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20/02/2020 às 09:27, atualizado em 27/02/2020 às 16:24
A capital federal tem samba no pé e já foi referência em desfiles de escolas de samba
Se hoje um milhão de brasilienses e turistas invadem as ruas de Brasília para brincar o Carnaval, é porque um grupo de pioneiros deu o pontapé para iniciar a festa do Momo, quando a cidade mal tinha comemorado seu primeiro ano de vida.
Os primeiros moradores da capital contam que a folia existia desde antes da inauguração, em 21 de abril de 1960. Era um desejo de Israel Pinheiro, administrador da capital federal, fazer, no meio do Cerrado, o primeiro Carnaval da nova cidade.
A princípio, os festeiros se reuniam na Travessa Dom Bosco, na Cidade Livre – hoje Núcleo Bandeirante –, com apenas alguns solitários fantasiados pelas ruas.
Foi oficialmente em 1961 que a festança começou. Naquele ano, a alegria tomou conta dos salões de bailes dos clubes do Núcleo Bandeirante e do Plano Piloto. Em outubro, foi fundada a primeira escola de samba, a Associação Recreativa Cultural Unidos do Cruzeiro.
A inciativa veio de um grupo de moradores cariocas reunidos em um dos primeiros núcleos urbanos da cidade, ainda chamado de Bairro do Gavião – hoje Cruzeiro. A estreia foi em 1962, ocupando a W3 Sul, ponto de encontro da sociedade brasiliense na época. Além da Unidos do Cruzeiro, desfilaram outras três escolas: Alvorada em Ritmo – que venceu as três primeiras disputas –, Brasil Moreno e Unidos de Sobradinho.
Durante muitos anos, a apresentação das agremiações foi o ponto alto do Carnaval brasiliense e também serviu de base para o fomento do samba na cidade e a disseminação do ritmo também em blocos de rua, como o Pacotão.
Vencedora absoluta
Das quatro escolas que se apresentaram em 1962, apenas a Unidos do Cruzeiro ainda existe e completa 59 anos em 21 de outubro deste ano. Depois dos três carnavais vencidos pela Alvorada em Ritmo – 1962, 1963 e 1964 -, a escola do Cruzeiro começou a vencer em 1965 e conquistou, logo de cara, o pentacampeonato.
Nos primeiros anos, a Associação Recreativa Cultural Unidos do Cruzeiro desfilava com o nome de Unidos do Cruzeiro. Foi assim até que um jornalista do Correio Braziliense, à época autor de muitas reportagens sobre a associação, reclamou que o nome era muito grande, difícil de ser usado em títulos. Ele sugeriu que a escola adotasse a sigla Aruc, que pegou.
A Aruc conquistou uma hegemonia como pouco se viu nos carnavais do Brasil. Ganhou 31 dos 48 desfiles oficiais dos quais participou. A escola trazia para a avenida 1,2 mil componentes com fantasias luxuosas, no padrão carioca da Sapucaí.
As escolas de samba do DF desfilaram até 2014, quando a festa teve como vencedora a Acadêmicos da Asa Norte, escola fundada em 1969 e a segunda maior detentora de títulos – sete, ao todo.
Palcos da folia
Depois da W3 Sul, o palco da diversão foi transferido para a plataforma superior da Rodoviária de Brasília, onde ficou até 1966.
A partir daí, até o começo da década de 1980, as escolas de samba se apresentavam na região central do Plano Piloto. Em 1982, o desfile foi levado para a Avenida Comercial de Taguatinga, mas logo voltou ao Plano Piloto, nos anos seguintes.
As farras carnavalescas memoráveis da cidade lotavam mesmo era o Eixão Sul, entre as décadas de 1980 e 1990, chegando a reunir 50 mil pessoas na noite de desfiles do Grupo Especial, formado por seis escolas.
“Foram grandes carnavais, mas aí começou a ter reclamação de moradores, começaram as obras do metrô e tivemos que sair de lá”, conta Moacyr de Oliveira Filho, o Moa, 67 anos, e presidente da Aruc pelo quinto mandato (não consecutivo).
