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29/05/2017 às 16:58, atualizado em 29/05/2017 às 17:40
Fogo é mais difícil de ser combatido nesses locais e naqueles com vegetação mais rasteira. Por isso, queima de poda de árvore e de lixo tem de ser evitada
Devido à queima de lixo doméstico, de podas de árvores ou do manejo de solo feito com fogo, o Distrito Federal é um território suscetível a incêndios florestais.
No entanto, regiões com relevo acidentado, como o Lago Oeste, ou com grandes extensões de área rural, a exemplo de Brazlândia e de Samambaia, tendem a concentrar os casos de queimadas.
Em locais com topografia íngreme, a pronta resposta das equipes de combate ao fogo fica prejudicada. Com isso, as chamas se alastram rapidamente. “No Lago Oeste, o declive é muito grande, o que oferece riscos aos militares e aos brigadistas à noite”, exemplifica João Henrique Correia Pinto, tenente do Grupamento de Proteção Ambiental, do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal.
Em regiões de produção agrícola, por sua vez, quanto mais afastada a propriedade fica do ponto de recolhimento de lixo, mais comum se tornam as queimadas. “A dificuldade de acesso ao serviço faz com que os moradores dessas áreas ateiem fogo aos resíduos”, explica o tenente.
Os incêndios florestais são quase sempre resultado de atividade humana. Apenas em casos isolados, as chamas decorrem de causas naturais, como queda de raios. Em algumas fitofisionomias (forma como o bioma se apresenta) do Cerrado, porém, o fogo se expande mais facilmente.
Assim ocorre com as chamadas áreas abertas de Cerrado, as formações savânicas. Nessa situação, enquadram-se o campo limpo e o campo sujo. No primeiro, encontram-se arbustos em cerca de 10% do terreno — a maior parte dele é recoberta por gramíneas. No segundo, a presença de arbustos entre o estrato herbáceo (cobertura vegetal rasteira) é mais evidente.
Ao passar por esses locais, as chamas consomem a biodiversidade. Se isso se der em área com infiltração de água, como próximo a nascentes ou de recarga de aquíferos, a tendência é que eles sequem.
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Apresentações mais fechadas do Cerrado, as matas mostram-se extremamente sensíveis ao fogo. A incidência de queimadas nelas é menor, mas, quando há, são muito mais impactadas do que as formações com menos arbustos.
“A mata tende a retroceder, e se aumenta a faixa de campo”, detalha Airton Mauro de Lara Santos, analista de atividades de meio ambiente, da Gerência de Emergências e Riscos Ambientais, do Instituto Brasília Ambiental (Ibram).
Mais campos significam áreas maiores de grama — nativa ou exótica. Dessa forma, a quantidade de material combustível, ou seja, elementos naturais capazes de propagar as chamas, também aumenta. “Forma-se um ciclo vicioso, em que se perde biodiversidade e se aumenta o risco de incêndio florestal”, conta Santos.
O Cerrado tem adaptações para enfrentar o fogo, como caules grossos e raízes profundas. No entanto, a reincidência do fogo tem sido constante. “A capacidade de resiliência da vegetação tem ficado bastante reduzida”, alerta o analista do Ibram.
Desde 2008, o Instituto Brasília Ambiental acompanha dados de áreas queimadas das unidades de conservação que gere. O levantamento é feito por meio de relatórios e visitas de campo e, em 2016, passou a ser também com a análise de imagens georreferenciadas.
“O ano passado foi o que mais monitoramos”, destaca Airton Santos. Com isso, estabeleceu-se um ranking das unidades de conservação que mais tiveram perdas por área queimada em 2016.
Estação Ecológica de Águas Emendadas |
Área de Relevante Interesse Ecológico Granja do Ipê |
Área total: 9.372,37 hectares Número de focos: 13 Área queimada (em hectares): 1.335,99 Área queimada (em porcentual): 14,25% |
Área total: 1.142,85 hectares Número de focos: 20 Área queimada (em hectares): 263,74 Área queimada (em porcentual): 23,08% |
Parque Distrital Recanto das Emas |
Parque Ecológico Boca da Mata |
Área total: 266,8 hectares Número de focos: 12 Área queimada (em hectares): 195,1 Área queimada (em porcentual): 73,13% |
Área total: 196,31 hectares Número de focos: 24 Área queimada (em hectares): 166,03 Área queimada (em porcentual): 84,58% |
No caso do Parque Ecológico Boca da Mata, em Taguatinga, que teve 84,58% da área queimada, os incêndios florestais recorrentes ameaçam espécies que justificaram a criação da unidade de conservação. “É o único local de ocorrência de campo de murundu em Taguatinga. É uma área úmida, importante para a recarga de aquíferos, e tem se reduzido drasticamente por causa do avanço do fogo”, lamenta Santos.A reincidência de fogo nelas é anual, intervalo de tempo muito pequeno para a vegetação se recuperar.
A Área de Relevante Interesse Ecológico Granja do Ipê, uma região de campo no Park Way, também tem sido vitimada por chamas continuamente, devido ao depósito irregular de lixo e entulho. “As pessoas passam e ateiam fogo com a intenção de afastar roedores e animais que se aproveitam do lixo”, relata o analista de atividades ambientais.
Para evitar o manejo inadequado do material, a recomendação é comunicar o Ibram sobre o acúmulo. O contato pode ser feito pelo telefone 162, da Ouvidoria do governo do Distrito Federal.
Edição: Raquel Flores