07/02/2022 às 16:08

Biblioteca Braille Dorina Nowill, em Taguatinga, é reformada

Com um acervo de 2 mil exemplares em braille, o equipamento passou por melhorias na estrutura física e ganhou novos mobiliários

Por Adriana Izel, da Agência Brasília I Edição: Débora Cronemberger

A única biblioteca braille do Distrito Federal, a Dorina Nowill, abrirá as portas completamente renovada no dia 14 deste mês. Localizado no Espaço Cultural de Taguatinga, no centro da região administrativa, o equipamento público, composto por três salas, teve a estrutura física reformada e parte do mobiliário substituída.

[Olho texto=”“A Biblioteca Dorina Nowill tem um papel muito importante dentro da rede de bibliotecas públicas do Distrito Federal, tendo em vista que é a única especializada para cegos e pessoas com deficiência”” assinatura=” – Elisa Raquel Quelemes, diretora da Biblioteca Nacional de Brasília” esquerda_direita_centro=”esquerda”]

As obras tiveram início no final de 2021, sob o comando da Coordenação Regional de Ensino de Taguatinga (Cret), da Secretaria de Educação (SEE). “Fui fazer uma visita em agosto e vi que o local era totalmente impróprio, não só para o atendimento, mas para os funcionários. Essa biblioteca merecia uma reforma. Nunca ninguém tinha olhado para eles [funcionários e usuários] e a gente, como Regional de Ensino, tem que olhar para todos”, afirma o coordenador da Cret, Murilo Marconi.

Essa foi a primeira intervenção no espaço desde a mudança para a nova sede em 2006. “São 15 anos nessa biblioteca sem reforma nenhuma. Agora, além de toda a estrutura física melhorada, com piso, janelas, paredes e azulejos novos, ainda temos ar-condicionado e filtro novos. Está chique demais”, comemora a fundadora da Biblioteca Braille Dorina Nowill, Dinorá Couto Cançado. “Estamos na expectativa da reinauguração, porque essa glória não pode acontecer sem as pessoas conhecerem”.

Com as obras, foram trocados o piso, as janelas e os banheiros e a cozinha. A parte patrimonial também teve melhorias, com a aquisição de três aparelhos de ar-condicionado, fogão, geladeira, mesas, cadeiras e purificador de água.

A reforma custou R$ 75 mil e contou com emendas parlamentares dos deputados Jorge Vianna e Rafael Prudente. Já o mobiliário foi comprado com recursos do Programa de Descentralização Financeira e Orçamentária (Pdaf), da SEE, por meio da Cret, com valor estimado de R$ 25 mil. As novas estantes ainda serão adquiridas com outra emenda parlamentar.

Expectativa

Adma Oliveira descobriu o talento artístico na biblioteca, depois que perdeu parte da visão há quase seis anos | Fotos: Joel Rodrigues/Agência Brasília

“Um lugar de acolhimento”. É assim que Adma Oliveira, 56 anos, define a biblioteca. Foi lá que ela descobriu o talento artístico depois que perdeu parte da visão, há quase seis anos. “Ela [a biblioteca] foi um resgate na minha vida, na minha fase de readaptação. Aquela biblioteca é muito especial. Lá eu tive oportunidade de desenvolver a minha parte artista, com a dança, a performance e a contação da história”, conta.

[Olho texto=”Além do papel literário e acadêmico, o equipamento promove eventos voltados para o público cego, como aulas de dança, oficinas musicais e contação de histórias” assinatura=”” esquerda_direita_centro=”direita”]

É pela importância do local que Adma comemora a restauração do equipamento público. “É uma biblioteca que acolhe, onde a gente se sente em casa. A reforma é muito importante para nós, que vamos poder desfrutar dessa conquista”, comenta.

Frequentador fiel da biblioteca desde 2008, o músico e poeta André Ricardo da Silva está ansioso para que o espaço volte a funcionar. Ele mora em Taguatinga Norte e costuma chegar bem cedo ao local para estudar, participar das atividades culturais e interagir com os colegas. “Eu praticamente moro na biblioteca. Chego lá às 7 horas da manhã e fico estudando o dia inteiro. Sou do grupo de dança, da orquestra e da Academia de Letras da biblioteca”, conta.

Na avaliação de André, a reforma vai trazer uma série de benefícios para todos os usuários. “Vai ter mais ventilação. Era um espaço muito quente e apertadinho. Só temos a agradecer”, comenta Silva, que perdeu a visão em decorrência de complicações da diabetes.

