17/06/2020 às 17:48, atualizado em 17/06/2020 às 18:28

Doe leite. É seguro e pode salvar vidas

Corpo de Bombeiros cria novo procedimento durante as coletas, com foco no reforço à preservação da saúde

Por Gizella Rodrigues, da Agência Brasília | Edição: Chico Neto

Foto: Divulgação / CBMDF

Doar leite materno, mesmo em época de pandemia de coronavírus, é seguro. Para garantir a segurança das mães e dos próprios militares, o Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) adotou novos procedimentos na hora de recolher os potes de vidro em domicílio. Além dos cuidados redobrados com a higiene, eles usam máscaras e evitam entrar nas residências e ter contato físico com as doadoras.

No começo das confirmações dos casos de Covid-19, a coleta domiciliar de leite materno sofreu uma queda de 35%. As mães tinham medo e não queriam profissionais de saúde nem militares em suas casas. “Já começamos o ano com deficit, porque as doações caíram em 2019 em relação a 2018. Tivemos o pior janeiro dos últimos quatro anos”, conta a coordenadora dos Bancos de Leite Humano do DF, Miriam Santos.

Em janeiro, apenas 1,1 mil litros de leite foram coletados. O deficit de 30% nos estoques se manteve em fevereiro e subiu ainda mais em março. A Secretaria de Saúde (SES), então, elaborou uma grande campanha, esclarecendo que a coleta é feita com todo o rigor e de acordo tanto com as recomendações do Banco de Leite Humano quanto das medidas de prevenção ao coronavírus estabelecidas pelo GDF.

Coleta em domicílio

As doadoras não precisam sair de casa para entregar o leite: o material é levado para os hospitais pelos bombeiros. Os dias de coleta foram reduzidos e o horário também sofreu alterações. Agora, os militares passam na casa das mães duas vezes na semana, entre segunda e quinta-feira, das 7h às 13h.

Eles recolhem os vidros na porta da casa. Quando precisam entrar, evitam tocar nas doadoras e passam as orientações a distância. “São 11 duplas que fazem esse trabalho”, explica a chefe da Assessoria de Programas Sociais do CBM-DF, tenente-coronel Raquel Gomes. “Elas são formadas pelo motorista, normalmente homem, e uma militar. O motorista nem desce do carro; quem vai até a doadora é a militar. Eles fazem de tudo para o contato ser o mais rápido possível”.

Para as mães, o recomendado também é tomar cuidados com a higiene durante a coleta, usar máscaras e lavar muito bem as mãos. Orientações e esclarecimentos sobre a amamentação e doação de leite materno estão sendo oferecidos por telefone, por mensagem de WhatsApp, e-mail e até mesmo por videochamada.

Bancos de leite

A médica Paula Garcia de Araújo, 41 anos, começou a doar leite no meio da pandemia quando a filha caçula Isabela, de 4 meses, saiu do hospital. A bebê nasceu prematura, com 33 semanas, e ficou três dias sendo alimentada por fórmulas infantis que têm a intenção de copiar funcionalmente o leite materno, porque o leite da mãe demorou a fluir. “Ela foi para a UTI [Unidade de Terapia Intensiva] e só no terceiro dia consegui tirar uma quantidade de leite suficiente”, conta Paula.

O hospital era particular e não tinha banco de leite. Paula já sabia da importância do leite materno, mas depois da experiência, virou doadora dos bancos de leite humano (BLHs) do Distrito Federal. “Também amamento meu filho mais velho, que tem dois anos e ainda mama”, conta. “Enquanto tiver leite, vou doar. Não tenho muito tempo de colher o leite, mas tento encher pelo menos um vidro por semana”.

Assim como Paula, outras 178 mães lactantes foram capacitadas, em maio, para participar do programa do BLH. Além de ganhar novas doadoras, a rede da SES conseguiu captar 1,7 mil litros de leite para alimentar bebês internados na neonatologia das maternidades do DF o suficiente para alimentar mais 120 recém-nascidos em relação a abril, mês em que os bancos de leite do DF atenderam 1.008 bebês. Em maio, esse número subiu para 1.128. De janeiro a maio, 6,8 mil litros de leite foram captados pelo BLH.