Para ele, o melhor lugar de Brasília para desfilar era a Passarela da Alegria, atrás da Torre de TV e que, também conhecido como Caldeirão da Folia, foi o cenário onde as agremiações se apresentaram entre 1997 e 2004. “Era o lugar perfeito, a pista já estava pronta, não tem moradores perto, é um local centralizado, perto da Rodoviária, com estacionamento fácil, não causava grandes transtornos para ser fechado quando as arquibancadas eram montadas”, enumera. “Era um local que incomodava muito pouco a vida da cidade”.
Ceilambódromo
Segundo Moa, o sucesso do Carnaval no fim da década de 1980 e nos anos 1990 se deve a uma programação cultural extensa e diversificada. Nas chamadas “batalhas de confete”, dois meses antes da farra, um evento pré-carnavalesco agitava as regiões administrativas.
“Ia um conjunto de samba, o reinado do Momo e uma escola de samba”, retoma. “Um fim de semana era em Taguatinga, no outro em Ceilândia, no Guará… Cada fim de semana tinha em uma cidade. Isso ajudava a atrair o público.”
Ele também lembra que havia dois eventos junto ao desfile das escolas que atraíam grande público: um baile infantil na tarde de domingo no “sambódromo” e todas noites tinha um baile popular quando acabavam as apresentações das agremiações.
Em 2005, um novo capítulo marcou a história do Carnaval de Brasília. Por sete anos seguidos, o desfile foi realizado em Ceilândia, onde uma estrutura era montada exclusivamente para a folia, o Ceilambódromo – local em que hoje funciona uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA).
A noite do desfile do grupo especial chegava a reunir 40 mil pessoas, mas, apesar do público, os dirigentes das escolas reclamavam da falta de estrutura e da distância. De Ceilândia, a festa voltou para o estacionamento do ginásio Nilson Nelson, onde permaneceu por mais dois anos até ser suspensa de vez. Há cinco anos as escolas de samba não desfilam em Brasília.
Carnaval de rua
A história do Carnaval de rua de Brasília começou no ano em que a cidade completava sua maioridade (18 anos). Numa época em que o desfile das escolas de samba imperava, em 1978, o bloco Pacotão surgiu timidamente no meio da avenida e, aos poucos, aglutinou multidões.
Conhecido por satirizar a situação política do país, o bloco de rua mais tradicional da cidade tem marchinhas com letras ácidas contra políticos e cruza a W3 Sul pela contramão, como forma de protesto.
A origem do nome “pacotão” faz referência ao conjunto de medidas anunciadas pelo então presidente da República Ernesto Geisel em 1977, conhecido como “Pacote de Abril”. O tal pacote não foi para a frente e, entre os jornalistas, virou motivo de piada.
Da brincadeira, veio a sugestão de criar um bloco. “A ideia era fazer um bloco dos sujos, igual nos carnavais de antigamente, em que as pessoas botavam uma fantasia e iam para a rua. No primeiro desfile, em 1978, parecia um bando de malucos no meio da rua”, conta Moa, um dos fundadores do Pacotão.
Naquele primeiro desfile, parte da bateria da Aruc saiu com o bloco e garantiu a diversão dos foliões. “Eu já frequentava a Aruc e pedi apoio ao presidente da escola, que adorou a ideia”, conta o jornalista. “Tanto que o primeiro cartaz de divulgação do bloco dizia: ‘o Pacotão e a Unidos do Cruzeiro convocam o povo para adentrar a avenida’”.
Marcha do Aiatolá
[Olho texto=”Geisel, você nos atolou, o Figueiredo também vai atolar. Aiatolá, aiatolá, venha nos salvar, que esse governo já ficou gagá.” assinatura=”” esquerda_direita_centro=”centro”]
O bando de “malucos” totalizou cerca de 100 pessoas em 1978. Um ano depois, o bloco explodiu e atraiu milhares. Naquele ano, foi escrita a marchinha conhecida até hoje como hino do Pacotão, a Marcha do Aiatolá.
Em 1979, o general João Figueiredo sucedia a Ernesto Geisel no controle ditatorial do país. Enquanto isso, no Irã, o aiatolá Ruhollah Khomeini liderava a revolução que, em 11 de fevereiro, derrubou o monarca Mohammad Reza Pahlavi e instaurou a república islâmica.
