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10/07/2019 às 10:00, atualizado em 10/07/2019 às 14:56
Mais da metade do território do DF é composta por áreas rurais, setor que, segundo estudos da Secretaria de Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural (Seagri), emprega aproximadamente 30 mil pessoas
Quem passa pela capital federal e vê uma região com tantos monumentos, que atraem a atenção e olhares de turistas de todo o mundo, nem sempre imagina que o território local é composto por 70% de área rural. Segundo dados da Secretaria de Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural (Seagri), o setor emprega cerca de 30 mil pessoas diretamente. O Valor Bruto da Produção (VBP) do DF gira em torno de R$ 2,5 bilhões.
Gilberto Gonçalves dos Santos, 40 anos, compõe essa estatística. “Não me vejo fazendo outra coisa e nunca pensei em trabalhar em outra função”, conta o trabalhador do campo. “É a profissão de que mais gosto, e sempre tem vaga para quem tem experiência.”
Gilberto trabalha o dia todo cantarolando músicas sertanejas – as que predominam em seu repertório são as de Eduardo Costa. A liberdade e a natureza, diz, são os principais atrativos de sua profissão. “Esse ar puro não tem preço; e, como moro próximo, não pego trânsito para vir ao trabalho ou voltar para casa”, destaca.
Gilberto é funcionário da chácara Beija Flor, que, localizada na zona rural do Paranoá, trabalha com produtos orgânicos. Ele, mais dois funcionários e dois diaristas auxiliam na plantação, colheita e nos cuidados com a lavoura. Cleusa de Amorim Gallo, 67 anos, e Nivardo Borgalo, 68 anos, são os proprietários.
Produção
Na chácara, de 3,5 hectares, são produzidos banana, batata-baroa, alho-poró, cebolinha, coentro, salsa, couve, banana, abacate, maga, goiaba, maracujá, mandioca, acerola, cenoura, quiabo, limões taiti e galego, cebolinha, coentro, salsa, couve e outros temperos e hortaliças. A produção é vendida nas feiras. Além disso, os proprietários fazem entregas para clientes do Lago Norte, Asa Norte e Asa Sul. Alguns buscam os produtos na própria chácara. Há encomendas que chegam a 200 kg.
“Quando mudamos para cá, aqui não tinha nada. Plantamos e construímos tudo. Aos poucos, fomos aumentando a produção”, conta Cleusa. A agricultora valoriza o auxílio da Seagri e da unidade do DF da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater). “Seagri e Emater-DF foram fundamentais no processo de produção. Sempre fazem vistoria e nos orientam nas plantações”, ressalta.
[Olho texto=”Seagri e Emater-DF foram fundamentais no processo de produção. Sempre fazem vistoria e nos orientam nas plantações” assinatura=”Cleusa Gallo, produtora rural” esquerda_direita_centro=”centro”]
Incremento
Para o secretário de Agricultura, Dilson Resende, a área rural do DF é importante tanto pela produção agropecuária quanto pela geração de empregos e renda a milhares de famílias – e do consequente incremento no Produto Interno Bruto (PIB) e no VBP do DF, contribuindo para o fortalecimento da economia da região. “Ela também é significativa para o planejamento territorial, pois a área rural ajuda a controlar o crescimento desordenado no DF”, pontua o secretário.
Dílson Resende sublinha que o setor, tanto no que concerne ao agronegócio quanto ao espaço rural, são importantes na manutenção da qualidade de vida, na preservação das nascentes e mananciais, bem como das áreas de preservação de matas e de Cerrado. “É muito importante para a qualidade de vida e no planejamento e na integridade do território do DF”, valoriza.
O que é produzido
Quase todas as regiões administrativas do DF possuem área rural – inclusive o Plano Piloto, que abriga a Granja do Torto. Mas as maiores estão em Planaltina, Paranoá e Brazlândia, respectivamente. As duas primeiras se destacam pelas grandes áreas de produção de grãos, como soja, milho, sorgo, feijão e trigo. Essa região também possui grandes lavouras de alho irrigado. Já Brazlândia é uma região produtora de hortaliças folhosas, além de pimentão, tomate, morango, goiaba, jiló, quiabo e abobrinha, entre outras.
Também possuem grandes áreas rurais as regiões de Sobradinho, Gama e São Sebastião. E uma região rural tão grande também permite uma produção diversificada, que hospeda ainda a pecuária de leite e de corte, a avicultura, a piscicultura e a suinocultura.
Produtos premiados
De acordo com a Seagri, os produtores da região são qualificados e organizados, e investem em tecnologia para produzir cada vez mais, em áreas menores e com o mínimo de água possível. Muitos produtos do DF já ganharam reconhecimento nacional, a exemplo da apicultura. O mel candango é detentor de vários títulos nacionais, como o de mais puro e o de melhor pólen, sendo também bicampeão internacional de qualidade.
Outro produto cultivado nas terras do DF que já ganhou notoriedade é o trigo. O destaque se deve a uma característica chamada peso hectolitro (PH) da farinha. No grão da capital federal, o número é de 85 PH, enquanto a média nacional é de 78 PH.
As granjas de suínos também já são referência internacional na criação, em que pese a utilização da técnica de bem-estar animal. Muitas delas possuem sistemas de reaproveitamento dos dejetos, como biodigestores para a produção de gás, que é transformado em energia elétrica. Por sua vez, o café produzido na fazenda Novo Horizonte, na zona rural de Sobradinho, classificou-se entre as finalistas do 28º Prêmio Ernesto Illy de Qualidade Sustentável do Café para Expresso.
Segundo dados da Seagri-DF, a produção de hortaliças fica 100% no DF e ainda é preciso importar uma parte. Também no caso dos grãos – como a soja –, o DF é grande produtor. Levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima que a produção da oleaginosa no Distrito Federal deve atingir um volume de 254 mil toneladas neste ano. Em relação à safra 2018/2019, a área plantada de soja na região foi acrescida em 2,4%, se comparada à safra passada.
Toda essa fartura de alimentos está distribuída em cerca de 19 mil propriedades rurais, das quais cerca de 80% são de agricultura familiar.
Incentivo
Para incentivar o trabalho rural no DF e dar condições aos agricultores de empreender e se desenvolver, a Emater-DF lançou o programa Juventude e Sucessão Rural – Filhos Deste Solo, em parceria com o Instituto Federal de Brasília (IFB). A das das inscrições e critérios de participação ainda serão definidos.
Qualificação
Com a intenção de estimular as pessoas a permanecerem empregadas na área rural, a Emater-DF está trabalhando em um projeto que vai oferecer cursos de qualificação para o setor agrícola. Serão três de agropecuária – piscicultura, avicultura e bovinocultura – e três de agricultura – fruticultura, floricultura e oleicultura.
Os cursos serão realizados no Centro de Capacitação Tecnológica e Desenvolvimento Rural (Centrer) da Emater-DF, na Granja do Ipê e na Agrobrasília. Os critérios, inscrições e números de vagas ainda estão sendo definidos, mas a intenção é que as turmas comecem ainda no segundo semestre deste ano.