31/07/2019 às 08:59, atualizado em 31/07/2019 às 09:27

Criação de búfalos no DF começa a despontar como uma boa ideia

Mesmo com números aparentemente pouco expressivos, rebanho local já ultrapassa o de três estados, refletindo a tendência de conquistar criadores e consumidores

Por Emanuelle Coelho, da Agência Brasília

Apesar do porte avantajado e da aparência às vezes feroz, os búfalos são, por natureza, bastante dóceis / Foto: Acácio Pinheiro/Agência Brasília

Embora ainda não possa ser apontada como uma referência, a criação de búfalos no Distrito Federal tem movimentado o setor. No ano passado, segundo dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), foram registrados 879 animais – quantidade que, aparentemente pouco expressiva, coloca o DF à frente dos estados de Alagoas (735 cabeças), Piauí (550) e Roraima (342).

Devido à limitação territorial do DF em relação ao restante do país, os números ainda são modestos, mas a região possui um grande potencial de mercado, tanto para pequenos produtores quanto para empresários. De acordo com a Secretaria de Agricultura do Distrito Federal (Seagri/DF), atualmente, há um total de 739 bubalinos cadastrados em 21 propriedades, entre as quais as maiores estão em Brazlândia e Ceilândia.

Segundo dados da unidade da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater), desse rebanho localizado no DF, são produzidas anualmente 12 toneladas de carne, além de 110 mil litros de leite, a partir do qual se fabricam outros subprodutos, como queijos e iogurtes. Essa produção é comercializada em restaurantes, pizzarias e hotéis.

[Numeralha titulo_grande=”12 toneladas” texto=”Quantidade de carne de búfalo produzida, anualmente, no DF” esquerda_direita_centro=”direita”]

Criação local

A aposentada Leni da Cruz, 74 anos, é uma das maiores criadoras do DF. Proprietária de 400 animais – começou com 15 e quer chegar a mil –, ela investe em búfalos desde 1998. Até então, criava bovinos, mas, ao descobrir que, diferentemente desses, os búfalos não atraem carrapatos, resolveu mudar de negócio. Na fazenda Babaçu, localizada no Núcleo Rural Boa Esperança, em Ceilândia, ela convive quase todos os dias com os animais, atualmente destinados a abate.

Na propriedade de 279 hectares, os búfalos são separados em várias pequenas áreas de pasto (piquetes) e divididos por peso. Quando ultrapassam os 400 kg – média que a espécie atinge em cerca de um ano e meio a dois anos –, estão prontos para o corte. Mensalmente, 22 são abatidos. Leni, que atualmente utiliza o leite bubalino mais para o consumo da família, já chegou a tirar 500 litros por dia. Mas o laticínio, conta, está parado desde 2010, em função da dificuldade de encontrar mão de obra.

As “pérolas negras”, como são carinhosamente chamados os búfalos por sua proprietária, se alimentam principalmente de capim, folhagens e milho. “Uma vez teve uma seca tremenda aqui e eu estava sem pasto”, conta. “Daí peguei folhas de coqueiro, manga e flor-de-mel, misturei e triturei. Eles comeram tudo”.  Sombra e água fresca, atenta ela, também não podem faltar para os animais.

Para o sucesso da criação, Leni conta com o apoio da Emater/DF, que dá suporte nos seguintes setores: alimentação e atendimento clínico, formação e manejo de pastagens,  sanidade,  boas práticas agropecuárias e de fabricação, segurança alimentar e nutricional, promoção de circuitos turísticos, crédito rural, políticas públicas, planejamento de instalações rurais,  manejo de resíduos, conservação do solo e da água, melhoramento/adaptação genética e classificação, padronização e desenvolvimento de embalagens.

Leni da Cruz, uma das maiores criadoras do DF, começou com 15 animais, hoje tem 400 e quer chegar a mil /Foto: Acácio Pinheiro/Agência Brasília

Características 

De acordo com a Emater/DF, os búfalos são animais com características produtivas muito boas, tanto para a produção de carne quanto de leite e seus derivados, como o queijo muçarela. São animais rústicos, muito resistentes e com grande facilidade de adaptação ao meio ambiente.

Os bubalinos têm capacidade de aclimatação, resistência às intempéries ambientais, adaptação em ambientes pantanosos e maior resistência às infecções parasitárias. Também são resistentes a algumas doenças que nos bovinos acabam sendo mais comuns.

Aceitação

O consumo de carne de búfalo, considerada mais saudável do que a bovina, ainda não está inserido na cultura do DF.  Os derivados do leite de búfala, porém, têm grande aceitação, com destaque para a muçarela, muito apreciada nas pizzarias.

Dados da Associação Brasileira de Criadores de Búfalos (ABCB) sinalizam que, em comparação com a carne bovina, a bubalina possui 40% menos colesterol, 12 vezes menos gordura, 55% menos calorias, 11% mais proteínas e 10% mais minerais.

Ainda segundo a ABCB, no Brasil são encontradas quatro raças oficialmente reconhecidas: murrah, jafarabadi, mediterrânea – presentes no DF – e carabao. Registros da associação apontam que o rebanho bubalino brasileiro, atualmente, possui 3 milhões de cabeças – o que representa apenas 1,4% do rebanho bovino, que possui 212 milhões de animais, e o mais numeroso coletivo da espécie registrado no Ocidente.

Arte: Núcleo de Comunicação Digital/Agência Brasília