21/11/2013 às 16:05, atualizado em 12/05/2016 às 17:53

Pioneiros de Brasília fazem história em Sobradinho

Cidade cativa seus moradores que de forma inusitada contam a trajetória da região

Por Fábio Magalhães, da Agência Brasília


. Foto: Mariana Raphael

BRASÍLIA (21/11/13) – Única cidade do DF a ser criada sobre uma serra, a 22km do centro da capital, Sobradinho dispõe de grande diversidade natural e é o local onde muitos pioneiros de Brasília escolheram para morar. Fundada em 13 de maio de 1960, dia da padroeira da cidade, Nossa Senhora de Fátima, a região conta com o comércio aquecido e com moradores apaixonados por onde vivem.

 

“Sobradinho representa toda a minha vida, tudo o que conquistei até hoje. Foi aqui onde consegui crescer e daqui só me mudo para o cemitério, e tem que ser o de Sobradinho”, brincou o comerciante mais antigo da cidade, Aristides de Almeida, 85 anos.

 

Baiano da cidade de Santa Luz, distante 258km de Salvador, Almeida veio para o Distrito Federal em 1959 para ajudar a dar forma ao sonho de Juscelino Kubitscheck, o de construir a capital da República.

 

Após 12 dias de viagem, de trem e de automóvel, ele desembarcou no DF, onde iniciou sua carreira trabalhando, por 10 dias, como servente de pedreiro. No ato da assinatura da Carteira de Trabalho, no entanto, o formalizaram como carpinteiro, ofício que foi obrigado a aprender com urgência.

 

Por terem trabalhado na construção de Brasília, muitos pioneiros viveram em barracos de madeira onde hoje é Sobradinho. Em meio ao mato alto e à terra batida o baiano passou a morar com a esposa, Maria Miranda Barreto, hoje com 70 anos.

 

“Depois da construção de Brasília, vim morar em Sobradinho, em 1961. Aqui, só tinha mato e terra, e na época eu morava sozinho. Tive de voltar à Bahia para buscar a minha esposa, de pau-de-arara. De volta a Sobradinho, começamos a passar dificuldades e foi aí que virei vendedor ambulante”, contou Almeida.

 

Para comercializar seus produtos, o pioneiro saía de casa ainda de madrugada para pegar um ônibus rumo ao Plano Piloto, onde ainda estavam os operários da capital. Os 22km que separam as duas regiões administrativas eram de estrada de terra percorridos vagarosamente por um coletivo.

 

Enquanto o esposo vendia suas mercadorias, Maria Barreto cuidava de uma banca de 2m² em uma antiga feira que existia em Sobradinho. No tempo livre ela lavava roupas para aumentar a renda.

 

Assim, o casal conquistou toda a comunidade e hoje é dono de vários automóveis e imóveis na região, inclusive de uma loja de variedades que funciona há 51 anos na cidade, tem seis funcionários e está sempre cheia de clientes que os chamam pelo nome, como velhos conhecidos.

 

“Já passamos por muitas dificuldades, já lavei muita roupa para os outros e mesmo assim não desistimos. Sobradinho nos acolheu e aqui fizemos nossa vida. Não pretendo sair daqui nunca, pois amo este lugar”, frisou Maria.

 

PASSADO – Cidade que cativa seus moradores, Sobradinho tem em sua história muitas lendas, a começar pelo nome, que possui várias explicações.

 

Uma das origens, segundo moradores mais antigos, é que antes de 1850 existia um cruzeiro feito em madeira rústica e erguido às margens de um ribeirão na fazenda que foi desapropriada para que a cidade tomasse forma.

 

Contam os pioneiros que, nesse mesmo cruzeiro, foram construídas duas casinhas do pássaro João-de-Barro, uma sobre a outra, no braço direito do símbolo religioso, fato que chamou a atenção de quem passava pelo local e que usou o pequeno “sobradinho” das aves como referência geográfica.

 

A história atrelada ao João-de-Barro é confirmada pelo juiz de paz mais antigo da cidade, Alberto Gomes da Silva, 77 anos, que oficializou cerca de 16 mil uniões –entre elas homoafetivas- em 33 anos de carreira.

 

De forma inusitada, Silva é conhecido em toda a cidade por prestar dois serviços essenciais à população: unir pessoas perante a Justiça e realizar cerimônias fúnebres, já que ele é dono de uma famosa funerária da cidade.

 

“Tenho uma relação de amizade muito grande com Sobradinho, me preocupo em lutar por melhorias e adoro viver aqui. Fui nomeado juiz de paz pelo presidente João Figueiredo e decidi criar a funerária depois que minha filha morreu, em 1987, para ajudar os outros e também ganhar dinheiro”, lembrou Silva.

 

Nascido no município de Xique Xique, na Bahia, o dono da funerária chegou a Sobradinho em 1962, após ter passado 25 dias viajando de pau-de-arara com a esposa e três filhos. Na cidade que o acolheu, ele optou por comercializar confecções e posteriormente mudou para o ramo em que atua hoje.

 

Em uma sala simples, onde funciona a funerária, na Quadra Central da cidade, Silva passa boa parte do dia atendendo seus clientes, que procuram o cerimonial fúnebre ou noivos à procura de um juiz para marcar a data do casamento e, como ele mesmo diz, “com direito a aconselhamentos, porque a vida de casado não é fácil”.

 

“Gosto muito da minha profissão e foi aqui em Sobradinho que pude me estabelecer. Nunca me mudaria daqui”, declarou.

 

Para melhorar a qualidade de vida dos moradores e estar mais próximo da comunidade, a partir de amanhã (22), até o próximo domingo (24), Sobradinho II sediará a segunda etapa do programa “GDF Junto de Você”.

 

Durante os três dias, a população poderá utilizar os serviços do Na Hora, Procon, além de atendimento oftalmológico, atividades culturais e esportivas, e participar de visitas guiadas ao Estádio Mané Garrincha, em ônibus que farão duas viagens diárias, sempre às 10h30 e às 14h30.

 

(F.M./M.D*)