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19/08/2019 às 09:47, atualizado em 21/10/2019 às 12:02
A matriz energética do DF é quase toda de origem hidrelétrica, mas Plano Estratégico 2019-2060 quer estimular uso da fotovoltática. Afinal, Brasília tem todos os requisitos para tanto: período seco de seis meses e altos índices de irradiação solar
Diversificar a matriz energética do Distrito Federal é fundamental para garantir a qualidade de vida dos brasilienses. Por isso, consolidar a matriz de energia limpa como base do futuro do DF é uma das batalhas elencadas no Plano Estratégico 2019-2060 e é um objetivo que deve ser buscado pelo Executivo até o centenário de Brasília.
O Plano Estratégico, elaborado sob a coordenação da Secretaria de Fazenda, Orçamento e Gestão (SEF), aponta que, nas últimas décadas, houve intensificação das pautas relacionadas ao Meio Ambiente, motivadas principalmente pela conscientização da população sobre a importância da preservação ambiental e pela estruturação das políticas públicas para garanti-la.
Assim, o Estado deve ser capaz de suprir as demandas da geração atual sem comprometer a capacidade de atender as necessidades das futuras gerações. “Isso pode ser feito por meio da garantia do uso sustentável, da conservação, da proteção e da recuperação dos recursos disponíveis. É necessária a implantação de novos modelos que priorizem o desenvolvimento sustentável e o uso adequado da energia produzida”, ressalta a secretária-adjunta de Planejamento da SEF, Adriana Lorentino.
Hoje, praticamente toda a eletricidade consumida em Brasília não é gerada no Distrito Federal. A matriz energética do DF é amplamente representada pela energia de origem hidrelétrica, sendo que cerca de 80% é proveniente de Furnas e 20% de Itaipu, o que representa uma dependência do Sistema Interligado Nacional (SIN).
“No contexto em que tendências apontam para o aumento do consumo de energia, configuram-se enquanto desafios para o Distrito Federal a diversificação da matriz energética, com aumento da participação de energias renováveis como biomassa e energia fotovoltaica (solar), juntamente com o aumento da eficiência e a redução de perdas dos sistemas”, pontua. “Também é preciso reduzir a pressão pelo aumento da oferta de energia de origem hidrelétrica”, ressalta.
A partir de 2014 observa-se redução do consumo per capita de energia elétrica, acentuada nos anos da crise hídrica (2016 e 2017) (veja gráficos abaixo). Além da redução no consumo, houve redução na produção de energia elétrica, saindo de uma geração de 81 GWh, em 2016, para 60 GWh, em 2017. Enquanto a energia gerada por hidroelétricas caiu, no entanto, a geração de energia solar cresceu, apesar de ainda representar um percentual pequeno do total.
Segundo um estudo da WWF Brasil feito em 2016 sobre o potencial da energia solar fotovoltaica de Brasília, a capital federal possui diversas razões para ser a impulsionadora da energia solar no país.
Brasília está no coração do Brasil, tem um período seco que dura quase seis meses do ano e é beneficiada quanto aos índices de irradiação solar – o recurso solar do Centro-Oeste é equivalente ao encontrado na região Nordeste e uma das melhores irradiações da região se encontra no Distrito Federal.
Assim, segundo o estudo, basta instalar placas fotovoltaicas em 0,41% da área do DF para gerar, com energia solar, toda a eletricidade consumida na região. Os primeiros passos são dados aos poucos. Desde 2017, a Associação Atlética Banco do Brasil (AABB) usa energia solar durante o dia e só liga a energia fornecida pela Companhia Energética de Brasília (CEB) à noite.
A unidade de Brasília é a 1ª AABB do Brasil e o 1º clube da cidade a implementar uma usina solar fotovoltaica. Instalados no telhado da sede social do clube, 1.468 painéis formam o sistema de captação de energia solar com a função de transformar a energia do sol em energia elétrica limpa, gerando uma corrente contínua proporcional à irradiação solar recebida.
