07/04/2015 às 21:04

Comissão representará Brasília em encontro internacional sobre água

Capital federal sediará o evento daqui a três anos. Neste mês, as discussões começam no domingo (12), na Coreia do Sul

Por Paula Oliveira, da Agência Brasília


O secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação, Paulo Salles, e o diretor-presidente da Adasa, Vinícius Benevides
O secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação, Paulo Salles, e o diretor-presidente da Adasa, Vinícius Benevides. Fotos: Andre Borges/Agência Brasília e Renato Araújo/Agência Brasília

Apesar de o Distrito Federal ser uma das unidades da Federação com menor quantidade de água por habitante, a capital do País se destaca como gestora dos recursos hídricos que possui. O monitoramento, a qualidade e a eficiência na distribuição da água diminuem consideravelmente o risco de desabastecimento. No entanto, o DF tem muito a melhorar: é preciso conter o desperdício, aprimorar os processos de despoluição e desenvolver mecanismos para tornar o uso do insumo na agricultura mais eficaz. “Temos imensos desafios e queremos que Brasília, ao fim de quatro anos, seja exemplo de desenvolvimento sustentável para o Brasil e para o mundo”, disse o governador Rodrigo Rollemberg nesta terça-feira (7), durante a assinatura do memorando de entendimento para a realização em Brasília do 8º Fórum Mundial da Água em 2018.

Neste mês, dos dias 12 a 17, a Coreia do Sul sediará o Fórum, com programação em duas cidades: Daegu e Gyeongbuk. Uma comissão formada por oito pessoas representará Brasília. O presidente da Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do DF (Adasa), Vinícius Benevides, um diretor e quatro técnicos ministrarão palestras no evento. O secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação do DF, Paulo Salles, embarca como convidado da Adasa para representar o governador. A presidente da Câmara Legislativa, deputada Celina Leão (PDT), completa o grupo. Durante o encontro na Ásia, será apresentada a marca do evento em Brasília.

O Fórum Mundial da Água ocorre a cada três anos e é organizado pelo Conselho Mundial da Água em parceria com o país e a cidade anfitriões. O Brasil será o primeiro país do Hemisfério Sul a receber o evento. A Agência Brasília conversou com Vinícius Benevides e Paulo Salles para saber das expectativas para o Fórum.

Paulo Salles – secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação do DF

O que se espera do Fórum?
Ao longo dos três últimos anos, desde a última edição do Fórum [na França], o DF participou de uma série de discussões promovidas pela Adasa, pela Agência Nacional das Águas e pela Universidade de Brasília. Conseguimos reunir uma pequena comitiva para tratar da disponibilidade de água, dos planos de recuperação de reservas naturais e de combate à poluição, dos mecanismos para evitar desperdícios e das nossas necessidades no que diz respeito à tecnologia para o uso da água na indústria e na agricultura. Vai ser uma troca grande de experiências. Vamos levar as experiências do Brasil e aprender muito com os outros países.

Qual seria a posição de Brasília em um ranking da água no Brasil?
Somos um dos piores em termos de disponibilidade de água por habitante. Ganhamos apenas de Pernambuco e do Piauí. Essa situação tem se agravado pela ocupação desordenada do solo. Brasília foi criada para ser uma cidade sustentável, e tínhamos tudo para isso. Precisamos urgentemente de um grande programa de recuperação das nascentes e de despoluição da água, além de aperfeiçoar tecnologias para diminuir o desperdício, como atualizar a rede de hidrômetros [aparelho que mede o consumo de água nos imóveis]. Precisamos também incentivar programas de modernização tecnológica para usar a água de maneira mais eficiente na agricultura.

Qual é a expectativa para o Fórum de 2018?
Estamos nos preparando para dar bom exemplo com programas e com trabalho de conscientização sobre a importância de sermos sustentáveis no uso e no tratamento da água. Precisamos urgentemente colocar a água como preocupação central das nossas vidas e da nossa economia, antes que a gente chegue ao limite. Os órgãos do governo estão se mobilizando para aprofundar as discussões. Ser sede do Fórum Mundial da Água deve reunir na capital do País cerca de 40 mil pessoas de todo o mundo durante uma semana. Vai ser importante para todos os setores. Já temos até um slogan: Brasília – Capital das Águas.

Vinícius Benevides – presidente da Adasa

O que Brasília vai mostrar na Coreia do Sul?
A capital do País construiu uma rede de informações eficiente para saber qual a quantidade de água disponível, onde ela está e qual a qualidade do líquido. Para dar mais segurança a esses dados, a Adasa se baseia em um estudo que a guiará até 2040. Vamos mostrar também que Brasília tem acima de 80% do esgoto tratado e que a ideia é chegar a 2018 com mais de 90%. No tratamento da água, o desperdício é de cerca de 27%. Vamos reduzir para 20% com a troca dos hidrômetros coletivos pelos individuais. A perda de Brasília é a menor do Brasil, mas a ideal para a nossa realidade seria 15%.

Se Brasília é uma das unidades da Federação com menos água disponível, temos risco de desabastecimento?
De fato, somos uma das piores nesse sentido, mas não sofremos com isso porque temos gestão eficiente dos recursos hídricos. Conseguimos nos organizar nessa área, temos técnicos e equipamentos de alto nível. O nosso sistema de monitoramento é tão avançado que usamos dados de satélites. Contamos com informações sobre as nossas reservas em tempo real. Temos sete pontos de recolhimento de dados e, até o fim do ano, mais 12. A gente só consegue ter boa gestão, se tiver informação. Temos planejamento, legislação específica federal e distrital, técnicos especializados, equipamentos modernos e fiscalização. Não podemos garantir que não corremos o risco, mas é certo dizer que minimizamos muito a possibilidade de desabastecimento.

O que significa ser sede do Fórum?
Significa que o Brasil tem o reconhecimento sobre a sua capacidade de gerir os recursos hídricos, de construir usinas hidrelétricas e de distribuir de maneira eficiente a produção. Levar água para a torneira das casas não é algo muito simples. Significa também o reconhecimento da capacidade dos nossos técnicos. A água no Brasil não é bem distribuída. Temos regiões com excesso e outras com falta desse insumo. Poucos países têm profissionais especializados nesses dois extremos ao mesmo tempo. Fomos obrigados a criar expertises e isso valoriza nosso trabalho. Temos muito a ensinar também.

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