Em entrevista exclusiva à AGÊNCIA BRASÍLIA, o secretário de Luís Otávio Neves fala sobre a vocação da capital para o turismo, do bom momento de expansão do setor e das metas do GDF

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31/07/2011 às 03:00

Brasília para o mundo

Em entrevista exclusiva à AGÊNCIA BRASÍLIA, o secretário de Luís Otávio Neves fala sobre a vocação da capital para o turismo, do bom momento de expansão do setor e das metas do GDF

Por


. Foto: Brito

Suzano Almeida, da Agência Brasília

“Infelizmente, por conta de tudo que o governo passou, o turismo foi mal utilizado e mal interpretado.”

Se o turismo é um mercado em constante expansão mundo afora, na capital federal não poderia ser diferente. Patrimônio Cultural da Humanidade, com monumentos ícones da arquitetura modernista e inúmeras belezas naturais em seus arredores, Brasília tem vocação turística de berço. Com a iminência da Copa do Mundo de 2014, surgem demandas novas e cada vez maiores: Brasília é forte candidata a sediar a abertura do mundial. Por isso o bom momento requer políticas ousadas para o hoje e para o futuro da capital.

 

Desde que se tornou o primeiro Patrimônio Cultural da Humanidade na Era Moderna, Brasília é um destino cada vez mais procurado por turistas. Com a Copa do Mundo, o conjunto arquitetônico da capital – que convencionou-se chamar de “museu ao ar livre” – ficará ainda mais em evidência, principalmente se for confirmada a expectativa de a cidade sediar a abertura do Mundial.

 

É sobre a política volta para o turismo, que impulsiona a economia local, que a AGÊNCIA BRASÍLIA conversa esta semana com o secretário de Turismo, Luís Otávio Neves. Ele comenta sobre a recuperação da pasta e o desenvolvimento de políticas para o hoje e para o futuro do setor, não só no Plano Piloto, mas em todo o Distrito Federal.

Qual a avaliação dos primeiros seis meses à frente da Secretaria de Turismo?

Desde janeiro estamos reestruturando a Secretaria, para fazermos aquilo que a gente propôs: trabalhar a infraestrutura turística com capacitação e parcerias, como com a Secretaria de Obras, entre outras propostas. Arrumamos a casa e tivemos uma excelente participação no Salão do Turismo, que mostrou como a nossa administração já está se destacando no contexto nacional, o que tem sido bem interessante. Infelizmente, por conta de tudo que o governo passou, o turismo foi mal utilizado e mal interpretado, e precisamos reconstituir a Secretaria de Turismo. O grande desejo do mercado turístico, por exemplo, era que existisse em Brasília uma empresa de turismo, que tivesse facilidade para fazer promoções e trabalhar melhor o turismo. Ela até foi criada, mas virou uma empresa de eventos e que acabou extinta.

 

O principal evento do turismo até 2014 será a Copa do Mundo, além da Copa das Confederações e da Copa América. Como está sendo feito esse trabalho de preparação e como Brasília deve se portar em relação no Turismo até lá?
Temos que trabalhar a questão da recepção e da infraestrutura, não só para o turista, mas para o brasiliense também, que é quem tem mais necessidade e mais amor pela cidade. Brasília estará bem para receber o turista que vem para a Copa do Mundo.

 

E como estão os preparativos para a Copa?

A preparação da Copa é capitaneada pelo governador Agnelo Queiroz e pelo secretário-executivo do Comitê Brasília 2014, Cláudio Monteiro. O carro-chefe dela é o Estádio [Nacional de Brasília], uma verdadeira arena multiuso e que será um grande legado para Brasília. Esse espaço vai proporcionar infinitas possibilidades de trazer grandes eventos para a cidade, por isso é tão importante a construção desse espaço multiuso.

Na mobilidade urbana, a Secretaria de Transportes está fazendo todos os estudos. Na hospedagem dos turistas para a Copa do Mundo, Brasília tem hoje 16 mil leitos e estão sendo construídos algo em torno de mais 6 mil. Temos ainda a Quadra 901, que entrará em processo de licitação para construção de hotéis e novos leitos. Mas isto por si só não basta para a Copa do Mundo, porque temos algo previsto para 200 mil visitantes à Brasília.

