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19/07/2019 às 13:44, atualizado em 21/10/2019 às 12:29
Coordenador de operações da Subsecretaria de Defesa Civil fala sobre as ações de prevenção de sua pasta e orienta a população para enfrentar a estação seca, que já começou
A umidade do Distrito Federal está variando entre 30% e 35%. Quando baixar de 30% e permanecer com esse índice por cinco dias, a Defesa Civil entra em estado de atenção. Nesse período, os cuidados devem ser redobrados. “Esses índices servem para que as pessoas comecem a entender que a umidade está baixando, que é preciso se preparar”, alerta o coronel Sinfrônio Lopes, coordenador de operações da Subsecretaria de Defesa Civil. Em entrevista à Agência Brasília, ele fala sobre o trabalho da Defesa Civil e tece considerações a respeito dos procedimentos a serem adotados na estação da seca. “Temos que entender que, independentemente dos índices, a população precisa tomar medidas preventivas para evitar as consequências da baixa umidade”, destaca o coronel, que lembra: os trabalhos da Defesa Civil não se restringem a condições climáticas. “A Defesa Civil é um órgão que faz a avaliação de riscos de uma forma geral”, explica.
Como é a atuação da Defesa Civil no período de seca?
A Defesa Civil tem atuação durante todo o ano. Nesse período de seca, nossa preocupação é com a baixa umidade relativa do ar. O número de incêndios florestais aumenta muito e nós temos uma atuação em conjunto com o Corpo de Bombeiros onde também agimos no combate aos incêndios. A Defesa Civil é um órgão de articulação; fornecemos os equipamentos porque sabemos onde estão esses equipamentos, seja de órgãos públicos ou particulares. Por meio de parcerias, conseguimos alocar recursos, seja para os bombeiros ou para qualquer órgão que solicitar, principalmente em casos de emergência.
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Pode dar um exemplo prático?
Quando acontece um incêndio, os bombeiros vão combater o fogo e, para isso, usam todo o seu material, mas, dependendo das proporções do incêndio, eles precisam [da ajuda] de outros órgãos. Em um caso mais simples, por exemplo, eu solicito à Novacap, ao DER ou ao SLU os seus carros-pipas, porque o volume de água que precisa ser utilizado é muito grande e os carros do Corpo de Bombeiros podem não ser suficientes. A Defesa Civil também pode identificar um local, na área de um parque nacional, onde é preciso fazer um aceiro – um espaçamento entre uma floresta e outra onde eu retiro toda a vegetação para impedir que o fogo avance. Também fazemos esse trabalho, em parceria com outros órgãos. Temos que entender que Defesa Civil é um órgão de articulação, formado por todos nós. Fazem parte do sistema de Defesa Civil o DER, a Polícia Militar, Corpo de Bombeiros…
Qual a umidade mínima para a Defesa Civil decretar estado de emergência?
A Defesa Civil segue as orientações da Organização Mundial de Saúde [OMS]. Toda vez que a umidade do ar estiver abaixo de 30%, é um estado de atenção porque isso não é normal, então fizemos um escalonamento. Quando a umidade atinge valores entre 20% e 30% durante cinco dias consecutivos, nós entramos em estado de atenção. Quando a umidade fica entre 12% e 20% por três dias consecutivos, a Defesa Civil decreta estado de alerta. E, nos casos mais graves, quando a umidade fica abaixo de 12% durante dois dias consecutivos, decretamos estado de emergência.
E o que acontece em cada um desses casos?
Temos que entender que, independentemente dos índices, a população precisa tomar medidas preventivas para evitar as consequências da baixa umidade. O que vai mudar é a intensidade dos cuidados. Esses índices servem para que as pessoas comecem a entender que a umidade está baixando, que é preciso se preparar.
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Mas existe uma recomendação para evitar atividades físicas, suspender aulas de ginástica, algo assim?
