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26/12/2019 às 15:59, atualizado em 27/02/2020 às 12:35
Governo federal do final da década de 1950 decidiu que o corpo diplomático deveria ser transferido do Rio de Janeiro para a nova capital, no meio do Planalto Central
Um dos acontecimentos importantes na história da construção de Brasília é a vinda das embaixadas para o Cerrado. O corpo diplomático estava instalado no Rio de Janeiro, até então a capital da República. Como toda a mudança, a transferência das representações estrangeiras não foi amplamente aceita, mas vingou. Atualmente, 131 embaixadas estão espalhadas por Asa Norte e Asa Sul, Avenidas das Nações, Setor de Embaixada Sul, de Rádio e TV Norte e W3 Norte, reunindo um grande acervo de arquitetura estrangeira.
Segundo o livro O Cerrado de Casaca, de Manuel Mendes, um ano depois de inaugurada nova capital o presidente da Companhia Urbanizadora de Brasília (Novacap) recebe uma nota do então prefeito do Distrito Federal, Paulo de Tarso. O pedido era um tanto quanto curioso: reservas de lote, na Avenida das Nações, para a construção de embaixadas dos novos países afro-asiáticos. Em sua justificativa o político dizia que era preciso estreitar as relações e que Brasília deveria estar preparada para recebê-los.
[Numeralha titulo_grande=”131 embaixadas na capital ” texto=”Asas Norte e Sul, Avenida das Nações, Setor de Embaixada Sul, Setor de Rádio e TV Norte e W3 Norte têm representações estrangeiras” esquerda_direita_centro=”esquerda”]
O arquiteto Paulo Roberto Alves explica que a referência inicial da construção e transferência das embaixadas, consulados e representações diplomáticas na capital estão presentes no próprio Plano Piloto de Lúcio Costa. “Havia uma previsão de um setor para embaixadas e outros projetos apresentados que faziam referências a setores para abrigar essas representações estrangeiras”, lembra.
Engana-se quem pensa que a mudança aconteceu de pronto. Após muitas idas e vindas, as embaixadas só terminaram de ser transferidas para a nova capital em 1973. Antes, o Palácio do Itamaraty, juntamente com o Ministério das Relações Exteriores, precisava ser instalado. Em 1969 o prédio do Itamaraty estava pronto e, durante a cerimônia de entrega, a informação foi de que o ministério estaria completo até 28 de fevereiro de 1970.
Ainda de acordo com a obra de Manuel Mendes, a Iugoslávia, atual Sérvia e Montenegro, foi o primeiro país a se instalar completamente na Avenida das Nações. Os Estados Unidos foram os pioneiros nas obras, mas o projeto final só foi finalizado na década de 1970. Em seguida Tchecoslováquia, África do Sul e Argentina foram ocupando o solo vermelho do cerrado.
A respeito de normas ou legislações para a construção das embaixadas em Brasília, o arquiteto Paulo Roberto Alves lembra que havia uma recomendação vaga sobre uma arquitetura moderna e que tenha referências do país. Mas a sugestão não foi seguida por todos. “O que de toda forma não impediu de que tivéssemos um panorama bastante significativo da arquitetura desenvolvida no mundo neste período dos últimos 50 anos, ou seja, com a idade de Brasília. A arquitetura da segunda metade do século XX”, comenta.
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Inaugurada oficialmente em 1974, a embaixada da Bélgica foi um dos primeiros países que fizeram acordo de amizade com o Brasil, segundo o embaixador Patrick Herman. Ele lembra do dia da cerimônia da pedra fundamental. “Tinham autoridades e a imprensa. Na mesma noite um diplomata da embaixada do Irã pedindo desculpas e dizendo que a pedra estava no meio do terrenos deles. Fizemos um outro evento pequeno para colocar em um lugar que ficasse bom para ambos”, recorda.
A construção do prédio contou com a participação de um arquiteto brasileiro famoso: Paulo Antunes Ribeiro. Mas, antes disso, o embaixador relembra que a mudança do corpo diplomático não foi fácil. “Todos estavam felizes no Rio de Janeiro, pois lá estavam todos instalados.” Isso não impediu que os 20.000 metros quadrados em Brasília fossem ocupados pelos belgas.
Com uma visão privilegiada para o Lago Paranoá, a Embaixada da Itália foi entregue ao embaixador em 1977. Seguindo a recomendação de uma arquitetura moderna, o local também fez uso do concreto armado e espelho d’água para associar a imagem da embaixada à da nova capital.
Na avaliação do embaixador Antonio Bernardini, o prédio é uma atração turística. “A arquitetura da embaixada é como uma ferramenta para fazer políticas culturais em Brasília, com uma boa vista para o lago. O lugar tem que ser como uma carta de visita. As pessoas tem que sentir essa emoção quando visitam”, defende.
Para Bernardini, Brasília é uma cidade que abriga inúmeras empresas italianas e trabalha muito com o poder público administrativo. “Há um interesse muito grande agora para atrair investidores e diversificar a economia”, lembra.
Com um lote de 37.500 metros quadrados, o edifício da Embaixada de Portugal foi inaugurado em 1978. Localizado ao sul do Eixo Monumental, o prédio foi projetado por Chorão Ramalho e surge na continuidade das múltiplas experiências deste arquiteto no país português.
Nas palavras de Jorge Figueira “visitar a Embaixada de Portugal é, como deve ser, visitar Portugal em relação com o infinito mundo brasileiro. É estar na presença de uma modernidade que os arquitetos portugueses aprenderam com os arquitetos brasileiros, numa troca que não é só de uma língua partilhada, mas de um mundo civilizado por uma arquitetura comum”.
O embaixador Jorge Cabral relembra que vários materiais foram trazidos de Portugal, como azulejos encomendados e produzidos especialmente para o prédio. “As esculturas que dialogam com o edifício foram encomendadas a artistas portugueses. O mesmo acontece com a coleção de arte e com elementos decorativos, entre os quais se destacam os tapetes de Arraiolos e tapeçarias de Portalegre”, destacou.
O local também faz referência à capital, como os espelhos d’água e árvores típicas do cerrado. O teto do auditório que abriga cerca de 200 pessoa remete ao idealizado por Athos Bulcão no plenário do Senado Federal, com placas metálicas.
“Há sempre uma preocupação em relacionar a arquitetura com Brasília”, lembra a conselheira Cultural do Centro Cultural Português (Instituto Camões) em Brasília, Alexandra Pinho.
* Colaboraram Gizella Rodrigues e Emanuelle Coelho, da Agência Brasília