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24/11/2019 às 13:45, atualizado em 25/11/2019 às 14:45
Figura marcante da história de Brasília, o governador José Aparecido de Oliveira tem a trajetória resgatada em documentário exibido na segunda noite do Festival de Cinema
Dado a ousadias inconcebíveis, Darcy Ribeiro caiu das nuvens quando ouviu a sugestão: Brasília Patrimônio da Humanidade. “Mas como, se a cidade só tem 25 anos?”, indagou o antropólogo ao autor da proposta, o então governador do Distrito Federal, José Aparecido de Oliveira, que teve sua trajetória contada em documentário exibido sábado (23), na segunda noite do 52º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.
A sugestão se concretizou à revelia dos poucos anos da nova capital e das dificuldades burocráticas entre os organismos internacionais. O título foi conquistado para essa joia da arquitetura moderna nascida no coração do Brasil. Tratava-se, portanto, de um feito histórico. “É, o Zé Aparecido é mais louco do que eu. Ele conseguiu cravar uma lança na Lua”, diria o pai da UnB, Darcy.
Convencional, mas afetivo e extremamente pertinente, o documentário José Aparecido de Oliveira – O Maior Mineiro do Mundo, exibido em mostra paralela, tem o mérito de apresentar ao grande público uma das figuras mais relevantes da história do Distrito Federal, mas pouco lembrada. O que não deixa de ser uma baita injustiça, diante de suas conquistas para Brasília e o país. José Aparecido foi o primeiro ministro da Cultura do Brasil e lutou muito, juntamente com outros intelectuais de seu tempo, para que o tema ganhasse status de secretaria de Estado nos governos das Unidades da Federação. Antes dele e Darcy Ribeiro, a cultura era renegada a uma mera repartição e não projeto estadual.
“Ele era um homem de gestos, uma pessoa à frente do seu tempo que lutou, com todas as forças e energia, para que o Brasil fosse um país que tivesse respeitado todas as suas crenças, raças e história”, disse sua filha, Maria Cecília, em entrevista à Agência Brasília, após debate realizado com a equipe do filme, no hall do Cine Brasília. “O Zé Aparecido foi um dos grandes políticos que este país teve, era capaz de realizar grandes projetos”, destacou um dos diretores do projeto, junto com o filho Gustavo Brandão, Mário Lúcio Brandão.
Figura agregadora
Nascido em Conceição do Mato Dentro, Minas Gerais, José Aparecido de Oliveira chegou em Brasília no início dos anos 60, na condição de secretário particular do presidente Jânio Quadros. Então com 32 anos, ele dava início à relação intensa que teve com a cidade. Nos 89 minutos de projeção do documentário – que terá nova exibição na cidade em dezembro, só para convidados -, o público pode conferir o estilo ágil, envolvente e agregador do homenageado, por meio de depoimentos de amigos, familiares e personalidades diversas.
Entre aqueles que falaram da importância e carisma de Zé Aparecido estão os cartunistas Jaguar, Chico Caruso e Ziraldo – quem cunhou a frase que empresta o título ao filme -, o ex-presidente José Sarney, os cineastas Luiz Carlos Barreto e Vladimir Carvalho, além da atriz Fernanda Montenegro. Aliás, um dos momentos mais emocionantes da fita, é quando a grande dama do cinema e do teatro lembra o dia em que o amigo mineiro a convido para tomar conta da pasta da Cultura, nos anos 80.
“Ele era o ministro da Cultura e estava deixando o cargo para assumir o governo de Brasília. Então me liga e convida para ficar no lugar dele”, lembrou a atriz. “Eu não pude aceitar, mas ficou a grandeza do gesto de um homem de visão, que acreditava que um artista pudesse ser ministro da Cultura e ainda mais uma atriz”, disse emocionada, na tela do Cine Brasília.
A presença de homem público que foi José Aparecido de Oliveira se esparrama pelo Distrito Federal por meio de obras como a Casa do Cantador, em Ceilândia, o Memorial dos Povos Indígenas, o Panteão da Pátria, localizado na Praça dos Três Poderes, assim como obras de complementação da Catedral de Brasília, enfim, os famosos vitrais da artista plástica pernambucana, Mariana Peretti. Foi na gestão de José Aparecido também que se deu o início da democratização do espaço da orla do lago Paranoá. “Ele também teve papel fundamental na redemocratização do Brasil”, frisou o diretor, Mário Lúcio.