A Defesa Civil recomenda que, entre as 10h e as 17h, deve-se evitar o esforço físico de alta intensidade, porque esse período é o de maior insolação e a tarde é o horário que tem a menor umidade do dia normalmente, principalmente no estado de emergência. Essa recomendação não é somente para as escolas, mas para toda a população. Não precisa dispensar das aulas; a escola deve sim elevar os cuidados com a hidratação dos alunos. Tem muita escola que diminui o horário das aulas, aumenta os intervalos para os alunos beberem mais água; tem escola que incentiva que os alunos levem sua garrafinha de água e façam sua hidratação durante a aula, que é o ideal. A dispensa seria das aulas de educação física, porque a criança fica diretamente exposta ao sol. Mas se a criança, o adolescente e até os funcionários da escola ficarem em um ambiente controlado com a oportunidade de se hidratar, tudo bem. O mais importante é ter medidas que permitam a hidratação.
A umidade já começou a baixar, mas está frio. Daqui a pouco começa a ficar quente. Isso piora a situação?
A sensação térmica nos dá uma falsa segurança. Em ambientes com ar-condicionado, por exemplo, a gente acha que está tudo bem. Mas o ar-condicionado retira toda a umidade do ar. A questão é sempre se perguntar se você está bem-hidratado. No frio, a sensação de sede pode não aparecer, mas estou perdendo água na mesma quantidade. O que importa é o índice de umidade. Se ela está baixa, é preciso se hidratar. A temperatura mais elevada vai dar um desgaste físico maior. Mas já chegamos a 17% de umidade.
E ainda pode piorar?
Piora, até 12%. Tem meses de agosto em que a umidade pode chegar a 10%. A Defesa Civil se preocupa com os efeitos da baixa umidade, mas quem monitora a temperatura é o Instituto Nacional de Meteorologia [Inmet].
Na chuva, existem pontos de Brasília onde chove mais e que são mais propícios a inundações. E na seca? Existem cidades com menor umidade?
Sim. Temos cinco estações meteorológicas que fazem a medição da umidade. Nos dados do Inmet, é possível perceber uma leve diferença na umidade nas regiões administrativas do DF. Não é uma diferença gritante, mas, por exemplo, na semana passada tivemos umidade acima de 20% em Brasília, Ceilândia, Sobradinho, mas no Gama, em Planaltina, a umidade estava dando 19%, 17%. Isso vai depender muito se é uma área mais reflorestada, próximas de rios ou de lagos, onde a umidade costuma ser maior – se é de alta altitude ou não.
E como a população pode enfrentar a seca?
O primeiro grande cuidado é fazer a hidratação sempre, bebendo muita água. A água é universal, barata, prática e é do que o nosso corpo realmente precisa. Se você quiser dar uma incrementada com um suco natural, com pouco açúcar, uma água-de-coco é muito bem-vinda. Mas água é o melhor alimento. Também é importante se proteger, principalmente quem trabalha em ambientes externos; usar roupas leves, de tons claros para proteger a pele, usar hidratante. A hidratação e a proteção da pele são muito importantes para manter a saúde. [Também se devem] evitar alimentos muitos pesados que o corpo tenha dificuldade de digerir. Tudo que eu puder fazer para manter o corpo em funcionamento normal é importante nesse período.
Umidificador adianta?
Localmente, em ambientes pequenos, o umidificador e aquelas soluções caseiras, como a bacia d’água, ajudam a manter a umidade. São soluções que não são tão eficientes em um ambiente macro, mas em um quarto, uma sala, adianta sim. Quem tem filho sabe que, nessa época do ano, os cuidados devem ser redobrados com idosos e crianças. O umidificador, o nebulizador, a toalha molhada em cima da cama, ajudam demais, principalmente para quem tem problema respiratório.
O corpo vai dando sinais de que pode “pifar”?