A Universidade de Brasília (UnB) também tem um projeto para ampliar a matriz energética da instituição. Os campi de Planaltina e de Ceilândia já têm usinas de energia fotovoltaica em funcionamento, as placas solares estão sendo instaladas no campus do Gama e uma usina também será feita no campus Darcy Ribeiro (na Asa Norte) até o fim do ano.
Na Ceilândia, o sistema de geração de energia solar é composto por 134 placas, tem cerca de 300 m² e capacidade de gerar 44 KWp (quilowatts-pico) por mês. Isso corresponde a uma economia mensal média de R$ 4,7 mil, aproximadamente 6% da conta de energia do local.
Em Planaltina, a usina solar fotovoltaica, com capacidade de gerar a mesma quantidade de energia, representa uma economia de cerca de 12% da fatura de energia, em média.
[Olho texto=”É uma solução onde todo mundo ganha. O Brasil precisa de energia para crescer” assinatura=”Rafael Amaral Shayani, professor do Departamento de Engenharia Elétrica da UnB” esquerda_direita_centro=”esquerda”]
Com uma conta de luz de cerca de R$ 1 milhão por mês, a usina do campus Darcy Ribeiro será três vezes maior, com capacidade de gerar 150 kWp por mês. As placas serão instaladas na Faculdade de Tecnologia. “Estudos do Ministério de Minas e Energia preveem que, até 2050, o Brasil precisa triplicar a oferta de energia para receber novas indústrias, gerar mais empregos e ter crescimento econômico”, diz o professor Rafael Amaral Shayani, do Departamento de Engenharia Elétrica da UnB.
“Os países desenvolvidos queimam carvão, o que emite muitos gases de efeito estufa e é uma solução ambientalmente indesejável. O Brasil cresceu com hidroelétricas, que é uma fonte de energia limpa, mas alaga florestas. Para triplicar a oferta de energia a gente não pode alagar a Amazônia. A energia solar surge como uma ótima opção. É um processo eletrônico. O painel solar gera eletricidade sem emitir fumaça, nenhum gás do efeito estufa e sem fazer barulho”, ressalta.
Gera DF
O DF é o quarto produtor de energia solar no Brasil, perde para Uberlândia e Várzea de Palma, ambas em Minas Gerais, e o Rio de Janeiro. Segundo a CEB, a excelente irradiação solar aliada ao alto poder aquisitivo da população contribui para o grande potencial para a energia solar no DF, que tem 1.134 unidades consumidoras conectadas à rede de energia do DF, a maioria delas (cerca de 950) unidades residenciais, que geram energia para consumo próprio. A potência instalada nessas unidades é de 20.686 kWp, o suficiente para abastecer toda a população de Brazlândia no período da tarde.
O DF tem cinco grandes usinas de energia fotovoltaica instaladas e duas cuja fonte de geração de energia é o biogás. A maior de energia solar está instalada em Ceilândia e alimentará a subestação da CEB na região.
O empreendimento é uma parceria público privada (PPP) do Executivo com a RZK Energia e a Claro. A energia gerada no local e usada na subestação será descontada do que for consumido pela companhia telefônica. Na área, estão instalados 18 mil módulos fotovoltaicos.
Segundo o presidente da CEB, Edison Garcia, outros 13 projetos para a instalação de usinas desse tipo estão em análise pela companhia que também estuda a criação de um programa para incentivar a geração de energia fotovoltaica no DF, que será chamado de Gera DF.
“Estamos estudando e vamos definir áreas no DF perto das nossas redes de transmissão e das subestações que poderão ser oferecidas a projetos empresariais. Cada usina de geração distribuída precisa de cinco ou seis hectares para ter uma quantidade de placas suficiente para gerar até cinco mega”, explica.
Segundo ele, cinco mega é o quantitativo máximo para uma usina ser uma geração distribuída, um sistema onde não é preciso vender a energia. “Todo mundo que gerar acima de cinco mega precisa vender a energia em leilão”, enfatiza.
