14/03/2020 às 10:03, atualizado em 16/03/2020 às 11:50

Família acolhedora: aqui sempre cabe mais um

Programa da Secretaria de Desenvolvimento Social permite que crianças em situação vulnerável tenham um lar temporário enquanto aguardam a adoção ou a reintegração familiar

Por Ary Filgueira

Roberto e Camila Pojo com a pequena Fernanda*: bebê passa uma temporada com o casal enquanto seu processo de adoção por uma tia corre na Justiça | Fotos: Renato Alves / Agência Brasília

Roberto, 46 anos, e Camila Pojo, 32, são casados há seis anos. Moradores de Águas Claras, eles planejam aumentar a família em breve. Camila diz que pretende ter dois filhos. Roberto assente com a cabeça e acrescenta: “Vamos adotar mais dois”. Ao que a mulher responde com um sorriso. O sonho de serem pai e mãe teve de esperar um pouco porque Camila quer tomar posse do cargo público para o qual foi aprovada em um concurso.

Enquanto essa combinação não ocorre, o casal de Águas Claras faz uma espécie de intensivão. Os dois recebem e cuidam de crianças em processo de adoção ou de reintegração à família de origem – termo que a diretora do Programa Família Acolhedora, da Secretaria de Desenvolvimento Social (Sedes), Daura Carolina Meneses, considera inapropriado. “Família substituta é melhor”, corrige ela.

O Família Acolhedora possibilita aos casais cuidarem temporariamente de crianças de zero a seis anos que se encontrem em situação vulnerável. Pioneiro no Distrito Federal, o projeto busca pessoas que tenham interesse em se candidatar a essa missão.

Reintegração familiar

O acolhimento familiar é uma das medidas de proteção previstas em caso de direitos violados ou ameaçados – seja por ação, seja por omissão do Estado, dos pais ou responsáveis ou pela própria conduta. A medida está prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e difere da adoção por ser temporária. O objetivo é a reintegração familiar ou o encaminhamento para família substituta.

O programa já existe há um ano no Distrito Federal e conta com a adesão de 11 famílias acolhedoras. Quem quiser cuidar dessas crianças durante a transição para um lar definitivo deve participar da palestra sobre o Serviço de Acolhimento Familiar que ocorrerá neste sábado (14), na Universidade Paulista (Unip), das 9h30 às 12h. O tema é “Família Acolhedora: cuidado e afeto promovendo os direitos das crianças”.

Após a apresentação, as famílias interessadas em receber esses pequeninos serão submetidas a uma avaliação por técnicos da Aconchego, uma Organização da Sociedade Civil (OSC), que tem parceria com a Sedes. “Os especialistas fazem uma triagem das famílias interessadas”, explica Daura. “Eles visitam a casa delas para saber se têm condição de cuidar das crianças”.

[Olho texto=”“Essas famílias são um espaço importante para as crianças que aguardam uma solução definitiva, pois, por algum motivo, não podem retornar à família de origem” ” assinatura=”Daura Carolina Meneses, diretora do programa Família Acolhedora, da Sedes” esquerda_direita_centro=”direita”]

As famílias acolhedoras selecionadas passam a receber uma bolsa no valor de R$ 456,50, para ajudar nos custos com alimentação e outras despesas. “Essas famílias são um espaço importante para as crianças que aguardam uma solução definitiva, pois, por algum motivo, não podem retornar à família de origem”, relata a diretora.

Acolhimento temporário

Roberto e Camila acolheram dois bebês. O primeiro tinha cinco dias e ficou três meses na casa deles. Saiu de lá direto para a casa de outra família que também reside em Águas Claras. Foi um desejo da mãe biológica. “Bom que é aqui perto, dá até para a gente visitar”, resigna-se Camila.

Desde janeiro, o casal está com a pequena Fernanda*, que passou a fazer parte da família por meio da guarda temporária. O bebê chegou ao lar provisório com oito dias de nascido e ficará por pouco tempo na nova casa. Falta somente concluir os trâmites burocráticos para Fernanda* se mudar em definitivo para Ceilândia, onde vai morar com uma tia que manifestou interesse em obter a guarda definitiva da pequena.

A tarefa de desapego dos pequenos não é nada fácil. Mesmo com pouco tempo de convívio, o afeto é estabelecido imediatamente. Ainda assim, Roberto e Camila não desistem de viver o que classificam como uma experiência inexplicável. “Sabemos que o nosso papel é transitório, de fazer com que essa criança tenha amor e carinho enquanto estiver conosco”, descreve Roberto. Assim que puder adotar os bebês que pretende integrar à sua família, ele sabe que não mais precisará vê-los indo embora.

*Nome fictício para preservar a identidade

Palestra pública: Cuidado e afeto promovendo os direitos das crianças
Data: Dia 14 (sábado).
Horário: das 9h30 às 12h.
Local: Unip – 913 Sul.