Há outras alternativas, que são projetos também do Ministério do Turismo, como o “Cama e Café”, áreas de camping e hospedaria. Agora, como a cidade necessita de novos hotéis, por já trabalhar no limite em determinados dias da semana, novas empresas querem se estabelecer em Brasília não só para a Copa do Mundo ou para a Copa das Confederações, que são eventos pontuais, mas porque a cidade está precisando por ter crescido e há estudos que mostram que Brasília é carente de leitos de hotel.

 

O que fazer para trazer a abertura da Copa para Brasília?

Esta é uma decisão política da Fifa (Federação Internacional de Futebol) e da CBF (Confederação Brasileira de Futebol). O que estamos fazendo é deixando a cidade prontinha para que, se a Fifa decidir abrir a Copa aqui, Brasília esteja apta. Agora, com as forças que São Paulo tem… A Odebrech anunciou um estádio para 40 mil lugares e a Fifa exige um mínimo 65 mil e eles vão complementar com uma arquibancada móvel. Então é uma força política muito grande que existe para se preferir São Paulo a Brasília, que terá o único estádio no mundo com o selo de sustentabilidade. Enfim, o que fazer para trazer a abertura da Copa eu não sei. Temos que convencer o presidente da CBF [Ricardo Teixeira] e o da Fifa [Joseph Blatter]. O fato é que estamos fazendo o dever de casa. Brasília estará pronta.

 

E depois?

Depois disso vamos trabalhar o legado, que é o mais importante para nós e o mais preocupante, como a cidade estará depois da Copa. Estamos trabalhando outros eventos. Não só esportivos, mas também a captação de grandes eventos científicos que movimentem a cidade e a economia. A cidade estando pronta para a Copa do Mundo estará pronta para qualquer evento.

 

E além de Brasília? Como está sendo trabalhado o desenvolvimento do turismo nas demais cidades do Distrito Federal?

Estamos começando a traçar ações com as administrações de Brazlândia, Ceilândia, Planaltina, Gama, entre outras. Brazlândia, por exemplo, tem a Catedral, a Festa do Morango, tem atrativos turísticos bem interessantes. Em Ceilândia, uma cidade com grande concentração de nordestinos, temos a Casa do Cantador. O administrador quer transformar a Feira da Ceilândia em um grande centro da cultura nordestina, como é a Feira de São Cristovão, no Rio de Janeiro. Ele está muito entusiasmado e veio à secretaria conversar sobre isso.

Em Planaltina temos a pedra fundamental, o Morro da Capelinha e vários outros pontos. É uma cidade diferente de Brasília, por ser charmosa, colonial, centenária, então é o contraponto de Brasília e a gente tem que investir muito nisso.

Eu defendo que, assim como o brasiliense sai para curtir Pirenopólis (GO), ele possa ir para Planaltina, para curtir e passar um final de semana lá. Nós temos que promover o turismo nestas regiões até para atrair o próprio brasiliense.

 

Como foi a participação no 6º Salão de Turismo?

O Salão de Turismo é o maior evento promovido pelo Ministério do Turismo anualmente, só com destinos do Brasil. Os interessados lá mesmo já podem comprar o pacote de viagem direto com a própria operadora. Fomos lá vender pacotes para o Lago Paranoá e as belezas que ele tem, o que nunca tinha sido vendido. No nosso estande tinha uma Ponte JK que ficou a coisa mais linda, tanto que as pessoas tiraram fotos, o que não é normal com os participantes de feiras. Também promovemos outros destinos de Brasília com um material muito bonito elaborado pela Secretaria de Publicidade do DF e ao longo do dia nos servíamos uma paella brasiliense, que é feita aos moldes da espanhola, só que com carne seca e outros ingredientes aqui do cerrado.

