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24/03/2020 às 17:15
Especialista da Secretaria de Saúde fala sobre os riscos de tomar remédios não recomendados por conta própria e sem prescrição médica
Não é de hoje que a automedicação é contraindicada por médicos e especialistas da área de saúde. Em tempos de enfrentamento à pandemia de coronavírus, a Secretaria de Saúde (SES) tem recomendado à população que não busque medicamentos preventivos ou de tratamento da Covid-19 sem a prescrição de um profissional da área.
A doença, para a qual ainda não se tem vacina – e as medidas preventivas mais recomendadas são a higienização frequente das mãos e o isolamento –, cresce proporcionalmente ao número de óbitos e de novos casos em todo o país.
Referência técnica distrital em clínica médica da SES, o médico Fernando Santos Moreira lembra que os tratamentos padronizados, aceitos pela Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) e aprovados pelo Ministério da Saúde, passam por critérios rigorosos de avaliação.
Em entrevista à Agência Brasília, ele explica que, como a Covid-19 é uma doença nova, estudos preliminares ainda estão sendo feitos, e qualquer medicamento usado no tratamento ou prevenção da doença só deverá ser utilizado quando aprovado. “Caso contrário, correremos mais risco do que obteremos benefícios”, adverte. Confira os principais trechos da entrevista, na qual o médico ela fala também sobre os mitos e verdades relacionados ao aumento de imunidade.
Estudos preliminares desenvolvidos em vários locais no mundo apontam para supostas soluções para eliminar o Covid-19. Já existe cura ou vacina?
No momento, não existe cura nem vacina para a Covid-19. É importante ressaltar que os tratamentos padronizados, aceitos pela Anvisa e autorizados pelo Ministério da Saúde, passam por critérios rigorosos para aprovação. Como se trata de uma doença nova, os estudos são iniciais. É importante ficarmos atentos aos órgãos de controle para que, só após a autorização deles para utilização dessas medicações, a gente possa utilizar – senão podemos correr mais riscos do que colher benefícios.
Neste momento, o que as pessoas devem fazer, então?
As pessoas devem ter muita atenção à orientação médica. Devem ter também muito cuidado com as fake news – porque, talvez, a gente tenha mais notícias falsas do que notícias seguras. E a orientação médica é a nossa única orientação neste momento.
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Quais são as suas orientações?
Se estiver com sintomas gripais, porém sem sinais de gravidade, sem dispneia – que é a falta de ar –, sem desmaios, e no caso de pessoas que não tenham fatores de risco, o importante é ficar em casa.
Como distinguir sintomas gripais comuns dos sintomas de Covid-19? Como é essa falta de ar, como a febre deve ser acompanhada? O que realmente justificaria a pessoa sair de casa e buscar atendimento médico?
Se ela tiver febre, por um ou dois dias, tosse, coriza, espirro, dores no corpo e outros sintomas de uma gripe comum, deve ficar em casa. Mas, se começar a apresentar falta de ar, deve procurar um hospital.
Essa falta de ar é de que tipo? Como se a pessoa estivesse se afogando e tentasse buscar o ar com mais força?
Quando sentir que a respiração já não é suficiente. A pessoa já não consegue conversar, realizar as atividades do dia a dia… Atividades comuns. Uma boa maneira de avaliar é: se estiver tendo dificuldade de executar as tarefas diárias, se está com falta de ar. É como se estivesse cansado por um esforço que não fez. É sentir cansaço sem ter feito esforço.
Muitas pessoas estão se antecipando e correndo às farmácias atrás de medicamentos que, em testes preliminares, foram eficientes para combater esse novo coronavírus – seria o da cloroquina e da hidroxicloroquina. O que é essa medicação e para que ela serve?
Essa medicação é utilizada para modular o sistema imunológico, para combater doenças autoimunes e para combater a malária. Quando bem-indicada, ela modula a nossa resposta imunológica. Só que ela procura critérios específicos, muito bem-observados, para só então poder ser indicada. Porque essa medicação também tem efeitos colaterais que chamam a atenção. Tudo na medicina deve ser pesado: efeito colateral, riscos e benefícios. E só quem consegue fazer isso é um médico.
