07/08/2019 às 17:03, atualizado em 07/08/2019 às 17:09

Jardim Botânico realiza monitoramento da fauna e da flora do Cerrado

Projeto quer levantar informações sobre a preservação e recuperação de áreas que fora de unidades de conservação, principalmente as que sofreram algum tipo de degradação

Por Agência Brasília *

Para conhecer mais sobre o Cerrado, que detém 5% da biodiversidade do planeta, o Jardim Botânico de Brasília realiza expedições em áreas prioritárias para coletar dados sobre a fauna e a flora do bioma. 

O projeto Conhecer para preservar o Cerrado quer ampliar o conhecimento por meio da coleta botânica e do monitoramento dos animais que vivem na região. E. com isso, levantar informações sobre a preservação e efetividade da recuperação de áreas que estão localizadas fora de unidades de conservação, principalmente as que sofreram algum tipo de degradação.

A área da Estação Ecológica do Jardim Botânico é uma das mais conhecidas do Distrito Federal devido ao número de coletas já realizadas. O objetivo do projeto é conhecer detalhes da vegetação de outras regiões que estão inseridas no bioma.

A equipe do JBB – formada por biólogos, engenheiro florestal e geógrafo – percorreu no ano passado uma área de 900 hectares a 40km de Pirenópolis, conhecido como Mosteiro Zen. Em todo o período, foram coletadas mais de 730 plantas diferentes, sendo sete espécies novas.

Desde o início de 2019, os servidores estão se debruçando sobre o entorno do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros. A proposta é verificar se a área está tão preservada quanto o parque, apesar do aumento de fazendas e monoculturas.

A diretora da Vegetação e Flora do Jardim Botânico e doutora em botânica, Priscila Rosa, diz que com o trabalho é possível detectar se a área está bem conservada ou se sofreu transformações. 

“Nós trabalhamos com plantas, mas é possível verificar, por exemplo, nos casos de degradação, se a recuperação da vegetação foi eficiente”, diz. “E se ela retornou a sua forma ecossistêmica como um todo, oferecendo recursos para a fauna que vive nessa área”. Ela lembra: se os animais não encontrarem recursos, eles não voltarão a ocupar aquela área, o que compromete todo o meio ambiente.

Algumas espécies de plantas são indicadores da qualidade do ambiente, como Podocarpus sellowii, uma espécie de planta nativa que demora de 200 a 300 anos para atingir um tamanho arbóreo. “Se ela é encontrada em determinada região, é sinal de que está bem preservada”, adiantou Priscila.

Foto: Jardim Botânico de Brasília/Divulgação

Conhecimento estratégico

O projeto, também chamado de Enriquecimento das Coleções do Jardim Botânico de Brasília – Levantamento Florístico e Faunístico e coleta de espécimes vivos e sementes para o Viveiro e Index Seminum-, alimenta áreas estratégicas do Jardim Botânico: o Herbário Ezechias Paulo Heringer – HEPH, o Viveiro Jorge Pelles e a revista científica Heringeriana. 

“Conseguimos movimentar todo o JBB com um só projeto e preencher as lacunas de conhecimento. E mantemos a nossa classificação A, a mais alta categoria de identificação de jardins botânicos, o que é um reconhecimento pelos serviços prestados”, complementou.

[Olho texto=” Fazemos a coleta, identificamos a planta, publicamos os artigos e completamos todo o ciclo da informação, fundamental para conhecermos mais sobre o Cerrado ” assinatura=”Priscila Rosa, diretora da Vegetação e Flora do Jardim Botânico” esquerda_direita_centro=”esquerda”]

As sementes coletadas que não ficam no Herbário vão para o viveiro de manutenção e produção de plantas nativas e exóticas, auxiliando em projetos de recuperação de áreas degradadas. “Quase ninguém investe em produção de mudas de espécies nativas, porque geralmente demoram a germinar e crescer. Dá trabalho, mas temos que investir nisso”, reforçou Priscila.