A única biblioteca braille do Distrito Federal abrirá as portas completamente renovada, ainda neste mês

Cofundadora da biblioteca e precursora nos projetos de inclusão do espaço, Noeme Rocha diz que as intervenções eram muito aguardadas, sendo um sonho antigo do trio de idealizadoras que fundou há 26 anos o projeto. “A gente está rindo para as paredes. A expectativa é a melhor possível”, diz.

Importância

Criada em 1995, a Biblioteca Braille Dorina Nowill conta com um acervo de 2 mil exemplares, com 800 títulos. Isso porque o livro em braille ocupa, em média, até três volumes. Uma página em tinta equivale a quatro no formato braille. A biblioteca tem ainda publicações convencionais e com letras ampliadas para serem lidas em rodas de leitura e pelo público vidente (normalmente acompanhante dos cegos), idosos ou pessoas com baixa visão.

[Olho texto=”“A cultura é um bem não mensurável. Mas é essencial para a nossa população. A recuperação da Biblioteca de Braille é um orgulho para todos nós aqui de Taguatinga”” assinatura=” – Renato Andrade, administrador regional de Taguatinga” esquerda_direita_centro=”direita”]

“A Biblioteca Dorina Nowill tem um papel muito importante dentro da rede de bibliotecas públicas do Distrito Federal, tendo em vista que é a única especializada para cegos e pessoas com deficiência”, afirma a diretora da Biblioteca Nacional de Brasília (BNB), Elisa Raquel Quelemes.

O espaço é um apoio para as demais bibliotecas do DF, que possuem um pequeno acervo acessível para pessoas com deficiência. “O acervo em braille é muito reduzido, por isso é fundamental ter esse suporte em Taguatinga. É uma biblioteca que tem reconhecimento internacional, que leva o nome do DF por meio dos seus trabalhos”, completa a diretora.

Além do papel literário e acadêmico, o equipamento promove eventos voltados para o público cego, como aulas de dança, oficinas musicais e contação de histórias. “É um verdadeiro banquete de coisas acontecendo. É uma biblioteca completamente diferente. Só estando lá dentro para compreender a importância dela”, revela Noeme Rocha.

A biblioteca atende, em média, até 90 pessoas por mês. Durante a pandemia, o número diminuiu para 30 usuários, que têm mantido a frequência em formato online.

“Me emociono muito quando começo a enumerar o tanto de benefício que uma biblioteca em braille faz na vida das pessoas com deficiência. Quando estão ali, com os exemplos e os estímulos, eles começam a estudar e querem voltar à vida. Ali é onde o cego deslancha e tem perspectiva de uma vida melhor”, avalia a idealizadora.

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Mais do que cofundadora do espaço, Noeme Rocha é também uma das pessoas que tiveram a vida modificada pela biblioteca. “Acho incrível como essa biblioteca faz milagres. Ela fez na minha vida. Eu estava cega e foi quando aprendi o braille e entendi que podia chegar muito mais longe. Hoje estou realizada. E vou me realizar muito mais quando ela for reinaugurada”, acrescenta.

“A cultura é um bem não mensurável. Mas é essencial para a nossa população. A recuperação da Biblioteca de Braille é um orgulho para todos nós aqui de Taguatinga”, afirma o administrador de Taguatinga, Renato Andrade.

“A instituição, infelizmente, acabou sendo obrigada a fechar suas portas ao público devido à pandemia da covid-19. Mas agora estará de volta, reformada e apta para exercer sua função social e cultural em nossa cidade”, conclui.

Quem foi Dorina Nowill

A biblioteca leva o nome da ativista brasileira. Nascida em São Paulo em 1919, Dorina de Gouvêa Nowill ficou conhecida pelo trabalho de inclusão social das pessoas com deficiência visual no Brasil.

Dorina perdeu a visão aos 17 anos e foi a primeira aluna cega a se formar na Escola Normal Caetano Campos. Fez especialização em Nova York (EUA) após receber uma bolsa de estudos.

Em 1946, criou a Fundação para o Livro do Cego Brasil. Anos depois a instituição recebeu o nome dela. Escreveu e publicou em 1996 o livro “E eu venci assim mesmo”, que ganhou traduções para o espanhol. Morreu, aos 91 anos, em 29 de agosto de 2010.