Na Escola Classe 10 de Sobradinho, 325 crianças da educação infantil e do ensino fundamental 1 tiveram refeições com laticínios, frutas e hortaliças. Alimentos foram fornecidos por pequenos agricultores por meio do Papa-DF

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09/02/2012 às 03:00

Queijo e iogurte no café da manhã

Na Escola Classe 10 de Sobradinho, 325 crianças da educação infantil e do ensino fundamental 1 tiveram refeições com laticínios, frutas e hortaliças. Alimentos foram fornecidos por pequenos agricultores por meio do Papa-DF

Por

Evelin Campos, da Agência Brasília

Pão brioche com mussarela e iogurte fizeram parte nesta quinta-feira (9) do café da manhã dos 165 alunos da educação infantil ao 4º ano do ensino fundamental da Escola Classe 10, em Sobradinho. A refeição foi preparada com alimentos produzidos por agricultores familiares do Distrito Federal, incluídos no Programa de Aquisição de Produtos da Agricultura (Papa-DF), criado por lei sancionada pelo governador Agnelo Queiroz na última terça-feira.
 
O programa permite a compra direta, pelo GDF, de alimentos e produtos artesanais de pequenos agricultores rurais e organizações sociais do setor agrícola. Inicialmente, 78 escolas públicas do DF (75 em áreas rurais) foram escolhidas para receber café da manhã. A meta é contemplar todas as unidades da rede gradativamente. Os produtos adquiridos por meio do Papa-DF também são utilizados na preparação do almoço e do lanche da tarde dessas escolas.
 
Para o secretário de Educação do DF, Denilson Bento da Costa, a distribuição de novas refeições nas escolas é uma forma de aprimorar a educação no Distrito Federal. “Oferecer mais esse complemento alimentar às escolas não é apenas cuidar da saúde física dos alunos. É, principalmente, prepará-los para melhor desenvolver o processo de aprendizagem”, avalia.
 
O subsecretário de Desenvolvimento da Educação, Márcio Aquino, acredita que o Papa-DF terá impactos em diversas frentes, entre elas a educacional. “A ação, que envolve três secretarias (Secretarias de Agricultura e Desenvolvimento Rural; de Educação; e de Desenvolvimento Social e Transferência de Renda), trará vantagens sob o ponto de vista pedagógico, já que estudos mostram que a alimentação influencia o aprendizado. Em uma perspectiva indireta, o programa causará redução na evasão e no abandono escolar, pois a escola será atrativa no âmbito nutricional”, afirma.
 
Alimentação e aprendizado – Somente na Escola Classe 10, 325 crianças da Vila DNOCS (região formada no Departamento Nacional de Obras contra as Secas), de condomínios do Grande Colorado e de Sobradinho são beneficiadas com cardápio variado elaborado pela Secretaria de Educação. Destes 325, 165 alunos recebem café da manhã e almoço no turno matutino, e 160 recebem almoço e lanche à tarde.
 
Para o diretor da Escola Classe 10 de Sobradinho, Marcílio Lacerda, a compra de alimentos dos pequenos produtores representa não apenas uma estratégia de inclusão social da categoria, mas também uma forma de promover melhorias no ensino. “Essa alimentação balanceada diminui muito a evasão escolar, além de melhorar o desempenho dos alunos em sala de aula. Nossa expectativa é que, com o cardápio variado, a frequência e o interesse das crianças aumentem ainda mais”, destaca Marcílio.
 
A professora do 4º ano Tânia Lúcia Franklin percebe a evolução de seus alunos com a nova dieta. “Muitos vêm de casa sem tomar café da manhã e, para outros, as refeições feitas na escola são as únicas do dia. Sem uma alimentação correta, as crianças ficam mais lentas, têm seu desenvolvimento prejudicado e não rendem. Mas quando comem bem, ganham mais energia e disposição para aprender”, conta a educadora.
 
O cardápio diversificado e controlado da escola também é uma oportunidade de incentivo aos hábitos alimentares saudáveis. “Sempre alertamos os alunos sobre a importância de uma alimentação balanceada, com frutas, saladas e leite”, afirma Tânia.
 
A dona de casa Alciléia Santos, 30 anos, concorda e diz estar satisfeita com os cuidados dedicados à alimentação da filha de 10 anos na escola. “A Milene sempre fala sobre o que comeu: biscoito, leite, galinhada, frutas. Qualquer pessoa aprende melhor quando está bem alimentada”, pondera.
 
Dieta balanceada – O cardápio das escolas públicas do DF é planejado por nutricionistas da Secretaria de Educação. Entre os critérios de escolha dos alimentos está o valor nutricional das refeições e a dificuldade de acesso das famílias aos produtos.
 
À frente da Gerência de Alimentação Escolar (GAE) da Secretaria de Educação, a nutricionista Eliene Sousa coordena a elaboração dos cardápios. “Escolhemos alimentos que muitas famílias não têm condições de comprar pelo alto custo, com destaque para laticínios, frutas e hortaliças. Esses produtos são fontes ricas em nutrientes essenciais ao crescimento e desenvolvimento do estudante, como fibras, vitaminas e minerais”, explica Eliene.
 
Com o Papa-DF, as escolas rurais ganharam mais uma refeição (o café da manhã e o lanche da tarde), além de variedade no cardápio. “Antes oferecíamos biscoito, leite. Agora temos mais opções, como iogurte, manteiga, bebidas lácteas e queijo”, enumera a gerente.
 
Uma das metas da Secretaria de Educação é aumentar a quantidade de frutas no cardápio de todas as 652 escolas públicas do DF. As instituições com maior vulnerabilidade social terão café da manhã, almoço e lanche da tarde. Nas demais o lanche será servido no meio da manhã ou da tarde, com grande variedade de frutas. A ideia é reduzir o índice de obesidade e sobrepeso nesse público.
 
Dos campos para as escolas – O iogurte e o queijo consumidos pelos alunos da Escola Classe 10 de Sobradinho e de outras 12 escolas são feitos pela Cooperativa Agropecuária de São Sebastião (Copas), que também fornece achocolatado e manteiga para a Secretaria de Agricultura do DF por meio do Papa-DF.
 
Para o gerente geral da entidade, Marcos Sampaio, o incentivo do Papa-DF é uma oportunidade para o crescimento de toda a cadeia produtiva. “Além de favorecer as crianças com uma alimentação melhor, o programa favorece o outro lado da cadeia. Porque produzir é fácil, mas comercializar é difícil. Com o Papa-DF, podemos produzir de janeiro a dezembro sem preocupação, pois temos para quem vender a um preço justo”, ressalta Marcos.
 
A matéria-prima dos produtos fabricados pela Copas, o leite, é fornecida pelo produtor Rivaldo José Gonçalves, que em 2005 trocou a carreira militar na zona urbana pela vida no campo ao comprar seis animais para ordenha. Hoje, Rivaldo conta com 21 animais e coleta, sozinho, cerca de 170 litros de leite por dia em sua chácara na área rural de São Sebastião.
 
O leite fica armazenado na propriedade de Rivaldo e, a cada dois dias, um caminhão da Copas recolhe o produto e leva até a cooperativa, onde 23 pessoas fabricam os alimentos consumidos nas escolas. A Copas também tem 126 cooperados como Rivaldo, que encontrou nos incentivos aos agricultores familiares independência e segurança. “Antes eu produzia muito e não tinha para quem vender. Com isso minha renda era reduzida. Esse programa é uma possibilidade de crescimento no campo e geração de empregos, além de ser um estímulo para os vizinhos rurais”, diz Rivaldo.

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