A marchinha caiu no gosto da cidade e milhares de pessoas desfilaram naquele ano. “Quando criamos o bloco, nunca imaginamos que o Pacotão iria se transformar no que se transformou”, conta Moa.
Diretas já
Mas o auge do Pacotão foi em 1984, ano das Diretas Já, quando uma multidão estimada entre 30 e 40 mil pessoas se entregou ao samba. A marchinha era Cai na real, general, e a maioria dos carnavalescos fez o percurso vestido de amarelo e verde carregando mensagens que pediam a retomada das eleições diretas para presidente.
Esse desfile deixou o Pacotão nacionalmente famoso. O Fantástico, da Rede Globo, passou a mostrar o desfile todos os domingos durante alguns anos, simbolizando o Carnaval de Brasília. Ele existe até hoje, mas seus fundadores ficaram mais velhos, se afastaram das funções e não desfilam mais.
[Olho texto=”Não adianta mais enrolar, é agora, tá na hora, vamos lá. Ninguém me segura, sai da minha frente. Eu, este ano, vou votar pra presidente. Chega de conversa mole, ninguém engole o tal Colégio Eleitoral. Cai na real, general.” assinatura=”” esquerda_direita_centro=””]
Clubes
Os bailes nos clubes também são um capítulo da história do Carnaval brasiliense que merece destaque. Desde os anos 1960, os mais animados vestiam as fantasias, pintavam os rostos e lotavam os salões. Bailes memoráveis eram concorridíssimos até os anos 2000.
Em 1961, os carnavais eram celebrados em clubes do Plano Piloto, como no pioneiro Brasília Palace Hotel, e também em boates do Núcleo Bandeirante. Em 1962, foi criado no Hotel Nacional o Baile da Cidade, que contou com a presença da atriz norte-americana Rita Hayworth e do então primeiro-ministro Tancredo Neves.
Houve também o baile popular, no Teatro Nacional, ainda em construção. No ano seguinte, o Baile da Cidade, novamente, lotou o Hotel Nacional, e quem apareceu por lá foi o astro hollywoodiano Kirk Douglas.
Nos anos 1980, as noites eram embaladas por marchinhas e bandas de sopro. Os bailes dessa época já eram sucesso e reuniam cerca de 5 mil pessoas.
Mas o auge mesmo foi nos anos 1990, quando, em festas embaladas por bandas de axé, os brasilienses começaram a ouvir músicas baianas, como as de Luiz Caldas, tocadas, entre outras, pela banda Squema Seis. Também passaram a fazer sucesso as inúmeras festas do estilo micareta espalhadas pela cidade.
Havia um revezamento dos dias dos bailes. Os do Iate Clube eram realizados domingo e terça-feira, enquanto no sábado e na segunda a folia tinha como palco o Clube do Congresso. “Os bailes dos anos 1990 reuniam de sete a oito mil pessoas nos dois dias de Carnaval”, lembra Nelson Gonçalves, diretor social do Iate Clube de Brasília. “Nada se compara aos carnavais daquela época”.
Em 1996, o Carnaval do Iate foi inesquecível. Cinco bailes aconteceram durante os quatro dias divertimento: dois com a banda Squema Seis, dois com o Batom na Cueca e, no quinto, a folia embalada por um esquema mais tradicional: as marchinhas. “Eles eram no ginásio de esportes onde cabia mais gente”, conta Nelson.
No Iate, o público era mais velho, na faixa entre 30 e 40 anos, e os bailes, mais refinados. Os mais jovens iam para o Minas Tênis Clube e para a Associação Atlética Banco do Brasil (AABB).
Moradora da Asa Norte, Marilda Nepomuceno, 57 anos, é apaixonada por Carnaval desde criança. Nos anos 1970, segundo ela, a diversão acontecia nas matinês do Brasília Palace e, posteriormente, a folia era nos clubes.
“A gente percorria todos os bailes, o Minas, a AABB, o Iate”, lembra. “Todo mundo ia”. Hoje, a diversão de Marilda e seus amigos é nos blocos de rua, que se tornaram a cara do Carnaval de Brasília.