza e conservação é feita por empresa terceirizada contratada pelo governo. Para este ano, há um projeto de revitalização tipográfica e estrutural. A exposição Interiorização da Capital é permanente e tem inscrições transcritas em braile e inglês, com previsão de ampliar a versatilidade.