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02/01/2017 às 13:41, atualizado em 03/01/2017 às 17:29
Oficina teórica e prática faz parte do projeto Picasso não Pichava, que trabalha a ideia de prevenção da violência
“Todos para trás. Atenção, câmera, gravando!” Com essas palavras, a professora de cinema e pedagoga Simone Borges orienta meninos do sistema socioeducativo antes de começar a filmar. Ao serem chamados para os bastidores, 17 adolescentes entre 15 e 18 anos têm a oportunidade de gravar e dirigir uma película criada por eles.
A iniciativa é da Secretaria da Segurança Pública e da Paz Social, em parceria com a Secretaria de Políticas para Crianças, Adolescentes e Juventude. Por meio de aulas teóricas e práticas, os jovens em medida de proteção do meio aberto foram capacitados em 2016 com arte e conhecimento técnico na produção. A oficina durou cerca de três meses, com dois encontros semanais.
Simone ensina a usar uma máquina de fotografia e a elaborar uma história. “Queremos mostrar para eles o que é cinema, perspectiva, linguagem audiovisual, e que isso funciona como um espaço de fala e de expressão”, explica a servidora da Segurança Pública. A iniciativa tem mais dois parceiros, também funcionários da pasta: os professores Fauston Silva e Paulo Sérgio Freitas (DJ Chokolaty).
O projeto faz parte do Picasso não Pichava, que há 17 anos trabalha a ideia de prevenção de violência. No início, apenas o grafite era usado para esse fim, mas o programa ganhou outras vertentes ao longo do tempo. Em 2016, foi introduzida a oficina de cinema para os jovens do sistema socioeducativo.
Um deles, de 18 anos, está responsável pela fotografia das cenas. Ele conta que começou o curso sem pretensão, apenas com o intuito de cumprir a medida. No entanto, acabou gostando e aprendendo a fotografar. “Fazia muito tempo que eu não ia para a escola e, depois que vim para cá, me deu até saudade de estudar.” O jovem se matriculou em um supletivo e traçou a meta de retomar os estudos em 2017.
O curta-metragem A Carne é Fraca, criado pelos jovens, conta a história de um morador de rua viciado em drogas. Depois de sofrer um acidente, o rapaz recebe a visita de três “fantasmas”, que representam o passado, o presente e o futuro.
As aparições mostram como ele entrou para o mundo das drogas e foi parar na rua; de que forma as ações dele influenciam os outros; e que ele vai morrer se continuar vivendo dessa maneira.
[Numeralha titulo_grande=”50 mil” texto=”Número de jovens atendidos em 17 anos do projeto Picasso não Pichava” esquerda_direita_centro=”esquerda”]
O diretor e roteirista, também de 18 anos, cumpre medida socioeducativa. Por sempre ter gostado de ler e de escrever, diz que essa característica lhe deu base para terminar o roteiro. “Sempre fui muito tímido, mas aqui eu tinha que me impor e coordenar a equipe.”
O filme será exibido no Cine Brasília (106/107 Sul), para alunos e autoridades, com data ainda a ser definida. “A previsão é que seja em janeiro. Tentaremos depois colocá-lo para circular em festivais e outros projetos”, vislumbra Simone.
Criado em 1999, o projeto Picasso não Pichava já atendeu 50 mil jovens. No início, era voltado para atrair os pichadores ao mundo da arte por meio do grafite, como lembra o gerente de Programas de Prevenção à Violência contra o Jovem, da Secretaria da Segurança Pública, Vinícius Dias Cunha.
Nesses 17 anos, as atividades se expandiram. “Viu-se que o grafite atingiria uma parte dessas pessoas que têm aptidão para a arte, mas a juventude é muito ampla.” Assim, além do cinema, o projeto passou a oferecer capoeira, serigrafia e pintura em tela. Dessa última modalidade também podem participar mulheres vítimas de violência. “Estamos em um processo de compra de tinta para voltar com o grafite”, adianta Dias.
A capoeira é ensinada na Casa do Cantador, em Ceilândia, e na Horta Comunitária do Itapoã. A serigrafia, no Centro Educacional 1, no Cruzeiro, e a pintura em tela, no Centro Especializado de Atendimento à Mulher (Ceam) de Planaltina. Para se inscrever, os interessados devem procurar esses locais. As inscrições, segundo Dias, ficam abertas durante todo o ano.
Edição: Raquel Flores e Marina Mercante