30/03/2020 às 13:00, atualizado em 30/03/2020 às 18:02

Nicolas Behr: um poeta e sua musa

Autor de sete livros sobre a capital (o oitavo está em gestação), defende que a cidade é a maior realização coletiva do povo brasileiro. “Brasília é minha obsessão.”

Por Agência Brasília*

[Numeralha titulo_grande=”22″ texto=”dias para os 60 anos de Brasília” esquerda_direita_centro=”centro”]

Em homenagem à capital federal, formada por gente de todos os cantos, a Agência Brasília está publicando, diariamente, até 21 de abril, depoimentos de pessoas que declaram seu amor à cidade.

 

Foto: Paulo H. de Carvalho/Agência Brasília

Nicolas Behr deseja que as pessoas tenham mais amor pela cidade e estudem mais sobre sua criação. “Se elas conhecessem um pouco mais da história de Brasília valorizariam esse patrimônio”, fala | Foto: Paulo H Carvalho / Agência Brasília

 

“A última coisa que quero fazer em Brasília é morrer. Essa cidade me inspira. Eu tive a sorte de chegar aqui e a cidade ser (ainda é um pouco), uma folha em branco. Quase não tem tradição poética ou literária aqui. Se escreve pouco sobre Brasília, que é uma cidade instigante, que provoca. Brasília é minha obsessão. Eu já escrevi sete livros sobre Brasília, tô indo pro oitavo. Eu adoro Brasília.

Brasília abriu um leque de oportunidades muito grande para minha família e eu agradeço sempre à minha mãe por ela ter tido a ideia de se mudar para cá. Cheguei em Brasília em 1974, a cidade tinha 14 anos e eu também. Meus pais são alemães, nasci em Cuiabá, mas imigramos para cá porque minha mãe queria mais oportunidades. Ela fala inglês, alemão, polonês, veio trabalhar nas embaixadas, meu pai também falava outras línguas e veio trabalhar com tradução e com turismo.

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Quando cheguei, Brasília era muito pequena ainda. Foi um choque sair do mato e cair na maquete. Brasília era uma cidade artificial. Naturalmente tornou-se essa Brasília que temos hoje: orgânica, viva. O tempo, a arborização, a arte, as pessoas humanizaram a maquete. Brasília hoje é uma cidade que tem uma vida própria, muito dinâmica principalmente na parte artística.

Desejo que as pessoas tenham mais amor por Brasília e estudem mais sobre a criação da cidade. Porque a gente só ama o que conhece. Eu acho que se as pessoas conhecessem um pouco mais da história de Brasília valorizariam esse patrimônio que temos.

Isso aqui é a grande epopeia brasileira do século XX. Todos devem conhecer o esforço heroico que foi construir uma cidade no meio do Cerrado. Brasília é a maior realização coletiva do povo brasileiro, que nunca fez nada tão criativo e ousado.

Eu espero que a gente tenha também ousadia para enfrentar problemas que estamos enfrentando, como a mobilidade. E não só o governo, nós também somos responsáveis. Brasília foi construída para ser uma vitrine da indústria automobilística que estava chegando no Brasil com o JK. Mas a falta de um transporte público, integrado e dinâmico, me faz muita falta.

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Eu gosto muito de andar de ônibus, se eu pudesse não teria carro. Acho que minha relação com a cidade mudou muito quando eu adquiri um carro. Antes eu andava de ônibus e tinha mais contato com a cidade, com as pessoas. No volante você está preocupado com o carro, com o sinal, o trânsito. De ônibus você dá uma relaxada, aprecia a paisagem, conversa com as pessoas.   

Mas isso daí a gente vai resolver com o tempo. Parabéns, Brasília, vamos cuidar mais e amar nossa cidade.”

Nicolas Behr, 61 anos, é poeta e mora no Lago Norte

  • Depoimento concedido à jornalista Gizella Rodrigues