27/05/2020 às 15:36, atualizado em 27/05/2020 às 16:13

Servidores do Hran podem contar com apoio psicológico

Atendimento é voltado aos profissionais expostos a riscos e que atuam sob impacto emocional, principalmente em função da pandemia de Covid-19

Por Agência Brasília * | Edição: Chico Neto

O atendimento é prestado por telefone, medida que ajuda a reforçar as atitudes de proteção contra o vírus  | Foto: Breno Esaki / SES

Pensando no tipo de impacto que os efeitos da pandemia podem ter na saúde mental dos profissionais de saúde, um serviço de apoio psicológico começou a atender os servidores públicos e terceirizados lotados no Hospital Regional da Asa Norte (Hran), unidade referência para os casos de coronavírus no DF.

O atendimentos é prestados pela equipe de psicólogos do hospital, por telefone, para manter as medidas de proteção contra a doença. Até o momento, 22 servidores já se inscreveram na iniciativa, a maioria da área de enfermagem. Todos relataram alguma situação de tristeza, solidão, pesadelos, sobrecarga, medo ou desespero.

Foi o caso da técnica de enfermagem J. A.  No combate diário contra a Covid-19, ela percebeu sua vida e seu trabalho mudarem bruscamente desde o início da pandemia. Quando descobriu sobre o apoio psicológico oferecido no hospital, decidiu se inscrever.

Orientações ajudam

“Diante deste imenso ponto de interrogação que se tornou nossas vidas nesses últimos tempos, isso abalou muito nosso psicológico, nosso modo de agir, nossas ações, nossos cuidados”, relata. “Até parece que estamos em outro mundo. Somente a equipe [os psicólogos] deles para nos ajudar e nos dar apoio.”

Para ela, o que mais tem ajudado são as conversas, os atendimentos e os exercícios de relaxamento enviados. “Esse projeto é o que estou tendo de mais importante nestes momentos difíceis do trabalho, onde só aparecem mais dificuldades”, afirma. “Eles estão me ajudando muito a enfrentar esse problema”.

Riscos para a categoria

“No começo, já havia servidores nos procurando nos corredores, relatando angústias e medos”, revela a psicóloga Adriana Jaime, uma das idealizadoras do projeto. “O que eu percebo é que, como não alcançamos o pico da pandemia, pode haver um aumento maior das inscrições.”.

Entre os maiores receios abordados pelos profissionais nas consultas, estão o distanciamento das suas famílias e o preconceito sofrido por eles, por serem um potencial vetor de transmissão da doença. Os riscos de adoecimento mental dos profissionais de saúde já eram um tema discutido pela equipe do hospital; com a pandemia, a ideia tomou forma.

“Já ouvimos de alguns servidores e de psicólogos de outras cidades sobre casos de agressividade com profissionais de saúde”, pontua a psicóloga. “Nesse momento, uma das coisas mais importantes é o respeito com as pessoas que estão na linha de frente, porque elas estão arriscando suas vidas para combater o coronavírus.”

Alterações emocionais

 Conforme os dados levantados pela equipe de apoio psicológico, 39,1% dos servidores atendidos mostraram ter tido ultimamente sentimentos como desesperança, desmotivação e tristeza, enquanto 56,5% sinalizaram sentir isso apenas às vezes.

Os atendimentos mostraram ainda que 73,9% deles relataram alteração do sono, 56,5% tiveram alteração alimentar, 43,5% apresentaram sinais de taquicardia, 34,8% tiveram tontura e 34,8% falaram sobre a sensação de sufocamento. Além disso, 52,2% já possuem histórico de adoecimento mental, contra 47,8% que, até então, não tinham esse antecedente.

Os dados revelaram ainda que 17,4% desses servidores trabalham no pronto-socorro do Hran e 13% estão no sétimo andar, onde os internados com a Covid-19 começaram a ser atendidos em abril. Enquanto isso, 30,4% deles atuam em outros setores do hospital.

Como funciona

Cartazes sobre o serviço também foram divulgados nos grupos de WhatsApp dos servidores e em pontos estratégicos do hospital, como o pronto-socorro, elevadores e o ponto eletrônico, informando o link para inscrição e um QR Code para acessar o formulário de preenchimento, por meio da câmera do celular.

A equipe é composta pelos psicólogos Iuri Luz, Anamaria Reis, Christiana Castanheira, Thanandra Dias, Pedro Henrique Duarte e a residente Aline Donato. Para suporte medicamentoso, os atendidos contam com o apoio da psiquiatra Cássia Fernanda Nogueira.

Os servidores têm a opção de escolher o dia e o horário para o atendimento. O serviço está disponível todos os dias da semana. Os profissionais do Hran interessados no atendimento do apoio psicológico podem se inscrever no site do programa.

* Com informações da Secretaria de Saúde (SES)