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08/01/2017 às 10:54, atualizado em 31/01/2017 às 13:17
Com a missão de arrancar um sorriso dos pacientes, pessoas doam parte do tempo para visitar unidades de saúde
Há quem acredite que sorrir é o melhor remédio. O grupo Nariz de Palhaço adotou a teoria e duas vezes por mês tenta arrancar dos pacientes do Hospital Regional de Planaltina um riso que sirva como alívio para a dor. A equipe, com aproximadamente 15 pessoas, desenvolve o trabalho na unidade há cerca de um ano e é uma das dezenas que doam tempo aos atendidos na rede pública de saúde do Distrito Federal.
Eles dedicam uma hora e meia de palhaçadas, brincadeiras e palavras de conforto não apenas a quem está doente. O carinho da atividade também atinge em cheio os acompanhantes e quem está ali a trabalho, como médicos, enfermeiros e vigilantes. “Os servidores já chegam para falar com o paciente com o humor diferente e melhor”, explica o assistente da Coordenação de Voluntariado do hospital, Josias Bezerra. A visita ocorre em quase todo o hospital, com exceção de áreas isoladas, como a unidade de terapia intensiva e a maternidade.
Josias conta que o riso não traz apenas benefícios imediatos. A gargalhada, segundo ele conta, pode acelerar a cura. “Já existem pesquisas científicas comprovando que a duração da endorfina liberada na risada é longa e melhora o sistema imunológico.” Isso aumenta a absorção dos medicamentos, por exemplo.
[Olho texto=”Existem pesquisas científicas comprovando que a duração da endorfina liberada na risada é longa e melhora o sistema imunológico. Isso aumenta a absorção dos medicamentos” assinatura=”Josias Ribeiro, coordenador de voluntariado do Hospital Regional de Planaltina” esquerda_direita_centro=”direita”]
Gerlândia Lima Braga, de 35 anos, se emocionou com a música que o palhaço Mondrongo tocava no violino. A pedagoga e psicóloga está acompanhando desde o dia 23 o irmão doente no hospital e diz que o sentimento pela iniciativa é de gratidão. “Já quero levá-los para a escola onde trabalho. As crianças também vão amar.” O grupo também atende, voluntariamente, locais como escolas públicas, asilos e casas de passagem.
A Gerência de Voluntariado da Secretaria de Saúde agora trabalha para cadastrar todas as iniciativas e mensurar quantos grupos se prestam a ajudar de alguma forma os pacientes da unidade. Há quem se ofereça para celebrar cultos ou missas, quem doe roupas, sapatos e alimentos e pessoas que visitam as instalações para tentar de perto melhorar a rotina dos doentes. “Para fazer a caridade, basta ter amor”, resume o coordenador do Nariz de Palhaço, Marcelo dos Santos Martins, de 46 anos — ou palhaço Amarelo.
O gerente do setor, Cristian da Cruz Silva, conta que existem grupos que fazem trabalhos esporádicos e outros que já integram a rotina de um ou mais hospitais. Alguns, inclusive, já são cadastrados, como no caso da entidade Viva e Deixe Viver, com sede em São Paulo e representação em Brasília.
São 12 associações cadastradas, ligadas diretamente a hospitais como o de Base, o da Asa Norte, o de Sobradinho, o de Apoio e o do Gama. No caso da Viva e Deixe Viver, são voluntários capacitados pela própria instituição para contação de histórias. Em Brasília, eles visitam o Hospital Regional de Ceilândia e o Hospital Materno-Infantil.
“Tum, tum, tum! Quem é? Pode entrar! Sou contador de histórias e uma história vou contar.” A rima anuncia a chegada do grupo. Somente no Hospital Regional de Ceilândia, 22 voluntários, divididos em seis equipes, doam duas horas do dia para ler de maneira criativa para as crianças da enfermaria e as que ainda esperam atendimento.
As visitas ocorrem quase todos os dias, com exceção das terças-feiras. É comum observar pais atentos e funcionários debruçados nos vidros da enfermaria para escutar as histórias que os voluntários selecionam. “Eu estava procurando me tornar útil para o próximo e encontrei o Viva”, conta Leda Dal Magro, de 56 anos, coordenadora da associação na unidade de Ceilândia. Para ela, a iniciativa também é uma maneira de incentivar o gosto pela leitura nas crianças.
Gosto que levou Lêda e os companheiros a escolher a contação de história como forma de ajudar o outro. Joelma Martins da Silva, de 47 anos, está no grupo há poucos meses, mas foi inspirada pelo mesmo sentimento de altruísmo. “Todos nós temos uma habilidade que pode ser doada para alguém.”
Caracterizados, os contadores disfarçam as vozes, interagem com as crianças e arriscam fazer com que elas esqueçam, pelo menos por um instante, que estão em um hospital. Para Kristian Samuel da Silva Sousa, de seis anos, deu certo. O menino quebrou o braço e precisou passar por uma cirurgia, mas era o mais animado para responder aos incentivos dos voluntários. “É muito bom ver os olhinhos deles brilhando”, dispara a responsável pelo voluntariado no hospital, Arlete Hosana de Oliveira. “Isso melhora o tempo de resposta ao tratamento.”
Além dos voluntários que atuam de forma lúdica, há os que prestam serviços como corte de cabelo, doação de roupas e perucas e oficinas de artesanato e pintura, por exemplo. Todas as atividades de voluntários sociais foram regulamentadas pela Portaria nº 180, de 31 de agosto de 2016.
Os voluntários sociais são diferentes dos voluntários profissionais, cuja atuação também foi regulamentada pela Secretaria de Saúde no ano passado, pela Portaria n° 261, publicada em novembro. Nesse caso, são selecionados profissionais para atuarem em sua área de formação.
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Edição: Saulo Araújo