05/02/2021 às 15:19, atualizado em 05/02/2021 às 15:45

‘Turismo interno é principal motivo de retomada do setor’

Secretária de Turismo, Vanessa Mendonça, fala sobre os desafios para tornar Brasília cada vez mais um polo de visitas

Por Jéssica Antunes, da Agência Brasília | Edição: Mônica Pedroso

Como fazer turismo quando o mundo pede isolamento e distanciamento social? No Distrito Federal, a resposta envolve inovação, planejamento, consolidação e reconhecimento da própria população. O investimento e a estruturação da área ao longo de 2019 contribuíram para que fosse possível atravessar o ano de 2020 com conquistas, novidades, soluções e planos para o futuro. É o que conta Vanessa Mendonça, titular da Secretaria de Turismo (Setur), em entrevista à Agência Brasília. Em ritmo de retomada, a pasta dá as mãos para o setor e, dentro do plano de tornar a capital um polo cada vez mais consolidado, conquista o próprio brasiliense que passa a conhecer mais a cidade onde vive.

Confira, abaixo,  os principais trechos da entrevista. 

Foto: Paulo H. Carvalho/Agência Brasília

Enfrentamos um cenário de pandemia que faz com que a rotina se altere e os planos mudem. Faz parte disso a restrição às viagens, que acabam impactando o turismo. De modo geral, como a senhora avalia o desempenho do turismo no DF no último ano?

O último ano foi extremamente desafiador, mas viemos de um 2019 que conseguimos restaurar e implementar ações estruturantes no setor. Fizemos uma segmentação muito clara que nos permitiu trabalhar com a iniciativa privada, as entidades, o Ministério do Turismo e Embratur. Dividimos os 52 setores (gastronomia, hotelaria, transporte, etc.) em eixos: turismo cívico, náutico, arquitetônico, cultural, ecoturismo, rural, etc. Mesmo com a pandemia, intensificamos a atuação. O índice de atividades turísticas no DF apontou aquecimento do setor de 25,6% em agosto de 2020 – um resultado acima da média nacional, que foi de 19,3%. Isso representa a concretização de um trabalho consistente. A cidade é a mesma, o que mudou foi a forma de olhar e cuidar dela.

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Essa estruturação influenciou na implementação de novos projetos?

Logo quando passamos a viver a pandemia, lançamos o movimento Juntos por Brasília e Juntos pelo Turismo, que teve engajamento imediato das entidades que compõem o nosso trade. Abrimos grupos de trabalho por segmento com objetivo de passar a imagem de Brasília como destino seguro quando o setor retomasse. Houve um trabalho de pegar na mão do setor e falar: nós estamos aqui, caminharemos juntos e vamos encontrar a solução para superar esse momento.

Como fazer turismo sem poder viajar?

Com inovação. E as plataformas digitais foram e são essenciais. Implementamos o projeto Tour Virtual, com experiência de visitar rotas temáticas com os atrativos da cidade. Pelo Google Earth é possível encontrar guias de sete eixos diferentes: Rota Cívica, Cultural, Arquitetônica, Náutica, Rota do Cerrado, Rota da Paz (com turismo religioso) e Fora dos Eixos. De abril do ano passado para cá, tivemos 64 mil visualizações. Também tivemos o Live Tour, com visitas guiadas transmitidas ao vivo pelas redes sociais, trabalhando um tema por mês. Tivemos uma audiência muito boa de brasilienses, pessoas de outros estados e de outros países.

Essas iniciativas durante a pandemia permitiram que o brasiliense conhecesse mais a própria cidade?

Com certeza! Mais do que nunca, o turismo interno é o principal motivo do setor ter começado essa retomada gradual. É o despertar de um olhar da nossa população para a nossa cidade. Ressalto ainda a atuação do turismo rural que se desenvolveu e destacou nesse período, com com circuitos de pousadas, ocupação acima da média e faturamento de R$ 80 milhões. Isso porque o brasiliense buscou refúgio na área rural. Além disso, temos o privilégio de poder visitar pontos turísticos extremamente importantes e ao ar livre, com segurança, como o maior lago artificial urbano do mundo, o Paranoá, ou um dos maiores parques da América Latina, o Parque da Cidade. Tem também a Ermida Dom Bosco, que o GDF conseguiu reformar inteira, que engloba turismo de aventura, náutico, religioso, de contemplação e ecoturismo. A visita ao Panteão da Pátria pode entrar nas indicações, e poucos conhecem… além, claro, do que há nas RAs.

[Olho texto=”“O brasiliense buscou refúgio na área rural”” assinatura=”” esquerda_direita_centro=”centro”]

A iniciativa do Brasília Iluminada, além de deixar a cidade como nunca antes se viu, fez com que milhares de brasilienses e turistas se deslocassem ao centro da capital. Qual foi o objetivo de fazer esse investimento em um ano complicado e atípico?

Queremos mostrar essa potência de Brasília como uma cidade capaz de oferecer a sua população e visitantes uma experiência única. Foram 30 dias de interação com as tradicionais luzes de ano novo, e seis mil empregos gerados. Poder transformar todo esse encanto em oportunidades para milhares de trabalhadores tem um significado ainda mais forte.

