08/09/2020 às 10:33, atualizado em 09/09/2020 às 18:51

CEB tem prejuízo de R$ 96 milhões e reforça fiscalização contra “gatos”

Em parceria com a Polícia Civil e Corpo de Bombeiros, companhia coloca mais 22 equipes nas ruas e já identificou 62 mil “gatos”

Por IAN FERRAZ, DA AGÊNCIA BRASÍLIA I Edição: Carolina Jardon

Foto: arquivo Agência Brasília

A Companhia Energética de Brasília (CEB) tem reforçado o combate às ligações clandestinas espalhadas por todo o Distrito Federal. Além do prejuízo financeiro, que ultrapassa R$ 96 milhões por ano, essas ligações são perigosas e podem levar à morte. Logo, coibir esse tipo de ação virou uma das prioridades dentro da companhia.

Há muitas ligações irregulares espalhadas por todo o DF. O último levantamento da CEB, feito no segundo semestre de 2019, aponta para 62 mil.

Popularmente conhecido como “gato”, o furto de energia é identificado em dezenas de regiões administrativas, mas têm maior ocorrência nas cidades de São Sebastião, Taguatinga, Guará, Lago Sul, Gama, Brazlândia e Planaltina, muito em parte por conta do crescimento desordenado e o surgimento de condomínios irregulares.

Para acabar com esse problema, a CEB assinou contrato de fiscalização com empresas terceirizadas e passou a atuar em campo, fazendo o levantamento de ligações clandestinas e fraudes em medidores de energia. Ao todo, 22 equipes fazem esse trabalho desde o segundo semestre de 2020.

“Temos esse prejuízo de R$ 96 milhões, mas se considerarmos o que deixamos de arrecadar e o prejuízo causado pela sobrecarga na rede, temos mais R$ 50 milhões gastos com manutenção por ano”, explica Gustavo Alvares, diretor de Atendimento ao Cliente e Tecnologia da Informação da CEB.

A companhia também utiliza a tecnologia para identificar alterações no consumo das residências. Quando observam uma queda brusca no consumo, eles checam se houve algum problema, o que facilita a resolução.

Além da tecnologia, a CEB recebe denúncias pela Ouvidoria do GDF como forma de combater as ligações irregulares. Este trabalho de fiscalização é complementado por um acordo feito com a Polícia Civil.

Outra medida é a troca de medidores que estão marcando zero, seja por fraude ou problema no aparelho. A empresa de energia já efetuou a troca de 40 mil unidades neste ano e deve chegar a 60 mil até dezembro, o que pode representar uma recuperação de R$ 7 milhões no faturamento.

 Multas e fiscalização

Foto: Divulgação | CEB

Quando a fraude é identificada, seja por denúncia ou fiscalização, a CEB emite um termo de ocorrência, onde constam informações da irregularidade e o cliente precisa acertar a situação. Também ocorre desligamento da unidade e aplicação de multa.

“O que a gente tem percebido é que a população quer pagar energia. É um ato de cidadania, ela quer ficar regular com o Estado, quer ter direito a reclamar de um problema quando acontece. Mas, o “gato” é um problema sério e representa um risco à vida. Temos exemplos de pessoas que morreram por tocar num poste eletrificado. Já ocorreu de a CEB receber a denúncia, confirmar a ligação irregular, desligá-la e no dia seguinte ela ser refeita”, acrescenta Gustavo Alvares.

Parceria com a Polícia Civil

Em maio deste ano, a Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) e a CEB firmaram um Acordo de Cooperação Técnica (ACT) com o objetivo de coibir crimes praticados contra a distribuidora de energia e reduzir as perdas decorrentes desses atos.

O trabalho integrado visa intensificar as operações de investigação e demais ações de repressão a fraudes de medidores de consumo, abalroamento de postes (acidentes de trânsito com postes) e furtos de cabos e transformadores de energia.

Segundo dados da CEB, há um prejuízo anual de aproximadamente R$ 3 milhões com furtos de cabos de cobre, roubo de transformadores e postes danificados que não são ressarcidos – nesse último caso, em função da dificuldade de localizar o autor.

O acordo prevê uma adequação para que, quando um Boletim de Ocorrência (BO) indicar acidente de trânsito com poste de energia, automaticamente a CEB receba esses dados para solicitar a indenização do dano ao possível autor.

Há também o trabalho de campo da Polícia Civil. Recentemente, a corporação deflagrou a operação “curto-circuito”, onde 17 pessoas foram detidas por furto de energia na Ponte Alta do Gama.

A ação contou com dois delegados, 24 policiais civis e o apoio do Instituto de Criminalística da PCDF. Os detidos foram levados para a 14ª Delegacia de Polícia, no Gama, onde foram autuados em flagrante por furto de energia, com pena que pode variar de um a quatro anos e multa.

“As operações policiais de combate aos crimes de furto de energia elétrica são muito importantes, haja vista que as ligações clandestinas causam prejuízo a todos os consumidores, bem como empresas concessionárias. As ligações clandestinas sobrecarregam as redes elétricas, deixando o sistema de distribuição mais suscetível a interrupções no fornecimento de energia elétrica”, explica Jônatas Silva, delegado-chefe da 14ª Delegacia de Polícia.

Atuação dos Bombeiros

Foto: Renato Araújo/Agência Brasília

Em outra frente está o Corpo de Bombeiros Militar do DF (CMBDF). Eles atuam em duas vertentes contra as ligações clandestinas. A primeira é na prestação dos primeiros-socorros em caso de ferimentos.

A outra é quando há incêndio provocado por essas ligações. Neste caso, os bombeiros combatem o fogo e também investigam o que levou a causar o incêndio.

Em qualquer dos casos, a primeira ação de uma pessoa ao tomar conhecimento de que alguém sofreu uma descarga elétrica ou visualizou uma situação de incêndio, a recomendação é ligar para o 193. Depois, o trabalho fica a cargo dos bombeiros, que vão saber a melhor forma de agir.

Somente no primeiro semestre de 2020, o CBMDF foi acionado 75 vezes para verificar fenômenos elétricos que não causaram incêndios, e outras 1.215 vezes para combater incêndios em residências e estabelecimentos, relacionados ou não com eletricidade.

“Em caso de acidente com energia elétrica, nem sempre reagir vai ser a recomendação. Não se pode colocar a vida das pessoas em risco e a energia só poderá ser cortada se houver segurança para isso”, explica o major Rodrigo Almeida Freitas, do Corpo de Bombeiros.

Como forma de segurança, Freitas recomenda que as pessoas não façam ligações clandestinas e contratem um profissional para executar a rede elétrica. “Chamem um profissional ou engenheiro experiente e instalem o disjuntor DR, para que nos casos onde a pessoa leva um choque ela não fique presa e em estado vulnerável o choque. É importante fazer a manutenção e revisão da rede também”, pede.