Sim, mas a gente não pode esperar ter sede para beber água. Eu tenho que fazer uma hidratação continuada. Também não adianta beber cinco litros d’água agora e passar o resto do dia sem água. O corpo dá sinais quando está em estado mais crítico. Não posso esperar a pele ficar ressecada, ter sede ou o nariz sangrar para me cuidar.
A população liga muito a Defesa Civil a condições climáticas. Mas não é só nas chuvas e na seca que a corporação atua…
A Defesa Civil é um órgão que faz a avaliação de riscos de uma forma geral. Fazemos também a fiscalização das edificações. Muitas vezes, as pessoas observam que sua edificação, a do vizinho ou a da repartição em que trabalham apresenta alguma falha, uma trinca, uma rachadura, uma infiltração; e elas se sentem, de alguma forma, inseguras. Então, a pessoa liga para a Defesa Civil, e vamos ao local para verificar se aquilo é um risco imediato. Se tiver risco, temos que tomar medidas, como notificação e interdição. Se for mais simples, que demande apenas uma manutenção, a Defesa Civil chama o síndico ou o responsável por aquela edificação e faz uma orientação. Isso também serve para casos de incêndio. Também recebemos denúncias de que as instalações elétricas daquele local podem causar um curto-circuito. A Defesa Civil também atua no levantamento de áreas de risco e faz um trabalho de ajuda humanitária aos desabrigados. Em uma área que tenha sido ocupada de uma forma desordenada, a Defesa Civil informa às pessoas que ali é um local inapropriado para que sejam feitas edificações, e que devem ser tomados alguns cuidados. As construções podem ter sido feitas em um local de muita incidência de ventos, muito íngreme, perto demais de córregos ou rios, ou com materiais de baixa qualidade, sem nenhuma orientação técnica… e isso traz riscos de desabamento, destelhamento, inundação. Também fazemos a fiscalização de montagem de palco, tendas e outras estruturas usadas em eventos. Verificamos se foram colocados banheiros químicos e pontos de água, por exemplo, tanto em eventos particulares quanto públicos. Todos os eventos no DF, principalmente os [destinados] para mais de mil pessoas, precisam ter laudo da Defesa Civil.
Como a população entra em contato com a Defesa Civil?
Pelo [telefone] 199, pela Ouvidoria do GDF, pelo telefone 162 ou direto nos nossos telefones: 3362-1979, 3362-1934, 3362-1935, 3362-1936, 3362-1938 ou o 99427-5076 (equipe de plantão). A denúncia pode ser, inclusive, anônima.
Quando a Defesa Civil trabalha mais? Na seca ou na chuva?
O ano todo, mas as ocorrências do período de chuvas chamam mais a atenção da população, mas o levantamento das áreas de risco, por exemplo, é feito no período de seca. É um trabalho preventivo para as chuvas. Ele é divulgado em setembro, mas é feito ao longo do ano.
[Olho texto=”Das 37 áreas de risco que temos mapeadas, 36 estavam em área irregular. (…) Existem duas maneiras de acabar com o risco: ou afastar as pessoas do risco ou transformar a região com urbanização.” assinatura=”” esquerda_direita_centro=”direita”]
Grande parte das áreas de risco é irregular?
Sim. Das 37 áreas de risco que temos mapeadas, 36 estavam em área irregular. E a irregularidade chama o risco. As pessoas muitas vezes constroem sem projeto, sem acompanhamento técnico. Existem duas maneiras de acabar com o risco: ou afastar as pessoas do risco ou transformar a região com urbanização. Os maiores exemplos disso são o Sol Nascente e o Pôr-do-Sol [setores de Ceilândia]. Só no Sol Nascente moram mais de 250 mil pessoas. O local era uma grande favela e, com os investimentos do GDF, foi dotado de esgoto, drenagem pluvial e asfalto. Os riscos de alagamento são suprimidos. Eu acredito que, terminando as obras de infraestrutura, o setor vai deixar de ser área de risco.