Na gestão, o turismo cívico ganhou protagonismo. Antes da pandemia, a experiência na Praça dos Três Poderes virou um evento para toda a família. Qual é a preocupação da Setur em relação a essa característica da cidade?

Tenho convicção que nenhuma outra capital tem tanta condição de fazer esse tipo de turismo com a propriedade que nós temos. A cerimônia de troca da bandeira ocorre no primeiro domingo de cada vez e ressignificá-la dá oportunidade de mostrar às novas gerações a história da capital e do país. Fui a cada órgão – Ministério da Defesa, Marinha, Exército, Aeronáutica – e fiz o convite para, juntos, transformar a cerimônia em uma manhã de espetáculo para a população. Criamos o programa Manhã cívica – Brasília: o Brasil começa aqui, com artesãos, Fecomércio, Sesc, atrações e entretenimento. A pandemia interrompeu depois que chegamos a sete mil presentes, mas desejamos retornar no momento certo com todas as medidas de segurança necessárias.

Falando nesses artesãos chamados para a Manhã Cívica, a Setur tem investido no reconhecimento desses profissionais, com cadastramento e emissão de Carteiras Nacionais do Artesão. Qual é o panorama atual no DF e por que essa formalização é importante para o turismo?

O artesanato faz parte da cadeia produtiva do setor do turismo. Hoje temos cadastrados 10.801 artesãos, com carteiras emitidas – e continuamos entregando na pandemia. O artesanato tem coordenação técnica no órgão, com gestão de dois mestres artesãos para trabalhar de forma estruturada, promovendo a qualificação e promoção em todas as regiões administrativas, articulando espaços para venda dos produtos. Os artesãos são selecionados por meio de edital e comissão para serem comercializados em todos os eventos apoiados pela Setur e em espaços cedidos em shoppings.

A senhora falou sobre o turismo nas regiões administrativas. Existe a previsão de levar CATs para as cidades?

Existe! Atualmente são seis CATs: Setor Hoteleiro Norte, Setor Hoteleiro Sul, na Rodoviária Interestadual, na Torre Digital, na Casa de Chá e o recém inaugurado no aeroporto. Estamos com outros sendo montados em seis cidades, em parceria com os administradores regionais: Ceilândia, na Casa do Cantador, no Gama, em Sobradinho, no Guará, no Lago Sul e no Riacho Fundo II. Tivemos duas rodadas de capacitação para que a gente faça conexão do turista que chegar a Brasília com as regiões administrativas, fazendo com que ele saia da tradicional rota cívico-arquitetônica e tenha outras experiências.

Antes da pandemia, o GDF reduziu a alíquota do Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre o querosene de aviação e garantiu novas rotas de voos para países da América Latina. Qual a importância desse marco? Apesar da pandemia, há tratativas ou estudos para abrir novas rotas?

Nós conquistamos quatro voos internacionais, para Cancún, Lima, Santiago e Assunção, o que é de extrema importância pela interlocução entre Brasília e a capital de cada um dos países da América Latina. Qualquer voo direto faz com que Brasília fique mais acessível a todo mundo porque diminui as distâncias. Como resultado, tivemos o acréscimo de 41% de turistas estrangeiros.

Pela primeira vez, o GDF conquistou credenciamento de Brasília no Fundo Geral de Turismo (Fungetur), que dá acesso a uma linha de crédito de R$ 521 milhões para investir em empreendimentos do setor. Na prática, o que isso representa para a área turística da capital?

É uma conquista histórica. Brasília nunca tinha conseguido se qualificar, então representa a condição do setor em poder retomar as atividades com condição especial para obter crédito nesse momento tão difícil. Estamos junto ao BRB fazendo a interlocução com toda a cadeia produtiva para que não haja dificuldade. Do pequeno ao grande, todos têm a condição de obter o crédito. Isso tudo reflete no setor de maneira positiva, fazendo com que o trade ofereça serviços cada vez melhores.

No último ano, apesar de todos os desafios, tivemos Rally dos Sertões, Capital Moto Week, eventos que chegaram e continuaram. O que podemos esperar para esse 2021?

Fomos selecionados pelo BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Social] e cumprimos a meta de engajamento popular para implementar o Brasília Realidade Virtual. O acordo era que a cada um real doado por algum brasilense, o BNDES aportava R$ 2. Em pouco tempo, a meta de R$ 287,5 mil foi alcançada. Vamos fazer uma experiência imersiva como a gente nunca viu, já é a primeira novidade do ano. Vamos lançar mais três rotas: a Turismo Arquitetônico Acessível, a das Rota Duas Rodas em parceria com o Brasília Moto Week, e a da Diversão. Também vamos distribuir a coleção dos miniguias de turismo segmentados a partir dos roteiros digitais.

E qual vai ser o maior desafio?

Assegurar à iniciativa privada a capacidade de desenvolver as suas atividades de forma segura, com o apoio para a estruturação e a promoção da nossa cidade. Estamos aqui para servir, atender indistintamente todos os setores, trabalhando pela estruturação qualificação promoção e consolidação de Brasília como destino turístico.