29/11/2021 às 18:46, atualizado em 29/11/2021 às 18:56

Cresce a procura por atendimentos psicossociais no DF

Assistência pode ocorrer nas UBSs, nos Caps e nos hospitais da rede pública por meio do Samu

Por Agência Brasília* I Edição: Débora Cronemberger

A rede de atenção psicossocial da Secretaria de Saúde superou a marca de 97 mil procedimentos ambulatoriais. O número, alcançado ainda em setembro, é superior ao registrado em 2018 (95 mil), 2019 (79 mil) e 2020 (75 mil). Insônia, alterações de humor e dificuldades para cumprir os compromissos como trabalho e estudo são as principais queixas relatadas pelos pacientes.

Atendimento do Samu em uma ocorrência de saúde mental | Foto: Breno Esaki/Agência Saúde-DF

De acordo com a diretora de Saúde Mental da Secretaria de Saúde, Vanessa Soublin, este aumento ocorre em um cenário de mudança de perfil de busca por ajuda. “Os Caps (centros de atenção psicossocial) atendiam muitos casos, por exemplo, de pessoas psicóticas. Hoje há aumento significativo de procura para casos de depressão, ansiedade e tentativas de autoextermínio”, afirma.

Parte desse aumento pode ser justificado pela pandemia de covid-19. “As repercussões na saúde mental são de médio e longo prazo”, explica Vanessa Soublin. Entre as consequências deixadas pela doença estão as milhares de famílias enlutadas e a crise socioeconômica.

“A gente presenciou muito o aumento das crises provocadas pela vulnerabilidade social”, comenta Valeska de Paula, gerente do Caps III de Samambaia. As perdas familiares também tornam sensíveis datas como Dia dos Pais, Dia das Mães, Natal e fim de ano, o que aumentou a frequência de grupos terapêuticos voltados para o enfrentamento do luto.

Locais de atendimento

[Olho texto=”“O aumento de demanda é real, tanto de casos novos quanto de casos antigos que estavam estabilizados e agudizaram”” assinatura=”Jane Franklin, diretora de Atenção Secundária da Região de Saúde Leste” esquerda_direita_centro=”direita”]

Para atender à demanda, no Distrito Federal há 18 unidades especializadas em atendimento psicossocial, que promovem o acompanhamento com equipes multidisciplinares, oficinas terapêuticas e ações de reabilitação psicossocial.

A Diretoria de Serviços de Saúde Mental, contudo, ressalta que as unidades básicas de saúde (UBSs) são a porta de entrada para atendimento da secretaria. A Atenção Primária à Saúde recebe, avalia e acompanha os casos. Em caso de necessidade, encaminha os pacientes para outros pontos de atenção na rede.

Casos de leve impacto no funcionamento geral, social ou ocupacional são acompanhados na atenção primária, sem necessidade de buscar uma unidade específica de saúde mental. “O Caps mantém a porta aberta, mas, para ser elegível ao acompanhamento, o paciente precisa ter um transtorno grave e persistente, dado que as unidades se dedicam a pacientes que necessitam de cuidado intensivo”, diz Vanessa Soublin.

Atendimento no Caps Candango | Foto: Geovana Albuquerque/Arquivo SES-DF

O acompanhamento precoce próximo, inclusive, pode evitar que uma situação mais simples evolua a ponto de necessitar de uma intervenção de maior complexidade. “Muitos dos casos não são perfil de Caps, mas a gente faz o acolhimento e faz um seguimento”, cita a gerente do Caps de Samambaia, Valeska de Paula. Ainda segundo ela, “a demanda espontânea costuma ser de quadros de insônia, ansiedade e de início de depressão”.

Do outro lado do Distrito Federal, a diretora de Atenção Secundária da Região de Saúde Leste, Jane Franklin, enfrenta a mesma realidade. “O aumento de demanda é real, tanto de casos novos quanto de casos antigos que estavam estabilizados e agudizaram”, relata.

Jane ainda ressalta que o atendimento nas UBSs também é relevante por oferecer alternativas, como a terapia comunitária. “A situação de saúde mental nem sempre é medicamentosa. Muitas vezes você precisa de um especialista não médico, como um psicólogo ou mesmo um assistente social”, explica. As unidades básicas também se destacam por oferecer práticas integrativas e a terapia comunitária.

Urgência e emergência

[Olho texto=”Situações de vida como o falecimento de um familiar, perda de emprego ou fim do relacionamento geram sofrimento mental e isso é esperado. Porém, é preciso avaliar quando o estado emocional prejudica as relações interpessoais e o sofrimento afeta o funcionamento da pessoa” assinatura=”” esquerda_direita_centro=”direita”]

Casos em que há risco iminente de vida devem ser encaminhados para a rede de urgência e emergência. Surtos psicóticos, agitação psicomotora, agressividade e comportamentos de risco podem ser atendidos pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) do DF, o primeiro do Brasil a contar com um Núcleo de Saúde Mental (Nusam), criado há cinco anos.

O Nusam atua tanto de forma presencial, em ambulância, como a distância, por telefone, na Central de Regulação Médica, pelo número 192. A situação do paciente pode ser resolvida ainda durante a ligação, a depender do caso. Mas, em ocorrências mais graves e urgentes, é necessário que os profissionais intervenham pessoalmente, indo até o local onde está o paciente.

O teleatendimento é formado por psicólogos e assistentes sociais, disponíveis 24 horas. Após as ligações da população serem atendidas pelos médicos reguladores, são avaliadas e classificadas como demanda em saúde mental, sendo redirecionadas aos profissionais que atuam na baia reservada ao Nusam. O atendimento à população é para casos de crises de ansiedade, surtos psicóticos, comportamento suicida, casos de violência ou negligência à população vulnerável, luto, depressão, entre outros.

Conheça a rede de atendimento

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Localize aqui o Caps próximo de onde você mora.

Quando procurar ajuda?

A diretora de Saúde Mental da Secretaria de Saúde, Vanessa Soublin, explica que ainda há muito preconceito sobre o assunto, mas é fundamental identificar quando é hora de procurar ajuda. “A saúde mental é um estado de bem-estar em que você consegue trabalhar, consegue contribuir para a sociedade e consegue aproveitar o seu lazer, tudo isso enquanto gerencia as suas emoções”, diz.

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Porém, momentos de tristeza, angústia e mau humor são naturais na vida de qualquer indivíduo. Situações de vida como o falecimento de um familiar, perda de emprego ou fim do relacionamento geram sofrimento mental e isso é esperado. Porém, é preciso avaliar quando o estado emocional prejudica as relações interpessoais e o sofrimento afeta o funcionamento da pessoa.

No caso de consumo de álcool e outras drogas, é preciso estar sempre atento.  “Quando você tem um uso que prejudica alguma coisa da sua vida já é sinal que precisa de ajuda profissional”, ressalta Vanessa Soublin.

Familiares e amigos também devem ter atenção a pessoas com sofrimento mental. Alterações de humor, de sono, de apetite são indicadores importantes. Pedidos de ajuda devem ser sempre respeitados e levados em consideração: o cuidado precisa ser ofertado antes que haja um agravamento da situação.

Saiba mais sobre o trabalho da Diretoria de Saúde Mental. Acesse aqui o site da Secretaria de Saúde.

*Com informações da Secretaria de Saúde