08/02/2022 às 20:27, atualizado em 08/02/2022 às 22:00

Artistas voluntários levam música e dança para socioeducandos

Primeira edição da mostra cultural A Arte Salva altera a rotina na Unidade de Internação de Santa Maria (UISM)

Por Agência Brasília* | Edição: Rosualdo Rodrigues

Capoeira, música e dança marcaram o início desta semana na Unidade de Internação de Santa Maria (UISM), palco da primeira edição da mostra cultural A Arte Salva. O projeto foi idealizado pelo pai de um socioeducando, em articulação com a Secretaria de Justiça e Cidadania (Sejus), órgão responsável pela coordenação do sistema socioeducativo no DF. O evento nasceu da vontade do profissional da dança de contribuir com o processo de ressocialização não apenas do próprio filho, mas dos demais jovens em cumprimento de medida socioeducativa.

O projeto foi idealizado pelo pai de um socioeducando, em articulação com a Sejus: “A arte pode transformar, educar e reeducar esses adolescentes”, acredita ele | Fotos: Secom/Sejus-DF

“Depois de vir aqui algumas vezes, decidi trazer um pouquinho do que faço no meu dia a dia para agregar na vida desses adolescentes”, contou o dançarino, que não será identificado para preservar a imagem do filho. “A arte pode transformar, educar e reeducar esses adolescentes. Espero que a gente tenha tocado o coração deles de alguma forma e que eles queiram tomar outro caminho através da música, da dança ou das cênicas”, completou.

[Olho texto=”“Participar desse projeto foi uma experiência de amor e doação. Acredito que a música traz alegria, cura, regenera e encaminha as pessoas para um bom caminho”, destaca o cantor Marcelo Sena” assinatura=”” esquerda_direita_centro=”direita”]

De acordo com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), o acesso à cultura é um direito dos socioeducandos e faz parte do processo de ressocialização, assim como a escolarização e os cursos profissionalizantes. “No DF, buscamos mais do que somente garantir a implementação da lei. A nossa gestão trabalha o socioeducando e suas famílias com um olhar humanizado e pedagógico, que busca gerar oportunidades para a transformação da vida dos jovens atendidos no sistema”, afirma a secretária de Justiça e Cidadania, Marcela Passamani.

A primeira edição da mostra cultural reuniu mais de 10 artistas voluntários e contou com a colaboração dos servidores da UISM. A atividade ocorreu em um espaço destinado a apresentações culturais, com direito a palco e arquibancada. Foi nesse local que os artistas tiveram a oportunidade de se apresentar, pela primeira vez, a uma plateia formada por adolescentes em processo de ressocialização. “Participar desse projeto foi uma experiência de amor e doção. Acredito que a música traz alegria, cura, regenera e encaminha as pessoas para um bom caminho”, destaca o cantor Marcelo Sena.

O elenco de artistas incluiu também a banda de choro Geral do Regional

Para a maioria dos jovens, também foi uma atividade inédita. “Acho importante ter essas apresentações para a gente aprender a dançar, gingar capoeira e descobrir que essas coisas existem. Eu nunca tinha visto alguém dançar bolero, por exemplo, e gostei muito”, revela um dos socioeducandos, animado com as apresentações.

[Olho texto=”“Quando sair daqui, quero terminar meus estudos, cuidar da minha família, começar a trabalhar e seguir um novo caminho. Quero uma vida nova”, diz um dos socioeducandos” assinatura=”” esquerda_direita_centro=”direita”]

Segundo o adolescente, neste momento de alegria e descontração, ele se sente até mais à vontade para revelar os planos para o futuro: “Quando sair daqui, quero terminar meus estudos, cuidar da minha família, começar a trabalhar e seguir um novo caminho. Quero uma vida nova”, acrescenta

Ao todo, 20 adolescentes tiveram a oportunidade de participar do evento. O elenco de artistas incluiu também a banda de choro Geral do Regional; o vocalista do grupo Cangaceiros do Cerrado, Helder Nascimento; o grupo de capoeira UCDF e profissionais de dança de salão (bolero, zouk, samba, balé e forró).

Outras atividades 

A Unidade de Internação de Santa Maria conta hoje com 42 socioeducandos. Durante o período letivo, os adolescentes estudam em um turno e no contraturno realizam atividades profissionalizantes, como os cursos de pizzaiolo, salgadeiro, gestão em recursos humanos e robótica e/ou atividades de aprendizagem profissional em assistente administrativo, que garante uma bolsa salarial aos aprendizes.

[Olho texto=”A Subsecretaria do Sistema Socioeducativo possui 30 unidades socioeducativas no DF, 15 de meio aberto, seis de semiliberdade e nove de internação (estrita, provisória e atendimento inicial)” assinatura=”” esquerda_direita_centro=”direita”]

No ano passado, a unidade contou com a participação de 100% dos socioeducandos em algum curso profissionalizante. Nesta semana, foi iniciado o curso de pizzaiolo (12 socioeducandos estão participando em cada turno, totalizando 24) e está previsto começar o curso de robótica no final do mês (16 socioeducandos demonstraram interesse em participar).

Os cursos são realizados em parceria com o Senai, Senac e com o Instituto Campus Party. Na UISM também são desenvolvidas atividades ocupacionais de horticultura.

Dados gerais Subsis

A Subsecretaria do Sistema Socioeducativo (Subsis) possui 30 unidades socioeducativas no Distrito Federal: são 15 de meio aberto, seis de semiliberdade e nove de internação (estrita, provisória e atendimento inicial).

Conforme estabelecido no Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase), cabe às unidades socioeducativas ofertar aos adolescentes e jovens atividades de cultura, esporte e lazer, bem como acesso à escolarização, profissionalização, saúde e outras. Para isso, as unidades socioeducativas de internação realizam ações de incentivo e promoção à cultura por meio de parceria com instituições da sociedade civil e públicas.

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Em 2021, levantamento realizado pela Coordenação de Internação da Subsis com adolescentes e jovens que cumpriram a medida socioeducativa de internação constatou que somente 10% possuíam uma situação judicial de nova medida socioeducativa ou inserção no sistema prisional. Ou seja, foi possível observar uma eficácia da medida para aproximadamente 90% dos casos.

*Com informações da Secretaria de Justiça e Cidadania do DF