06/04/2020 às 13:00, atualizado em 28/03/2020 às 21:53

Enildo Gomes e a clássica frase: “Me vê uma dupla aí!”

Mineiro de Araxá, o criador da Pizzaria Dom Bosco, uma das mais tradicionais da capital, viu a cidade nascer e se considera candango. “Brasília me deu tudo.”

Por Agência Brasília*

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Em homenagem à capital federal, formada por gente de todos os cantos, a Agência Brasília está publicando, diariamente, até 21 de abril, depoimentos de pessoas que declaram seu amor à cidade.

Foto: Paulo H. Carvalho/Agência Brasília

Seu Enildo diz que 80% da sua vida foi passada aqui. “Já moro em Brasília há mais tempo do que morei em Minas. Nunca mais saí de Brasília, nem vou”, garante. Foto: Paulo H. Carvalho/Agência Brasília

“Naquela época todo mundo veio para Brasília em busca de serviço. Oportunidades eram muitas e eu agarrei uma. Trabalho não faltava, o cara só tinha que ter coragem de ficar aqui e enfrentar a poeira. Brasília não tinha nada.

Eu já trabalhava no ramo de lanchonetes em Araxá (MG), desde os 12 anos. Meu primeiro emprego aqui foi na cantina do Congresso Nacional. Depois, tive um trailer de lanches no Setor Bancário Sul. Até que surgiu a oportunidade de comprar a loja na 107 Sul, onde montei a Pizzaria Dom Bosco, em 1960.

Em Araxá, onde eu trabalhava, a pizza era só de queijo e era servida no balcão mesmo. Essa receita é fácil de fazer e de ser guardada também, não resseca como calabresa, frango. Decidi repetir a experiência e deu certo. Também não tinha nada aqui…

Não tinha dinheiro na época, eu morava em um barraco de fundos em Taguatinga. Tive que procurar um lugar pra morar.  Saía de casa, às cinco da manhã para pegar o primeiro ônibus e abrir a loja às 7h. Com o tempo, as coisas foram melhorando e, em 1985, me mudei para a Asa Sul. Ficava mais perto, era mais fácil.

Vi Brasília nascer. Naquela época era tudo muito difícil, tinha praticamente só a Asa Sul e Taguatinga, de cidade-satélite. O pessoal se assustava com a quantidade de trabalhadores na rua. Eles foram meus primeiros clientes. Gostavam de comer em pé para ganhar tempo. Naquela época, quanto mais se trabalhava, mais se ganhava.

Naquele tempo tudo se chamava Dom Bosco. Tinha mercearia Dom Bosco, sapataria Dom Bosco, lanchonete Dom Bosco e a nossa pizzaria, que era a única da cidade.

Eu me considero candango, afinal 80% da minha vida foi aqui. Já moro aqui há mais tempo do que morei em Minas. Só vivi a juventude lá. Nunca mais saí de Brasília, nem vou. Vou em Araxá passear só.

Gosto de tudo em Brasília, isso daqui é um paraíso, um pedacinho do céu. Temos muita qualidade de vida, apesar de ela já ter sido maior. Mas Brasília é o melhor lugar do mundo para se viver e trabalhar. Ainda é a melhor capital.

Tudo aqui é bem-feito, temos espaços, a gastronomia é muito boa. Temos tudo, não perde para capital nenhuma. O padrão de vida é outro.

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Brasília me deu tudo. Aqui me casei e tive dois filhos. São eles, e dois sobrinhos, que tomam conta das outras lojas. Eu ensinei meus filhos a gostarem desde pequenos do negócio. Trazia eles pra loja fora do período escolar para eles aprenderem, ver como funciona. Porque comércio não é fácil, só tem hora pra entrar e tem trabalho sábado, domingo, feriados e dias santos. Eles que levaram o negócio pra frente e vão continuar a tradição, que virou marca de Brasília.

O brasiliense tem um carinho especial pela Pizzaria Dom Bosco. Começamos juntos com Brasília. São sempre as mesmas pessoas que vão na loja. Já estamos na oitava geração de clientes.”

Enildo Veríssimo Gomes, 74 anos, criador da Pizzaria Dom Bosco, mora na Asa Sul

– Depoimento concedido à jornalista Gizella Rodrigues