Em conversa com a AGÊNCIA BRASÍLIA o secretário de Esporte, Célio René, fala de qualificação de gestores, políticas públicas e eventos esportivos internacionais

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16/10/2011 às 04:00

Esporte para todos

 

Em conversa com a AGÊNCIA BRASÍLIA o secretário de Esporte, Célio René, fala de qualificação de gestores, políticas públicas e eventos esportivos internacionais

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. Foto: Pedro Ventura

Dalila Góes, da Agência Brasília

“Os centros olímpicos do Distrito Federal são pontos fundamentais na formação e manutenção de atletas. […] É preciso, claro, rever o valor da Bolsa Atleta e inclusive prevemos a criação da bolsa Para-Desporto, para pessoas com necessidades especiais”

Em conversa com a AGÊNCIA BRASÍLIA o secretário de Esporte, Célio René fala de qualificação de gestores, políticas públicas e eventos esportivos internacionais.

São pelo menos cinco super-eventos esportivos no calendário de Brasília até o ano de 2017: Copa das Confederações (2013), do Mundo (2014), América (2015), jogos de futebol das Olimpíadas do Rio de Janeiro (2016) e, finalmente, a Universíade, jogos mundiais universitários. Ainda não confirmada como sede – Brasília disputa a vaga com Taipei, na China –, o campeonato faz brilhar os olhos do Secretário de Esporte, e também carateca, Célio René.
 
 “É a oportunidade de se criar e projetar atletas do Distrito Federal. Trazer mais crianças e jovens para uma vida saudável, longe de drogas”, pontua. Para esta turma, e também para a toda a população, foram criados, só neste ano, cinco centros olímpicos. O último, o do Gama, foi inaugurado no dia 12 de outubro, e serão mais seis até o fim do ano que vem.
     
Profissional do esporte, 41 anos, seis vezes campeão brasileiro e quatro Pan-Americano, o secretário é o primeiro ex-atleta profissional que assume a pasta. As credenciais lhe garantem uma visão diferenciada sobre o assunto, principalmente na questão das políticas públicas. Célio René, que também é professor licenciado de Educação Física da Secretaria de Educação, aposta em capacitação de técnicos e qualificação de gestores para arrumar o Esporte no Distrito Federal.
 
Em viagem, ele apresenta hoje nos jogos Pan Americanos de Guadalaraja a candidatura de Brasília à sede dos Jogos Mundiais Universitários – Universíade, em 2017.  Confira na entrevista desta semana da AGÊNCIA BRASÍLIA.

Qual o propósito da viagem aos jogos Pan Americanos de Guadalajara?

Brasília disputa a sede dos Jogos Mundiais Universitários, a Universíade de 2017, com Taipei, na China. Vamos ao México apresentar a nossa candidatura oficial à delegação da Federação Internacional do Esporte Universitário (Fisu). Inclusive, algumas das pessoas que estarão lá têm direito a voto, são pessoas que decidem. Por isso é importante mostrarmos empenho e interesse. Também participaremos de uma ação da Embratur que apresentará as doze cidades-sede da Copa do Mundo de 2014 a 500 jornalistas de vários países.

E por que é importante trazer a Universíade para Brasília?

A Universíade é considerada o terceiro maior evento esportivo mundial: só perde para a Copa do Mundo e as Olimpíadas. Veja só: 70% dos atletas que estarão em Brasília em 2017 terão participado das Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016. Nossa cidade virá de uma sucessão de grandes eventos: Copa do Mundo, Olimpíadas, Copa América e Copa das Confederações. Estes últimos jogos têm foco no futebol, e a Universíade é a oportunidade de se desenvolver de maneira significativa o esporte universitário e amador no Distrito Federal.

Como a candidatura de Brasília é vista pelo estrangeiro?

Estive recentemente na Bélgica para entregar à Fisu o documento com o detalhamento de como Brasília irá se preparar para receber a competição. Também vi de perto a última Universíade, que aconteceu em agosto, em Shenzhen, na China. Fomos muito bem recebidos e as pessoas acreditam bastante em Brasília. É inegável a força que as cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo têm quando se fala de Brasil. Por isso é importante destacar que o evento também servirá como uma projeção turística para todo o Distrito Federal. Outra coisa que nos deixa em vantagem são as pequenas distâncias entre os nossos estádios e a rede hoteleira. Impressiona muito aos organizadores da Universíade saber que o visitante não perderá tempo em trânsito para chegar ao Estádio Nacional, que o percurso pode ser feito a pé.

 
 Infelizmente hoje o que se vê é uma fuga de atletas do Distrito Federal. Eles escolhem outras cidades ou mesmo outros países para o treinamento. Como trazê-los de volta?

