01/03/2022 às 09:46, atualizado em 01/03/2022 às 14:56

Em breve, mais duas comunidades rurais sustentáveis

Agricultoras familiares das bacias do Descoberto e do Paranoá farão curso de capacitação, desenvolvido por meio de parceria

Por Agência Brasília* | Edição: Chico Neto

[Olho texto=” Serão capacitadas 20 profissionais agrícolas das bacias do Descoberto e do Paranoá” assinatura=” ” esquerda_direita_centro=”esquerda”]

Duas novas comunidades que sustentam a agricultura (CSAs) serão criadas em breve no Distrito Federal, com mulheres no comando. As agricultoras fazem parte de um projeto-piloto da Secretaria de Meio Ambiente (Sema), desenvolvido por meio do  CITinova, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). A iniciativa permitirá a capacitação, a partir de 20 de março, de 20 profissionais da agricultura das bacias do Descoberto e do Paranoá.

Grupos serão formados por comunidades lideradas por mulheres que fazem parte de um projeto-piloto da Sema | Foto: Divulgação/Sema

Nesse modelo, o agricultor deixa de vender seus produtos por meio de intermediários, aprendendo sobre organização de financiamento da produção.  Quem escolhe fazer parte de uma CSA deixa de ser apenas um consumidor e se torna um coagricultor. Passa a colaborar para o desenvolvimento sustentável da região, estimulando o comércio justo e valorizando a produção local, podendo conhecer de perto de onde vem o seu próprio alimento.

As CSAs têm tido sucesso no DF. Cada vez mais famílias investem nessa parceria com os agricultores, em troca de alimentos orgânicos produzidos nesse formato. A rede de CSAs de Brasília já conta com 35 unidades. “Essa capacitação se insere na continuidade do projeto de implantação de agroflorestas mecanizadas para que a atividade produtiva se transforme de fato em uma opção de renda mais amigável do ponto de vista ambiental e, principalmente, favorável à continuidade da produção de água na região”, define o secretário do Meio Ambiente, Sarney Filho.

O projeto, que também investe em recuperação de áreas de proteção permanente (APPs), atua nas duas bacias que abastecem o DF, Paranoá e Descoberto, com o objetivo de garantir a segurança hídrica da população.

Novas oportunidades

[Olho texto=”“O projeto me traz motivação para cultivar mais e manter a produção o ano todo” ” assinatura=” – Gizelma Fernandes, produtora” esquerda_direita_centro=”direita”]

A agricultora Adriana Rocha, do Assentamento Gabriela Monteiro, na Bacia do Descoberto, está entusiasmada. “Vamos aprender a organicidade da CSA, como fazer, montar o grupo, levar os produtos e colocar tudo no papel”, avalia. “Com essa porta aberta, o caminho vai ficar mais fácil”.

Moradora de uma parcela vizinha ao assentamento, a mãe de Adriana, Ilnéia Rocha, também valoriza a oportunidade: “Será muito bom, porque nós agricultoras precisamos dessa orientação. Vamos melhorar o plantio, a comercialização e o contato com os coagricultores”. A família Rocha produz tubérculos, folhagens e frutas.

Desde os 11 anos, Gizelma Fernandes mora na Chácara 58 do Combinado Agrourbano de Brasília (Caub), na Área de Relevante Interesse Ecológico (Arie) Granja do Ipê, na região da Bacia do Paranoá. Ela espera aumentar a produção com as vendas pelo sistema da CSA. “O projeto me traz motivação para cultivar mais e manter a produção o ano todo”, disse.

Gizelma fará parte de uma das duas novas CSAs, ao lado da vizinha Gedilene Lustosa, que tem boas expectativas de aprendizado e muito interesse no curso. “É uma oportunidade para a minha família”, ressalta Gedilene. “Meu marido e meu filho mais velho têm a agricultura como atividade principal. Eu sou uma grande entusiasta e incentivadora, deles e da comunidade.”

Atualmente, elas produzem mandioca, banana e abacate. Para montar o CSA, vão ampliar a produção para jiló, berinjela, tomate cereja, rúcula, cebolinha, entre outras espécies. “O pessoal diz que a banana daqui tem um gosto diferente; acho que é porque eu ando no meio da agrofloresta conversando com as plantas”, brinca Gizelma.

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Educação ambiental

Com o tronco da bananeira, após a poda, Gizelma fabrica papel artesanal. Já levou esse saber para crianças de escolas vizinhas, presidiárias e refugiados. “Uso casca de cebola, palha de milho e flores de bougainville na decoração dos papéis”, conta. “Sempre ensino que devemos usar as que já estão secas ou caídas no chão, que não devemos colher uma flor que está viva e no auge da sua beleza”.

Em 2017, Gizelma ganhou o prêmio de iniciativa rural sustentável da Sema por esse trabalho de educação ambiental. Quando deu aulas no presídio em Formosa (GO), lembra, ouviu de uma aluna algo que valorizou sua escolha: “Professora, eu estava me sentindo igual àquele papel que vira lixo. A senhora me mostrou que posso mudar, assim como esse papel que eu fiz, que saiu das minhas mãos”. A educadora defendeu uma dissertação sobre esse trabalho social na pós-graduação em psicologia transpessoal na Unipaz, em Brasília.

As aulas

O curso aborda a história do CSA no mundo e no DF, incluindo visitas de campo, princípios de planejamento da produção e noções de como formar um grupo de coagricultores. Será ministrado pela Matres Socioambiental, empresa especialista em educação para a sustentabilidade, com apoio da Emater e da Unipaz.

O CITinova é um projeto multilateral desenvolvido com recursos do Global Environment Facility (GEF), implementado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). No DF, a executora do projeto é a Sema, em parceria com o Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE).

 

*Com informações da Secretaria do Meio Ambiente