20/04/2019 às 09:12

Via Sacra de Planaltina faz jus à tradição e entrega belo espetáculo

Milhares de pessoas foram ao Morro da Capelinha prestigiar a encenação da morte de Jesus Cristo, que contou com 1,4 mil voluntários no evento tombado como patrimônio cultural imaterial de Brasília: prova de fé

Por Agência Brasilia*

Encenação da Via Sacra no Morro da Capelinha, em Planaltina, nessa sexta-feira (19). Foto: Divulgação

Mais de quatro horas de apresentação e 1,4 mil voluntários envolvidos. A tradicional Via Sacra do Morro da Capelinha, realizada há 46 anos, tombada como patrimônio cultural imaterial de Brasília, levou emoção a milhares de pessoas, que assistiram em Planaltina, nessa sexta-feira (19) a encenação de julgamento, condenação, execução e ressurreição de Jesus Cristo. 

Nos bastidores, pouco antes do evento começar para o grande público, o clima era de ansiedade. Reunidas no Centro Educacional 01 de Planaltina, as equipes de produção, organização e atores faziam os últimos ajustes e repassavam as cenas que seriam apresentadas mais tarde no Morro da Capelinha. Entre trocas de figurinos e retoques de maquiagens, os voluntários falavam sobre o sentimento em trabalhar no evento.

A dona de casa Eronilda dos Santos participa há 19 anos da Via Sacra e não escondeu a emoção ao falar da realização do sonho que foi entrar para o grupo, onde interpreta uma aldeã. “Sempre assisti a Via Sacra e achava muito bonito e emocionante. Disse em uma ocasião aos meus amigos e familiares que um dia estaria do outro lado, representando. Hoje estou aqui, realizando esse trabalho tão bonito”, contou.

Novidades
Uma das novidades da Via Sacra é a presença do demônio, interpretado por Leandro Lira, 32 anos, que há 12 participa das encenações. Com uma caracterização muito diferente dos demais, que conta com lentes de contato e unhas postiças, o ator e dançarino encara o papel como um desafio. Ele explica que é um personagem com uma carga muito forte, que exige preparo físico e espiritual. “Realizar essas obras é o que nos fortifica como cristãos, e poder evangelizar é o combustível para fortalecer tudo o que eu faço”, conta.  

Pouco antes do grupo de 900 atores, divididos em 72 coordenações  se dirigir ao Morro da Capelinha, o coordenador do evento Antônio Carlos lembrou que para a realização da Via Sacra foi montada uma estrutura robusta, pronta para receber as mais de 100 mil pessoas esperadas para a ocasião. “Estamos muito felizes em ver que o que planejamos vai ser concretizado. O apoio e empenho da Secretaria de Cultura e do GDF para isso acontecer foi fundamental”, disse emocionado.

O secretário de Cultura, Adão Cândido, acompanhou os preparativos e falou da relevância da celebração da Via Sacra para a cultura do Distrito Federal. Para ele, a encenação, que é tombada como patrimônio cultural imaterial, deve ser valorizada. Segundo ele, o fato de pessoas de outras religiões, regiões administrativas e estados acompanharem o evento mostra a força da encenação. “Este tipo de atividade, que valoriza e fomenta a cultura local, deve ser prioridade”, acrescentou. 

Emoção
A adolescente Talita Nascimento, 16 anos, aproveitou para cumprir uma penitência. Subiu o Morro da Capelinha descalça rezando o terço. Segundo a jovem, o esforço valeu a pena. “Estou me sentindo bem espiritualmente. Dói, mas é por um propósito. Venho desde pequena acompanhar a encenação, mas é a primeira vez que fiz uma promessa” contou.

Depois de quase 25 anos seguidos de subidas ao morro para acompanhar a Via Sacra, a vigilante Aparecida Ferreira Aquino conta, bem humorada, que não é fácil chegar ao topo. Entretanto, as visitas são gratificantes. “Fiz um propósito e, na época, eu não tinha fé que aconteceria, mas se concretizou. Venho todos os anos desde então e também para buscar mais bençãos”, confessou.

O momento preferido do servidor público William Rosa da Silva é quando Cristo renasce. Para ele, a data comemorativa é motivo de alegria. “É a 43a  vez que venho, ou seja, desde o início do Morro da Capelinha. É um sentimento de conforto, de renovação carismática. Nesse mundo complicado que vivemos, renovar a fé é fundamental”, opinou.

Qualidade
Foi um espetáculo dinâmico, iniciado pela entrada dos soldados romanos, alguns a cavalo, do povo pobre de Jerusalém e dos prisioneiros. No primeiro momento, Cristo é acusado de ser perigoso e de se proclamar rei dos judeus. Ele foi preso em uma cela, enquanto eram proferidas acusações.

O cenário seguinte é o palácio onde Herodes, o rei de Israel, desfruta de comida e bebida abundantes enquanto indigentes perambulam sem qualquer piedade por parte da realeza. Entre os julgamentos junto aos príncipes e ao governador romano da província da Judeia, Pôncio Pilatos, Jesus foi açoitado, maltratado e teve a condenação pedida pelos populares. 

O momento de crucificação foi um dos momentos de maior emoção do espetáculo. Já era noite quando Cristo começou a carregar a cruz. A saga até a execução da pena de Jesus prendeu a atenção dos presentes. 

Um show de música católica e a exibição de vídeos produzidos pelas paróquias de Planaltina antecederam o momento da ressurreição de Jesus Cristo, na Sexta-feira da Paixão, no Morro da Capelinha. Efeitos especiais e fogos de artifício garantiram um desfecho ainda mais grandioso.

O subsecretário de Promoção e Difusão Cultural da Secretaria de Cultura, Pedro Paulo, classificou a experiência como uma demonstração de cultura e fé. Ele explicou que a preparação para a encenação começa antes mesmo da Quarta-feira de Cinzas e reúne representantes de várias paróquias de Planaltina. “Foi um enorme esforço da Secretaria para executar este evento, com a população. É gratificante ver os esforços empregados em uma festa tão bonita, que reúne tantas pessoas de todo o DF”, concluiu.