Coleta botânica

Para a coleta, os biólogos saem com um aparato extenso. Alguns dos itens estão listados abaixo:

Foto: Jardim Botânico de Brasília/Divulgação

  • Caderno e caneta (para anotações dos detalhes da planta);
  • Fita métrica (para medir altura, diâmetro de arvores e arbustos maiores);
  • Tesoura de poda;
  • Jornal (para acondicionar as amostras coletadas);
  • Folhas de papelão (para intercalar entre as folhas de jornal que contêm as amostras coletadas);
  • Folhas de alumínio corrugado (para dispor entre as folhas de papelão);
  • Prensas de madeira (para prender as pilhas formadas pelos jornais contendo os exemplares intercalados com papelão e folhas de alumínio);
  • Álcool 70% (para conservar flores e frutos);

É importante registrar, por exemplo, a data da coleta e a localização exata obtida pelo GPS. Ao sair a campo, a equipe busca por diferentes espécies que estejam com fruto ou flor, fotografa e corta um ramo. No mesmo dia, todas as plantas são acondicionadas na prensa para evitar perdas de cor e, assim, facilitar a identificação. 

De acordo com Jair Faria, diretor de Gestão Integrada da Biodiversidade e Conscientização Pública do JBB e PHD em Botânica, é fundamental registrar todos os detalhes que podem ser perdidos até chegar ao herbário.

“É importante termos o endereçamento, a data, o tipo de ambiente que estamos coletando a planta e registrar as características que poderão se perder até chegar ao herbário. Se tem cor, cheiro, fruto. Tudo isso é fundamental”, reforçou.

No Herbário, o material é submetido à secagem em estufa e, imediatamente após, é deixado alguns dias em freezer a menos 10°C para matar os eventuais insetos que poderão destruí-lo ao longo do tempo.

Em seguida, começa a arte: as plantas são costuradas em folhas de cartolinas de tamanho padrão, juntamente com uma etiqueta contendo as informações sobre a espécie e o local de ocorrência. Daí nasce a exsicata, a unidade básica da coleção de um herbário.

Foto: Jardim Botânico de Brasília/Divulgação

Ela é, então, numerada para ser incorporada ao acervo e posteriormente acondicionada e arquivada em armários de metais fechados, em ambiente com temperatura e umidade controladas – para evitar a proliferação de insetos e fungos que podem danificar a coleção. Dessa forma, a exsicata é preservada para estudos futuros por centenas de anos.

Armadilhas para a fauna

O projeto também prevê a instalação de armadilhas fotográficas com câmeras trap, equipamentos eletrônicos amplamente utilizados para fins conservacionistas, para verificar o comportamento da fauna e a localização dos corredores ecológicos. 

Esses espaços possibilitam o deslocamento da fauna entre as áreas isoladas e garante a troca genética entre as espécies, sendo fundamentais para a dispersão de sementes e aumento da cobertura vegetal.

O gerente de Preservação do Jardim Botânico, Pedro Cardoso, reforça que quando há pressão antrópica sobre os remanescentes florestais, por exemplo, o comportamento dos animais é alterado. 

Foto: Jardim Botânico de Brasília/Divulgação

“O levantamento das espécies representantes da fauna é um importante indicativo do grau de antropização de determinada área, sendo utilizado como ferramenta para verificar a existência de espécies ameaçadas de extinção nos fragmentos de Cerrado e realizar o reconhecimento da fauna local”, complementou.

Esses animais, segundo ele, são essenciais para a manutenção dos ecossistemas, apresentando papéis indispensáveis para o ciclo de vida da flora nativa.


Importância do herbário

Um herbário serve como depósito de coleções históricas e são fundamentais na documentação permanente da composição florística de regiões, especialmente aquelas que foram alteradas ou devastadas. O arquivamento dessas informações no Brasil, detentor da flora mais rica e diversa do mundo, faz parte do esforço dos profissionais que atuam na área ambiental para a conservação de espécies. As coleções estão em constante atualização e novas colheitas de exemplares são realizadas regularmente. Isso permite um levantamento de espécies que ocorrem em cada local e o impacto causado sobre elas ao longo dos anos.


* Com informações do Jardim Botânico de Brasília