A CEB tem outros programas para incentivar a diversificação da matriz energética do DF. “Estamos apoiando tecnicamente a Secretaria do Meio Ambiente, temos estudos para a geração de energia através do lixo e com podas de árvores feitas pela Novacap. Já fizemos um levantamento para usar toda a sobra das podas feitas em Brasília, galhos e pedaços da árvore, na geração de energia, com a queima que se faz numa termoelétrica. Já fizemos uma análise de que com todo o estoque anual da Novacap conseguimos gerar cinco megas, o suficiente para abastecer Samambaia toda”, afirma o presidente Edison.
Óleo de cozinha
Segundo o Plano Estratégico, a meta até 2060 é aumentar em 25% a geração de fontes de energia renovável. Para isso, prevê, entre outras ações, o fomento ao programa de coleta e transformação do óleo de cozinha em biodiesel, o Projeto Biguá da Companhia de Saneamento Ambiental do DF (Caesb).
[Numeralha titulo_grande=”25%” texto=”é a meta de aumento de geração de fontes de energia renovável até 2060″ esquerda_direita_centro=”esquerda”]
Desde 2018, a companhia em parceria com a Embrapa Agroenergia, convida a população a realizar a Coleta Seletiva de Esgoto, separando e armazenando o óleo de cozinha usado em sua casa ou estabelecimento e mantém 31 pontos de coleta de resíduos de fritura (veja a localização dos Pontos de Entrega Voluntária aqui.)
Jogados na natureza ou na rede de esgoto, os rejeitos do óleo de cozinha usado em residências e no comércio são uma ameaça ao meio ambiente, à saúde pública e à infraestrutura urbana.
O Projeto Biguá coleta de óleo de fritura que, futuramente, será reutilizado na usina de biodiesel do DF, que já está construída. A ideia é transformar o material em biodiesel que vai abastecer a frota de veículos da Caesb e de suas parceiras. Poderá também ser usado nos geradores responsáveis pelo tratamento de esgoto da capital.
O descarte inapropriado do resíduo pode representar danos ambientais significativos, com potencial poluidor elevado relacionado aos ambientes hídricos. Um litro de óleo é capaz de poluir 200 litros de água. O descarte do óleo sobre o solo é igualmente danoso, em especial pela impermeabilização do solo e pela contaminação do lençol freático.
Energia renovável
O GDF também deve elaborar projetos para exploração e geração de energia renovável (fotovoltaica, biogás e biomassa) em parceria com a iniciativa privada e o governo federal, construir uma usina geradora de energia fotovoltaica com capacidade instalada de 5 MW no Complexo Administrativo Operacional (CAO) do Metrô.
Também deve criar a Central Geradora Hidrelétrica de 367 KW nas ETE Samambaia e Melchior, implantar o aproveitamento energético do biogás nas ETE Brasília Sul, Brasília Norte, Gama, Melchior e Samambaia e pontos de energia fotovoltaica no Zoológico, bem como a implementação de programa de incentivo ao uso de energias renováveis no espaço rural.
“As tendências de aumento do consumo, juntamente com a mudanças no fluxo das chuvas, têm reduzido o nível dos reservatórios, reforçando a necessidade de diversificação da matriz energética”, destaca Adriana Lorentino, secretária-adjunta de Planejamento da SEF.
[Olho texto=”É preciso criar estruturas que possibilitem o uso da vocação natural da região para a geração de energias renováveis” assinatura=”Adriana Laurentino, secretária-adjunta de Planejamento da Secretaria de Fazenda” esquerda_direita_centro=”direita”]
Também serão implantados novos empreendimentos no sistema de distribuição de energia, de modo a reduzir em 25% as perdas totais do sistema elétrico do Distrito Federal.
O Plano Estratégico também está alinhado com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU). A Agenda 2030 estabeleceu o ODS 7, salientando a necessidade de assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todas e todos. Sob esse contexto, pontuou como meta a expansão da infraestrutura e a modernização da tecnologia para o fornecimento de serviços de energia modernos e sustentáveis para todos, bem como o aumento da participação de energias renováveis na matriz energética global.