11/07/2019 às 18:29, atualizado em 16/07/2019 às 13:33

Brasilienses comemoram os 50 anos da chegada do homem à Lua

Planetário de Brasília tem programação especial, alusiva à data, para estudantes e para o público geral, com filmes, oficinas temáticas e uma exposição. Pioneiros relembram o ano de 1969, quando o mundo parou para assistir à façanha do primeiro humano a pisar o solo lunar

Por Lúcio Flávio, da Agência Brasília

Quando o homem chegou à Lua, em 20 de julho de 1969, o potiguar José Braz tinha 29 anos e não ficou nem um pouco impressionado com a aventura espacial. Achou mais interessante quando o presidente Juscelino Kubitschek e o então prefeito de Brasília, Israel Pinheiro, visitaram uma cantina do canteiro da obra em que ele trabalhava na quadra 108 Sul desde o começo dos anos 1960. Braz se espantou com a simplicidade das duas autoridades. Quem não era nascido nessa época, da qual ele guarda recordações nítidas, também poderá celebrar o cinquentenário da chegada à Lua, por meio de uma programação que o Planetário de Brasília montou especialmente para a ocasião. As imagens revividas por ele e por quem acompanhou a notícia, à época, fazem parte desse pacote comemorativo.

Recordações como essas, marcadas de nostalgia e simbologia, são muito bem-vindas na semana em que se comemoram os 50 anos da grande aventura espacial que mexeu com milhares de pessoas no Brasil e no mundo. Aproveitando a data, o Planetário de Brasília está com programação especial para a garotada que for participar da colônia de férias desta semana.

Isso porque o tema deste ano é focado justamente na corrida espacial que mexeu com o mudo da ciência e tecnologia. Além de filmes, os participantes vão frequentar oficinas temáticas sobre o satélite natural da Terra e fabricação de foguete. Um encontro lúdico e educativo.

“A nossa função social, além de ser um espaço turístico, é ensinar as crianças e ao público em geral um pouco sobre o universo ou temas relacionados à astronomia, matemática, química, física”, pontua a gestora do espaço, Ana Carolina Nunes. “Todo ano realizamos duas colônias de férias com temas científicos, e o encontro deste ano será sobre os 50 anos do homem à Lua. Então as crianças vão aprender a fazer a Lua com bola de isopor e construir foguetes com garrafas pet para lançar até o espaço”, antecipa.

O Planetário oferece uma programação especial , comemorativa ao cinquentenário da chegada do homem à Lua, para públicos de todas as idades /Foto: Renato Araújo/Agência Brasília

Exposição

Inspirada num projeto de conclusão do curso de museologia da UnB, a mostra O Túnel do Tempo da Evolução da Vida, um projeto da Universidade de Brasília com a FAP-DF (Fundo de Apoio à Pesquisa), é um convite para conhecer o processo de avanço do homem a partir de registros históricos que abrangem fósseis pré-históricos, passando por réplicas de foguetes, espaçonaves e acessórios de dinossauros. Faz parte da programação especial do Planetário de Brasília.

“A ideia dessa exposição é despertar a curiosidade das crianças, o espírito de investigador e pesquisador; mostrar o papel de um paleontólogo e, a partir dessa área específica da ciência, fazer com que as crianças tenham interesses por outros campos, como a biologia, a geologia, a astronomia e por aí vai”, explica a museóloga Ana Carolina Valadares, idealizadora do projeto.

Uma mostra permanente, organizada em parceria com a Agência Espacial Brasileira e situada na parte inferior do planetário, traz fotografias, réplicas de trajes de astronautas, dois túneis panorâmicos de vidro com monitores, além de maquetes de naves siderais.

Repercussão

“Muito legal o espaço; só vim quando era pequena e antes da reforma, e estou gostando muito, é bem-organizado e bonito”, avalia a servidora do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios Fernanda Araújo, que aproveitou as férias para levar o filho João e dois primos a um passeio pelas instalações do planetário. “Eles estavam só no celular, então decidi trazê-los aqui, estão adorando, ficaram encantados com um túnel que parece uma espaçonave”, conta.

Aproveitando a hospitalidade de uma tia no Gama, a família Maciel partiu de Rondônia, para aterrissar no Planetário de Brasília durante uma tarde de turismo pela cidade. “Estávamos passando pelo local, coincidiu de assistir a um filme na cúpula, que é maravilhosa, e aproveitamos para conhecer o lugar, muito interessante”, comenta Timóteo Maciel, acompanhado da esposa e de um casal de filhos. “Tudo é novidade para gente aqui, desde o trânsito à arquitetura, e aprendemos muitas coisas sobre estrelas e o Zodíaco”, destaca.

Lembranças

Cinquenta anos depois da façanha interplanetária que marcou a chegada do homem à Lua, quem estava por aqui cultiva recordações. “O JK era simples demais, era como se fosse um de nós, ficava perguntando o tempo todo sobre as obras, saber tudo”, rememora o pioneiro José Braz, ex-funcionário da Novacap, hoje com 79 anos. “Muita gente não acreditou que eles chegaram lá. Eu acreditei, mas não me impressionei porque falavam sobre isso o tempo todo na televisão e no rádio. Se não foram até lá, a armação foi muito bem-feita”, avalia José Braz, sobre a chegada dos americanos à Lua.

Cético, Braz viu tudo no conforto de sua sala de estar, na quadra 413 Sul. Um luxo para a época, já que poucas famílias  tinham aparelhos de TV em casa. O mesmo não aconteceu com Amado de Oliveira, que, na época com 22 anos, correu do trabalho até um lugar especial na Granja do Torto só para ver as imagens da chegada do americano Neil Armstrong à Lua. “Aproveitei para ver as duas coisas: a Lua e a namorada”, brinca.  “Aqui em Brasília as pessoas ficaram loucas com essa história, a cidade inteira empolgada com a chegada do homem à Lua; era como se fosse um jogo de final da seleção brasileira”, lembra o pioneiro, na época funcionário do antigo DEA – Departamento de Esgoto e Águas, hoje Caesb.

Amado de Oliveira não se lembra direito onde ou quando, mas levou a esposa para ver um pedaço da Lua que os astronautas americanos trouxeram do espaço. “Acho que foi no Teatro Nacional, não lembro bem, mas muitas pessoas queriam ver de perto o pedaço da Lua, que era pequeno, mas era o pedaço da Lua”, recorda.

Mas nada se compara à vinda à capital, em agosto de 1961, do cosmonauta russo Iuri Gagarin (1934-1968), o primeiro homem a fazer um voo pela órbita da Terra. A aventura espacial acontecera em abril de 1961 e o astronauta eternizou seu feito numa frase simples, mas antológica: “A Terra é azul”. Poucos dias depois, lá estava o militar russo sendo condecorado pelo presidente Jânio Quadros no Palácio do Planalto. É história viva.