Thais Antonio, da Agência Brasília
A 1ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura tem como um dos homenageados o mineiro Ziraldo, cartunista e autor de dezenas de livros infantis. Duas exposições mostram ilustrações do mineiro de Caratinga. Zeróis: Ziraldo na tela grande é composta por 44 telas com releituras de obras de arte feitas a partir do desenho de super-heróis americanos, como Superman, Batman, Capitão América e Mulher Maravilha, além de cenas criadas exclusivamente para a exposição. Noções de coisas – Ziraldo ilustra Darcy Ribeiro exibe as páginas do livro escrito pelo antropólogo Darcy Ribeiro sobre “coisas”, ilustrado por Ziraldo.
“A 1ª Bienal Brasil do Livro e da Leitura homenageia duas grandes figuras da literatura. Um estrangeiro, o africano Wole Soyinka, primeiro negro premiado pelo Nobel. Vamos homenagear também o brasileiríssimo Ziraldo”, declarou o secretário de Cultura do DF, Hamilton Pereira. “Ziraldo é uma figura que encanta gerações e estimula a inteligência, a irreverência, a liberdade criativa e a invenção a partir da matriz cultural desse país que é indígena, que é herdeiro das culturas africanas, que é herdeiro das culturas ibéricas e que é uma cultura jovem aberta ao mundo”. O cartunista mineiro será homenageado em ato solene no dia 23 de abril, no Auditório Nelson Rodrigues, do Espaço Bienal.
Ziraldo é conhecido por seus personagens famosos, como o Menino Maluquinho, a Turma do Pererê e Flicts. Em Zeróis, mostra a faceta de pintor. A exposição pode ser vista até 29 de abril, no Museu Nacional do Conjunto Cultural da República, de 9h às 18h30, e faz parte da programação oficial do GDF em comemoração aos 52 anos da Capital Federal. “Minha relação com Brasília é antiga. Fui o responsável pelo I Concurso Miss Brasília, antes mesmo de a cidade ser inaugurada. Fazia parte da equipe de O Cruzeiro e fui à capital mais de 10 vezes antes de sua inauguração, quando ela ainda era pura poeira. Sou um antigo fã de Brasília”, disse Ziraldo.
A maior parte do quadros da exposição Zeróis foram criados para a pintura, ou seja, não reproduzem quadrinhos. E foi justamente a partir dessa nova linguagem que surgiu a ideia de dialogar com o trabalho de outros artistas. As pinturas de Ziraldo reverenciam telas de artistas como Pablo Picasso, Diego Velázquez, Francisco Goya, Salvador Dali, Andy Warhol, entre outros. “A coleção de quadros que aqui apresento resulta de mais de cinco décadas de busca. A história em quadrinhos foi o berço onde a pretensão deste trabalho nasceu, e onde mergulhei de cabeça há cinco anos. E aqui está a pintura que me dá a alegria de dizer: – Meu Deus, era isto que eu queria fazer…!”, diz Ziraldo.
Visitantes – As estudantes da Universidade de Brasília (UnB) Regina Lemos e Kamila Silva foram à mostra Zeróis depois de visitarem o Espaço Bienal. “Já tinha vindo no sábado, mas vim sozinha, com pressa. Hoje convidei minha amiga para vir comigo e tive uma outra interpretação da exposição, fui degustando cada quadro”, disse Kamila. “Na escola, tive mais contato com as obras dos pintores clássicos e olhar essas obras de um jeito mais lúdico é ótimo. Amplia o olhar sobre as artes”. Regina contou que cresceu lendo histórias em quadrinhos e aprovou a ideia de Ziraldo. “Ver os quadrinhos em uma versão mais culta é muito interessante”, afirmou.
A designer Ludmila Lima veio de São Paulo para a Bienal. Como trabalha com ilustração, usa o traço de Ziraldo como referência. “Conhecia mais os livros infantis dele. Nunca tinha visto os originais assim, pintados em tela. É bom conhecer as técnicas dele”, disse, referindo-se à parte de exposição em que estão expostos esboços e estudos dos quadros, feitos em papel. “Pelos quadros do Ziraldo fica a impressão de que os heróis não são tão super-heróis. São humanos e têm suas próprias mazelas. As telas desmistificaram um pouco a imagem deles.”
A exposição Zeróis: Ziraldo na tela grande conta com uma equipe multidisciplinar para guiar o público escolar e o público em geral. Ao longo da exposição, a Secretaria de Educação do Distrito Federal vai levar aproximadamente 3,5 mil estudantes da rede pública de ensino para conhecer os trabalhos do artista.
Noções de coisas – A exposição do livro escrito por Darcy Ribeiro e ilustrado por Ziraldo está montada no Espaço Bienal e fica aberta de 9h as 22h, até 23 de abril. As páginas do livro são reproduzidas em banners e os visitantes podem ler a obra completa em um stand montado especialmente para esta homenagem.
O secretário de cultura do DF, Hamilton Pereira, prestigiou o stand, em visita à Bienal. “Tanto Darcy quanto Ziraldo nasceram em Minas Gerais. Darcy, um homem de uma inteligência invulgar, tinha uma grande virtude: era muito irreverente. Irreverente como Ziraldo”, destacou. Para o secretário, os dois foram agentes importantes do pensamento no Brasil. “Ziraldo se encontra aqui na bienal com a Brasília que fez parte da vida de Darcy. Esta exposição é uma dupla homenagem, porque comemora os 52 anos de Brasília e os 50 da Universidade de Brasília”. O antropólogo Darcy Ribeiro fundou a UnB.
O estudante do Centro de Ensino Especial nº 1 de Brasília Lucas Barozzi visitou o stand com a reprodução do livro ilustrado por Ziraldo e aprovou a arte do cartunista. “Achei a exposição bonita”, disse empolgado.
O transporte para a Bienal é fruto de uma parceria entre as secretarias de Educação e Cultura do DF, que irão levar alunos de 630 escolas da rede pública à bienal. Os estudantes recebem também um lanche durante a visita.
Foto: Mary Leal
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