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29/11/2013 às 15:07
Quase metade da população da cidade veio de outros estados brasileiros
CEILÂNDIA (29/11/2013) – Quem hoje passa pela cidade mais populosa do Distrito Federal, com mais de 450 mil habitantes, talvez não imagine que 49% das pessoas que vivem lá atualmente vieram de outros estados brasileiros. Criada em 1971, Ceilândia surgiu pela Campanha de Erradicação das Invasões (CEI) e guarda em sua história a luta de brasileiros como dona Edite Martins, a primeira moradora da cidade, que acabou transferida com seus três filhos pequenos da Vila do IAPI para o assentamento que se formava a 21km das construções do Plano Piloto.
“Vivia em um barraco no IAPI, um dia o pessoal do governo colocou um recado, avisando que iam derrubar tudo e nos levar para outro canto. Nem sabia onde ficava isso. Fui premiada com esse lote, o meu foi o primeiro barraco a ser arrancado, fui a primeira em Ceilândia. Mudei para cá com meus três filhos pequenos, depois tive mais dois”, lembrou Edite.
No dia 27 de março do ano de criação da cidade, às 9h, o então administrador do local, Hélio Prates, lançou a pedra fundamental de Ceilândia. O nome da cidade foi escolhido pelo então secretário de Serviço Social, Otamar Lopes Cardoso. A primeira sílaba veio da sigla CEI, para relembrar o processo importante pelo qual a cidade havia passado, e o complemento “lândia”, que tem origem norte-americana e significa “cidade”; alguns dizem que apenas se adotou o modismo de sufixos em inglês da época.
Naquele dia, 20 famílias seriam assentadas, mas foi dona Edite a primeira a receber seu pedacinho de terra, que ficava na QNM 23, Conjunto P, lote 12. Um culto ecumênico marcou a conquista dos novos moradores de Ceilândia.
Dona Edite veio do Espírito Santo apenas para assistir ao casamento de um primo. Anildo Gomes trabalhava na Novacap, na construção da capital federal. A capixaba, que ficou surpresa com a união do primo com uma moça que ele havia conhecido na nova capital, fez parte da viagem até Brasília de trem e outra de ônibus.
“De Vitória a Belo Horizonte eu fui de trem, lá pegamos um ônibus para chegar a Brasília”, afirmou Edite, que fazia a viagem aos 24 anos com dois primos que tinham a mesma idade e um tio que era o responsável pelo trio.
Mesmo com a distância, Dona Edite diz que não se cansou, tudo era festa para eles. “Éramos todos jovens, não nos importávamos com nada”, ela contou ao se recordar de um episódio engraçado durante a viagem.
“Foi muito engraçado, estava indo para um casamento, então coloquei na mala um vestido novo, sapato, joias… e foi tudo perdido. Quando chegamos na Rodoviária do Plano Piloto, e eu fui pegar a minha mala, cadê? No lugar estava a mala de um homem, igualzinha à minha, mas praticamente vazia. Tinha só uma marmita, duas calças e um barbeador”, lembrou aos risos.
No entanto, mesmo com as dificuldades, a relação com Brasília foi amor à primeira vista. Dona Edite se apaixonou pela cidade que começava a nascer e nunca mais quis sair.
A senhora de risada simpática, que completou 73 anos este mês, já está aposentada, mas faz questão de continuar trabalhando. Ela é doméstica, em uma casa na Asa Sul, e passa a semana inteira no serviço, mas garante que conta os minutos para voltar para sua cidade. “Já estou aposentada, mas trabalho porque eu amo fazer isso. Adoro a minha patroa, ela é uma grande amiga, passo a semana com ela, mas adoro quando o fim de semana chega e eu vou para casa”, desabafou.
Dona Edite ainda vive em Ceilândia, mas hoje em novo endereço. Três de seus filhos vivem com ela e outro se mudou para Salvador. “Não troco a minha cidade por nada. Foi aqui que criei minha família, já tenho até um neto. Quando cheguei aqui era só barro”, disse Edite, que se declara feliz por ver a cidade crescer. “A gente sofreu, mas a gente venceu”, complementou emocionada.
CAIXA D’ÁGUA – A pedra fundamental na cidade hoje chama a atenção de longe. Não há quem não conheça a caixa d’água da cidade, que, do alto, mostra onde tudo começou. Ceilândia cresceu ao redor do reservatório, que hoje é reconhecido e tombado como um patrimônio histórico do DF.
“A Caixa D’Água é um ícone da memória da construção de Ceilândia. Quando fomos procurados pela comunidade, acatamos o pedido, fizemos uma pesquisa e consideramos que esse tombamento é uma grande vitória para os moradores da cidade”, declarou o secretário de Cultura do DF, Hamilton Pereira.
(V.F./M.D.*)