Quais os efeitos colaterais para quem utilizar essa droga?
Os efeitos colaterais passam por cardiopatia, insuficiência renal, cegueira… A lista de efeitos colaterais é extensa, mas o que podemos dizer é que pode causar graves danos à saúde. As pessoas não devem de maneira alguma buscar essa medicação, porque podem se infringir severos danos à saúde, tanto que estudos desses medicamentos são feitos em pacientes em estado grave porque entende-se que eles possam ter maiores benefícios com a medicação comparando o prejuízo que ela pode gerar ao prejuízo causado pela Covid-19. Então, quem tem sintomas gripais, suspeitas, casos leves, de maneira alguma deve iniciar e fazer uso dessa medicação. Ela tem sido feita apenas em estudos; não é autorizado o uso dessa medicação de maneira ampla pelo Ministério da Saúde e pela Anvisa.
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O brasileiro, em muitos casos, costuma a se automedicar numa simples ida à farmácia. Quais os riscos dessa postura?
O primeiro risco que a gente entende é que as pessoas não procuram atendimento médico, logo elas já aumentam o risco de a doença que elas têm evoluir e perder a chance de um diagnóstico precoce. Num segundo momento, ainda tem os riscos da própria medicação que a pessoa utiliza, que podem ter efeitos colaterais variados, a depender da pessoa e da medicação. No caso da hidroxocloroquina, os efeitos são muito danosos. Trata-se de uma medicação que deve ser rigorosamente observada.
Mas, diante dessa recomendação de que as pessoas com sintomas leves de gripe não procurem os hospitais, o que deve fazer quem tiver algum dos sintomas, como febre leve, coriza, para se cuidar sem se automedicar?
A pessoa deve permanecer em casa, em princípio; utilizar medicações antitérmicas quando tiver febre…
Tipo o quê?
Dipirona, paracetamol… não temos indicado ibuprofeno, porque existem alguns estudos que sugerem que ele possa aumentar a carga viral. Já dipirona e paracetamol conseguem controlar febre e dor no corpo. Usar uma dosagem de seis em seis horas. Essa dosagem deve variar de acordo com o peso do usuário. Se começar a ter outros sintomas, como falta de ar, com fôlego insuficiente, desmaios ou as doenças que entendemos como sinal de gravidade – como diabetes, hipertensão descontrolada, doenças autoimunes – e tiver mais de 60 anos de idade, aí sim, deve procurar o atendimento médico.
Como aumentar a imunidade? Quais conselhos o sr. daria para que essa postura seja o mais natural possível?
Toda pessoa tem um sistema imune. Se ela não tem uma doença autoimune, se não usar nenhum medicamento que suprime seu sistema imunológico, a imunidade dela tende a ser normal. O que ela pode fazer para manter essa normalidade é manter bons hábitos de vida, tipo com alimentação saudável, praticar atividades físicas com orientação, evitar desidratação com ingestão frequente de água, tentar evitar o estresse, ainda que o momento seja de tensão. Quem toma medicação de uso regular não deve parar de fazê-lo sem indicação médica.
Então, mudanças de hábitos e comportamentos que aumentam a imunidade não existem?
Não. Aumentar a imunidade, não. O que a gente faz é preservar a imunidade, não se expondo a situações extremadas. A imunidade é relacionada a uma prática de vida saudável. A gente não a aumenta, mas pode prejudicá-la com a prática de exercícios exagerada, desidratação, estresse… uso de substâncias (como consumo de bebidas alcóolicas) de maneira exagerada pode baixar a imunidade. A imunidade é inata, e a gente tem que fazer tudo para preservá-la tendo hábitos de vida saudáveis, não utilizando medicação sem orientação médica e não se expondo a situações extremas.