Uma boa observação. Nos últimos anos tem sido dada pouca atenção ao esporte escolar e também ao universitário. Hoje o nosso atleta de alto nível é um bom competidor, mas sem resultados. Um das primeiras medidas é mudar a nossa legislação, além de capacitar os técnicos e qualificar os gestores esportivos. Temos inclusive uma lei federal de incentivo ao esporte, mas no Distrito Federal são pouquíssimas as pessoas habilitadas a trabalhar com ela, a desdobrar a lei. É preciso também equipes multidisciplinares, como a ciência esportiva, por exemplo. Em eventos significativos, como a Universíade, podemos tocar neste assunto de forma ampla.  Fechamos uma parceria com a Universidade de Brasília (UnB), para a realização no mês que vem de um seminário de gestão de grandes eventos esportivos. Isso é importantíssimo. É o saber fazer, se preparar, mas é só um começo. A partir daí surgem outros desdobramentos.  Os centros olímpicos do Distrito Federal são outros pontos fundamentais na formação e manutenção destes atletas. Hoje são cinco centros em funcionamento (Gama, São Sebastião, Sobradinho, Ceilândia e Samambaia), e até o ano vem teremos mais seis (Brazlândia, Santa Maria, Riacho Fundo 1, Planaltina, Estrutural e outro em Ceilândia). O que eu quero dizer é que não adianta simplesmente arrumar o recurso. É preciso, claro, rever o valor da Bolsa Atleta e inclusive prevemos a criação da bolsa Para-Desporto, para pessoas com necessidades especiais.  É preciso também reequipar a nossa cidade, aqui entra também a importância da Universíade, que abrange várias modalidades.

Quando o senhor fala em capacitação de gestores, acredita que a sua experiência como esportista à frente da Secretaria seja um diferencial?

Acredito que eu tenha uma visão que é fruto de diversas passagens pelo esporte: primeiro como praticamente, depois atleta, técnico, dirigente de federação e como profissional e professor da área de educação física. Isso me dá a oportunidade de me cercar de pessoas ligadas à área. Digo que esta é a primeira secretaria na história do Distrito Federal realmente composta por esportivas. Por exemplo, temos a Ricarda (Lima), medalhista olímpica de vôlei, a Carmem de Oliveira, recordista de atletismo, o Marcelo Lima, campeão de natação, e outros que ainda virão.  A composição desta equipe, que ainda não está totalmente pronta, é feita com muito cuidado para termos várias visões e experiências diferentes na construção de uma política pública sólida. Mas, claro, é uma coisa a médio e longo prazo. Pegamos uma Secretaria difícil, sem definição de gestão pública, o que logo de início comprometeu várias de nossas ações para 2011. Veja só: nos centros olímpicos vamos preparar atletas para os jogos de 2020. E por que não para 2016, nas Olimpíadas do Rio de Janeiro? Porque, acredite, esses atletas já estão formados, eles só precisam de lapidação.

E como funcionarão os centros olímpicos do Distrito Federal?

Primeiro precisamos ter discernimento sobre as diferentes manifestações esportivas. Levando para o lado mais teórico, essas definições são: esporte de alto rendimento e competitividade (para profissionais e amadores), esporte de participação (jovens, idosos, toda a comunidade), e o esporte educacional (a criança que está descobrindo a prática esportiva). Acredito que as três são de grande importância e estão no mesmo nível, porém cada uma delas tem funções diferentes e a estratégia para chegarmos a um objetivo deve ser diferente. O centro olímpico nos possibilita trabalhar com várias modalidades e também parceiros, como a secretaria de Educação, por exemplo, ou a de Justiça, que tem o projeto de Esporte à Meia Noite. O espaço também está aberto às federações. Os termos de uso estão em nosso site (http://www.esporte.df.gov.br). Também há a elaboração de um projeto com o Comitê Para-Olímpico Brasileiro e o Cetefe-DF (Associação de Centro de Treinamento de Educação Física Especial) com assistência às pessoas com necessidades especiais. Como saúde pública, o esporte é prevenção. Dados da OMS (Organização Mundial de Saúde) apontam que para cada dólar investido no esporte são economizados três na saúde. Outra coisa: uma caminhada é prática esportiva. Corrida também. Em Brasília temos lugares muito bons para isso.

Hoje qual é o esporte-base, ou mais característico, do Distrito Federal?

Temos um histórico bastante positivo em várias modalidades e grandes nomes, como Joaquim Cruz no atletismo, e César Castro, nos saltos ornamentais. São apenas alguns exemplos. Mas para receber benefícios é preciso estrutura, e quando digo estrutura, falo de organização. Cada modalidade funciona de um jeito: a esgrima é um, o tênis é outro, o basquete é completamente diferente. Também destacamos a importância da massificação. Infelizmente ainda vivemos aquela história do esporte de ponta ser um projeto pessoal, uma coisa bem atleta e treinador, principalmente nas modalidades individuais.

Coisa que no futebol, por exemplo, é vista como forma de ascensão social…

Porque é um outro universo e faz parte da cultura do brasileiro. Temos praticantes de futebol em todo e qualquer lugar. E a política do futebol profissional é outra. Às vezes o time que revela e filia o garoto, que busca o talento, vale milhões. Para o estado interferir nisso, é delicado. Acredito que seja nossa competência e responsabilidade a manutenção de equipamentos públicos, por exemplo. No esporte futebol amador, foi remanejado R$ 1,7 milhão do orçamento totalizando assim R$ 2,6 milhões com os recursos já empregados pela Secretaria de Esporte. São mais de mil times beneficiados no Distrito Federal. Mas também investimos no campeonato local.

A vida útil de um atleta de ponta é baixa. O auge acontece, na maioria dos casos, aos 21 ou 24 anos. Isso não é um desestímulo à profissionalização do esporte no Brasil?

Competição de resultado é performance e performance depende do físico. Não tem jeito. Os melhores começaram ainda crianças. É aí na preparação deste atleta, e principalmente na conscientização de sua carreira, que entra aquele profissional que eu destaquei antes: o gestor esportivo. O atleta não precisa somente de uma pessoa que cobre resultados. Ele precisa de um bom administrador de sua carreira. Muita gente, de fato, desiste antes do auge justamente por falta de orientação e de perspectivas.