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23/06/2016 às 17:53, atualizado em 05/07/2016 às 14:48
Quase todos os casos de sequestro, rebelião e outros tipos de conflito são resolvidos durante a fase das negociações. Não há registros de mortes de reféns nem de pessoas mantidas em cativeiros. Durante a desocupação do antigo Hotel Torre Palace, ninguém saiu ferido
Treinado para resolver situações de crise, o negociador da Polícia Militar do DF tem, como principal função, preservar as vidas que estão envolvidas no conflito. A desocupação do antigo Hotel Torre Palace, no início de junho, foi um exemplo da atuação sem vítimas dos negociadores e cerca de 200 homens do Batalhão de Choque da Polícia Militar do DF (BPChoque) e do Batalhão de Operações Especiais (Bope). Depois de 96 horas de negociação, os 12 adultos que resistiam na ocupação se renderam e deixaram o prédio.
A corporação não tem registro de mortes de pessoas mantidas reféns em rebeliões, sequestros ou qualquer outro tipo de conflito que envolveu negociações intermediadas pela PM do Distrito Federal.
Para assumir a função, é necessário estar em plena capacidade física e psicológica. O policial precisa cumprir três anos ou mais de carreira na corporação e passar por um curso de 260 horas/aula no Bope, com atividades físicas e intelectuais. A vida pregressa do servidor também passa por investigação.
Para ser aprovado, é necessário ter sucesso em pelo menos 75% do curso. O conteúdo inclui aulas de corrida – mínimo de 2,8 quilômetros em 12 minutos –, natação – 200 metros em 5 minutos fardado –, flutuação na água – 20 minutos fardado –, barras, abdominais, lições de psicologia, psiquiatria, neurolinguística e simulações de cenários.
[Olho texto=”Assaltos com reféns, brigas familiares e ameaças de suicídio são os motivos mais comuns de chamados no dia a dia de um negociador” assinatura=””]
Existem várias táticas para conseguir êxito nas negociações. Uma delas é a do convencimento, na qual não importa quanto tempo tenha que ser investido para conseguir resultados satisfatórios. Outra estratégia é a atuação da equipe tática do Bope, quando o diálogo não surte efeito ou há vidas em risco. Nesses casos, atiradores de elite entram em cena e ficam à espera de ordem para disparar. Além disso, são usadas armas não letais, como a taser (arma de choque), o gás de pimenta ou a bomba de efeito moral.
De acordo com a Polícia Militar, o gerenciamento de crises é acionado, em média, dez vezes por mês. Assaltos com reféns, brigas familiares e ameaças de suicídio – estas representam mais da metade dos casos – são os motivos de chamados mais comuns no dia a dia de um negociador.
Em maio de 2012, um pai manteve a filha de um ano e dois meses refém por mais de 14 horas em Samambaia Sul após uma briga com a esposa. A menina foi entregue depois de a polícia entrar na casa e render o homem. O pai da criança – que, de acordo com a PM, se drogava durante o sequestro – foi vencido pelo cansaço.
“A função principal do negociador é preservar vidas, seja a do causador da situação, seja a dos negociadores, seja a dos reféns”, afirma o comandante da Companhia de Negociação de Crises do Bope, capitão Édson Gondim. “Não temos registros de ocorrências com morte de reféns e, em quase 100% dos casos, resolvemos o impasse durante as negociações.”
Edição: Gisela Sekeff