19/10/2012 às 16:25

Resgate da memória candanga

Pioneiros e moradores do Núcleo Bandeirante se reúnem no Varal da Memória para contar histórias na Casa da Cultura, onde estão expostas cerca de 300 fotos

Por Ailane Silva, da Agência Brasília


. Foto: Lula Lopes

A Administração Regional do Núcleo Bandeirante promove, ao longo desta sexta-feira (19), em parceria com o Arquivo Público do DF (ARPDF), o Varal da Memória, evento que expõe documentos e registros fotográficos que contam a formação da região administrativa. Ele acontece na Casa da Cultura.

A iniciativa tem a participação, ainda, de pioneiros do lugar. “Temos mais de 100 pioneiros nesta cidade. Eu me sinto emocionado com este trabalho de reconstrução da história. Estou revivendo os meus 10 anos, 11 anos ,12 anos… tudo de novo”, emociona-se João Tenório de Albuquerque, 63 anos, um dos primeiros residentes da região e presidente da Associação de Pioneiros do Núcleo Bandeirante.

Tenório, que viajou quase sete dias para chegar de uma fazenda em São Paulo a Brasília, recorda-se das primeiras características do lugar. “Não tinha muita diferença da fazenda, porque aqui também tinha muito mato. Lembro, ainda, do pau de arara para locomoção e dos diferentes sotaques das pessoas que chegavam”, recorda. “Meu pai trabalhou como comerciante e eu o ajudava. Depois, trabalhei em vários órgãos do governo”, completa.

O aposentado João Cândido da Silva, 71 anos, veio do Rio Grande do Norte. Ele conta que fez a viagem de 12 dias com alguns amigos.“Viemos pela promessa de emprego. Fui contratado pela Companhia Urbanizadora da Capital (Novacap) e trabalhei na barragem por 11 meses”, afirma. “Tive meus cinco filhos aqui e sinto que esta é minha cidade-mãe.”

O resgate da história do DF motiva eventos como o Varal da Memória. Segundo o superintendente do ARPDF, Gustavo Chauvet, há mais de 1 milhão de fotos dos últimos 50 anos do DF que precisam ser identificadas. “Por isso, estamos promovendo essa iniciativa, que deve passar por todas as cidades do DF. A urgência é para as fotos de 1956 a 1966. Quanto mais antigas as fotos, mais difícil é o resgate da informação”, explica.

Em cidades mais antigas, como Planaltina, Brazlândia, Sobradinho e Gama, o trabalho de resgate da história é mais difícil, segundo Chauvet. Em Brazlândia, Vila Planalto, Granja do Torto, Sobradinho, Núcleo Bandeirante e Cruzeiro, o serviço está bem adiantado.

História – O Núcleo Bandeirante é uma das localidades mais tradicionais do Distrito Federal. A área era integrada pela Velhacap, posteriormente denominada Candangolândia, com função administrativa; pelo Núcleo Bandeirante, com função comercial; e o HJKO, para prestar serviços hospitalares.

O Núcleo Bandeirante ficou conhecido como Cidade Livre, já que isentava de impostos comerciantes que se instalassem no local durante o período da construção de Brasília (1956-1960).  Ao longo desses anos, o loteamento estava destinado exclusivamente ao uso comercial. Os lotes foram cedidos em sistema de comodato, isto é, a escritura não era definitiva e deveriam ser devolvidos à Novacap no final de 1959.

Para impedir o fim do Núcleo Bandeirante, em abril de 1960, foi iniciado o movimento Pró-Fixação e Urbanização do Núcleo Bandeirante (MPFUNB), de residentes e usuários da cidade que reivindicavam a fixação no local. O movimento foi ganhando força e a vitória dos moradores ocorreu por meio da Lei nº 4.020, de 20/6/61, aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada pelo presidente da República, João Goulart.