Depois de tantos anos como está o andamento do Projeto Orla?

Já começou. Tivemos a inauguração do Beira-Lago, ao lado da Ponte JK, e o Calçadão da Asa Norte, com um grande píer ao lado da Ponte do Bragueto para pescaria. O que é o mais badalado e mais solicitado é o Pólo 3, que envolve a Concha Acústica, que começou no governo Cristovam [Buarque] e que no governo [Joaquim] Roriz acabou tudo e que agora nós vamos retomar a obra. Estamos apenas esperando recursos do Ministério do Turismo para que sejam liberadas as obras do Pólo 3. Vai ficar muito bonito, com um calçadão. Um trabalho bem interessante. Mas o Projeto Orla é composto por 11 pólos. Nós ainda temos o Calçadão no final do Lago Norte e o Pontão, entre outros.

 

O senhor já chamou o Lago Paranoá de mar de Brasília. Qual a importância do Lago para o turismo da cidade?

O Lago Paranoá infelizmente não é utilizado por toda a população. Como eu gosto muito do lago e costumo ir muito lá, gostaria que a população também utilizasse. Projetos como o Orla são a democratização do Paranoá. O que é a praia na cidade? A praia é o local mais democrático que há na cidade. É isso que nós queremos fazer com o Lago Paranoá, para que as pessoas possam curtir o lago, nadando ou andando de barco de passeio, conhecer melhor ver outra Brasília, de dia ou de noite. Como não temos a praia, temos que fazer pólos que proporcionem ao brasiliense acesso ao Lago Paranoá.

 

E como será dado esse acesso ao lago?

Vamos montar um grupo de trabalho para se fazer o zoneamento do Lago Paranoá, onde se possa ter local específico para os jet-skis, lanchas, barcos, para as pessoas nadarem… Porque não dá para a pessoa com barco dividir espaço com quem quer nadar.

 

O está sendo feito para resgatar os monumentos do Distrito Federal?

Alguns dos monumentos são nossos, como a Torre de Televisão, onde já vamos começar uma reforma por agora, mas que precisávamos primeiro descer a feira que ficava lá e que era de responsabilidade da Secretaria das Cidades. Vamos começar uma obra na infraestrtura de baixo, o que nunca foi feito antes, desde sua inauguração; fazer obras de impermeabilização na parte de baixo, que comporta as rádios e TVs. Antes de ser um ponto turístico, ali funciona uma torre de transmissão para as rádios e as TVs. Então vamos arrumar todo aquele espaço, que está bem abandonado, para que elas possam funcionar normalmente sem goteiras, sem os problemas mais diversos que existem ali.

Vamos modernizar os elevadores e estamos com um projeto para uma nova ocupação do mezanino da Torre, onde já foi um restaurante, o Museu de Gemas do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e agora, depois da reforma, queremos dar um destino bem interessante. Estamos com alguns projetos, analisando o que é mais interessante para a população.

Além dos espaços que são nossos, existem outros que em sua grande maioria são da Secretaria de Cultura, principalmente os museus. O secretário [de Cultura] Hamilton [Pereira] está ciente, quer desenvolve-los e está se programando, colocando no orçamento do ano que vem a reforma de vários prédios, como a Biblioteca Nacional, o Panteão e a reforma do próprio Catetinho, que será reinaugurado em outubro deste ano.

Como estão as parcerias com a iniciativa privada e o governo federal?

Temos traçado alguns projetos com a iniciativa privada, com quem temos boas relações, mas ainda é muito pouco. O nosso grande aliado é o Ministério do Turismo e a Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo). Temos uma proximidade muito forte com eles. Estamos agora dentro do Ministério do Turismo com projetos de qualificação e capacitação e melhoria de espaços, como o que faz da Vila Planalto um centro gastronômico. Com a Embratur, estamos fazendo a promoção de Brasília no exterior, porque é papel da Embratur promover o Brasil no exterior. Eles estão nos ajudando bastante, principalmente nos países em que Brasília tem voos diretos. Hoje temos oito voos diretos saindo daqui.