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15/02/2019 às 09:00, atualizado em 21/02/2019 às 10:34
O Sistema Agroflorestal (SAF) permite que produtores rurais desenvolvam suas atividades sem desmatar a vegetação nativa
Produtores rurais que vivem nas regiões da Serrinha do Paranoá, no Lago Norte, na ARIE1 da Granja do Ipê, na área do Riacho Fundo, e no Alto Descoberto, em Brazlândia, serão apresentados a uma nova forma de produção que garante a proteção dos córregos que abastecem os dois grandes lagos do Distrito Federal: o lago Paranoá e o reservatório do Descoberto. A ideia é implementar um conjunto de boas práticas e treinar os agricultores para usar o Sistema Agroflorestal (SAF) um método de produção que permite plantar sem a necessidade de desmatar a vegetação nativa.
A iniciativa faz parte de um projeto do Global Environmental Facility (GEF) para Cidades Sustentáveis, um fundo gerido pela Organização das Nações Unidas (ONU) e coordenado localmente pela Secretaria de Meio Ambiente do DF (Sema). O GEF Cidades Sustentáveis, como é chamado, é a prioridade do governador Ibaneis Rocha para a área ambiental nos próximos quatro anos.
A agrofloresta é um sistema de plantio de alimentos sustentável e capaz de promover a recuperação de uma floresta. São formas de usar e manejar a terra que combinam, de forma simultânea ou sequencial, o plantio de árvores com cultivos agrícolas e até a criação de animais. Como piloto, a Sema pretende treinar, com uso de máquinas, 40 produtores rurais das duas regiões e, assim, garantir a qualidade e a quantidade dos córregos que deságuam no lago Paranoá e no Descoberto.
“Esses córregos mantêm nossos lagos de abastecimento público cheios”, explica a subsecretária de Assuntos Estratégicos da Sema, Alessandra Péres. [Olho texto=”“A agrofloresta é muito mais amigável do ponto de vista da proteção do solo, de proteção da vegetação e particularmente na manutenção da infiltração de água e dos afluentes desses dois grandes mananciais de abastecimento do DF ” assinatura=”Alessandra Péres, subsecretária de Assuntos Estratégicos da Sema” esquerda_direita_centro=”direita”]
Captação
De acordo com a Companhia de Saneamento Ambiental (Caesb), cerca de 60% da população do DF é atendida pelo sistema do Descoberto e 7%, pelo sistema de captação do lago Paranoá. Mas já existem estudos em curso da companhia para aumentar a captação de água do Paranoá.
O trabalho vai começar pela região da Serrinha do Paranoá, que reúne dez núcleos rurais em uma área que vai da ponte do Bragueto até o Paranoá. Neste sábado (16), a Sema promoverá, na Administração do Lago Norte, uma oficina de sensibilização para os agricultores que vivem no local. O evento deverá reunir cerca de 100 produtores. Caso sejam selecionados para participar do programa, eles terão direito ao diagnóstico da propriedade, com capacitação e implantação das áreas de agroflorestais.
O objetivo do GEF Cidades Sustentáveis na Serrinha do Paranoá é garantir a preservação dos córregos Urubu, Gerivá, Palha, Taquari, Tamanduá e Capoeira do Bálsamo, que deságuam no Paranoá. A região fazia parte do cinturão verde do DF – concebido por Lúcio Costa para abastecer a capital com produção local –, mas sofre com a pressão urbana. Há anos a Administração do Lago Norte, outros órgãos do GDF e lideranças comunitárias tentam evitar o parcelamento do solo e o adensamento populacional.
Esse esforço vem se mostrando bem-sucedido. A região é totalmente preservada. A área ainda é rural, a água dos córregos é limpa e não há sinais de assoreamento nem erosão. “Se a gente não tivesse preservado essa área, estaria tudo ocupado”, explica Nilton Lavoyer, 78 anos, dono de uma chácara de quatro hectares no Núcleo Rural do Urubu. Em sua propriedade, a Área de Proteção Permanente (APP) em volta do córrego é cercada e tem vegetação nativa. Ele cria abelhas e produz limão, goiaba, jabuticabas e manga, tudo para consumo próprio. “Tenho essa terra desde 1985, mas mantenho isso aqui para preservar e ter sossego”, conta.
O engenheiro agrônomo Vitor Ramos Simões, 34 anos, é candidato a receber as ações do projeto na propriedade da família, de 27 hectares, e já separou uma área dentro da chácara onde pretende testar a agroindústria. “Essa região é a mais importante para a recarga do lago Paranoá. Tenho orgulho em falar que minha chácara é totalmente preservada. Já vi lobo-guará, veado- campeiro e tatu por aqui”, afirma.
Cidades sustentáveis
Brasília e Recife foram escolhidas para piloto do projeto GEF Cidades, que pretende desenvolver soluções tecnológicas, de produção e compartilhamento de conhecimento para transformar as duas capitais nas duas primeiras cidades sustentáveis do Brasil. O programa prevê estudos estratégicos para subsidiar melhor as ações da gestão pública e iniciativas piloto – a experimentação de novas ideias que podem ser ampliadas no futuro.
No DF, esse projeto também prevê estudos sobre a recuperação da área do Lixão da Estrutural, a elaboração de pesquisas que analisem os impactos das mudanças climáticas no DF e na Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno (Ride), a elaboração de planos de adaptação e mitigação dos impactos, além da implantação do Fórum de Mudanças Climáticas do DF. Usinas solares em prédios públicos também serão testadas, havendo a previsão de recuperar 60 hectares de APPs de nascentes (50 metros em torno da nascente).