31/05/2016 às 08:05, atualizado em 17/06/2016 às 15:22

Secretaria emite nota técnica para ajudar produtores de milho

Documento explica fatores de queda da produção, que chegou a 70% nesta safra. Lucas Michalski colheu 90 toneladas a menos de grãos 

Por Jade Abreu, da Agência Brasília

Ao contrário do que foi informado anteriormente, a perda na safra de milho neste ano foi avaliada em R$ 116 milhões — e não em R$ 62.263.485, dado que corresponde a amostragem da Expedição Safra-Brasília. O prejuízo foi de 2,5 milhões de sacos de 60 quilos, e não de 1.383.633 sacos de 50 quilos.    

Produtores de milho passaram por períodos de estiagem em fevereiro, março e abril — meses em que a chuva é necessária para o cultivo do grão. A seca impactou a safra no ano, e a Secretaria da Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural estima uma redução de 70% da quantidade de milho. A perda está avaliada em R$ 116 milhões, o que significa 2,5 milhões de sacos de 60 quilos do grão a menos que serão colhidos.

A secretaria divulgou na sexta-feira (27) nota técnica no site e no Diário Oficial do Distrito Federal com essas informações. Segundo o estudo, o El Niño — fenômeno climático que ocorre no Oceano Pacífico — afetou as chuvas no Brasil. Em Brasília, desde 1962, a média pluviométrica de abril é de 123,8 milímetros; em março, de 180,6 milímetros; e em fevereiro, de 217,5 milímetros. No entanto, neste ano, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) registrou 10,8 milímetros em abril, 151 milímetros em março e 84,9 milímetros em fevereiro.

A estiagem no primeiro trimestre prejudicou a safra de milho no Distrito Federal, com perda de produtividade estimada pela Secretaria de Agricultura em 70%.

A estiagem no primeiro trimestre prejudicou a safra de milho no Distrito Federal, com perda de produtividade estimada pela Secretaria da Agricultura em 70%. Foto: Pedro Ventura/Agência Brasília

O secretário da Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural, José Guilherme Leal, afirma que o papel da pasta é auxiliar a administração e dar suporte aos produtores durante os momentos críticos. “Lançamos a nota técnica para embasar e apoiar os produtores que não puderem cumprir os contratos ou tiverem que solicitar novos financiamentos”, explica.

Os grãos produzidos em Brasília são usados principalmente para virar ração para porcos e aves. O secretário explica que é possível que haja um impacto no preço dessas carnes futuramente. Leal acrescenta que, se for necessário, pedirá ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento ajuda para repor o déficit de milho e não comprometer o preço das carnes para o consumidor brasiliense. Segundo o secretário, o órgão do governo federal tem estoques com o grão para esses momentos.

O gerente e técnico da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Distrito Federal em Tabatinga, Lucas Pacheco, afirma que a região é produtora de grãos e que a seca impactou os produtores. De acordo com o gerente, antes da divulgação da nota técnica, ele preparou laudos a pedido de produtores que comprovassem a perda na agricultura. “Teve gente que perdeu 100%”. A Secretaria da Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural entrevistou 59 produtores de milho, dos quais 53% apresentaram uma estimativa de quebra da produção do que foi plantado.

Cultivo

O produtor Lucas Michalski calcula perda de 90 toneladas nesta safra.

O produtor Lucas Michalski calcula perda de 90 toneladas nesta safra. Foto: Pedro Ventura/Agência Brasília

O produtor Lucas Michalski, de 31 anos, planta milho e outros grãos desde os 16 anos. A família gaúcha e de origem polonesa tem uma fazenda de 60 hectares no Núcleo Rural de Tabatinga, em Planaltina (a 54 quilômetros da Rodoviária do Plano Piloto). O agricultor calcula que terá uma perda de 1,5 tonelada por hectare plantado — o equivalente a 90 toneladas de grãos colhidos a menos nesta safra.

Apesar de haver queda na produção, Michalski acredita que não terá prejuízo financeiro. Como a quantidade de milho no mercado diminui, o preço para cada saco aumenta. “Esse saco todo é quase ouro”, afirma o produtor ao apontar para o estoque que tem guardado. Segundo o agricultor, a média de preço por saco é de R$ 18. “Neste ano, me ofereceram até R$ 50”. Apesar de o valor de mercado ter subido, o dono da fazenda afirma que não vale a pena, já que a perda também tem um custo alto. Para este ano, Michalski investiu cerca de R$ 90 mil.

O milho considerado bom pelo produtor é aquele que tem a espiga coberta de grãos. Porém, Michalski mostra que o material está cheio de vãos. “O milho bom que colhemos nesta safra era o ruim da do ano passado.” O agricultor disse que teve sorte porque não fechou contrato nem precisou de financiamento para fazer a produção. “Se eu tivesse fechado compromisso, não teria como arcar agora porque a quantidade mínima a ser entregue é estabelecida antes. E eu nunca produzi tão pouco.”

Brasil

A situação não é diferente no restante do País, terceiro maior exportador de milho no mundo. O Espírito Santo também teve produção abaixo do esperado para esta época do ano, e, para conseguir controlar a redução, o estado tem importado milho da Argentina. Leal afirma que esse não é um risco para Brasília. Segundo ele, não há previsão para que a capital precise importar produções.

Edição: Paula Oliveira