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26/03/2020 às 10:00, atualizado em 26/03/2020 às 11:25
Conheça a história de quando a capital do país foi cenário de pilotos incríveis e suas máquinas voadoras
Nos anos 1960, com a nova capital do país prestes a ser inaugurada, o Brasil reunia números interessantes. Um deles dizia que a frota de carros licenciados era de 310 mil veículos. O que dava uma média de um carro para cada 226 pessoas. Uma quantidade relevante para a época. Empolgado com os dados, não demoraria para o empresário Victor Civita, do Grupo Abril, criar, em agosto daquele ano, a primeira revista sobre veículos do país, a Quatro Rodas. Uma revolução editorial. Eram os reflexos da indústria automobilística que também havia contaminado Brasília. Tanto que, durante as festividades da criação da cidade, seria realizada a primeira corrida no local, no dia 23 de abril, às 8h30. Na verdade, uma corrida, não. Três.
“Eu estava lá e me lembro como se fosse hoje, apesar de ter apenas oito anos”, conta Alex Dias Ribeiro, um dos pilotos pioneiros da cidade. “Nunca tinha visto nada igual, fiquei alucinado, imagina como era para um garoto que adorava ônibus, caminhão, motores, estar num ambiente como aquele. Saí dali com o meu destino traçado, queria ser piloto”, conta Ribeiro, filho do primeiro médico particular a se estabelecer no Núcleo Bandeirante, na época chamado de Cidade Livre.
Então organizado pelo Automóvel Clube do Brasil (ACB) – entidade criada em 1958, antes da inauguração de Brasília, e com o apoio de JK -, o Grande Prêmio Presidente Juscelino Kubistchek contou com a participação de competidores de várias partes do país. Alguns deles, figuras de renomes no segmento, como o piloto paulista Eugênio Martins, pilotando um DKV Vemag, e a lenda do esporte na época, Francisco Sacco Landi, o Chico Landi.
“A vocação de Brasília para o automobilismo nasceu com a cidade. O desenvolvimentismo de JK, a aposta do país na indústria automobilística e as avenidas largas de Brasília desembocaram numa espécie de paixão pela velocidade e na revelação, já nos anos 1970, de nomes como Nelson Piquet, Roberto Pupo Moreno e Alex Dias Ribeiro”, explica o jornalista e pesquisador Paulo Rossi, autor, com o também jornalista Luiz Roberto Magalhães, de Ponto de Partida, livro que conta a origem de todo o segmento esportivo na nova capital brasileira.
E, assim, oito carros participaram da primeira prova, num circuito improvisado com largada no Eixo Monumental, ao lado da Rodoviária do Plano Piloto. Na segunda bateria, foram 25 pilotos. Na terceira etapa, a mais importante do evento, trinta bólidos disputaram o “Prêmio Juscelino Kubistchek”, vencido por Jean Louis de Lacerda, um brasileiro nascido na França. “Essa foi uma das mais difíceis vitórias que consegui. Uma vitória suada”, relatou o vencedor em entrevista ao jornal Correio Braziliense.
Somente no segundo ano do aniversário de Brasília, em 1962, numa cidade ainda ofuscada pelas sombras das construções, um novo traçado seria desenhado para carros velozes e seus pilotos ousados. Nasceria assim, no dia 29 de abril daquele ano, “Os 1000 Quilômetros de Brasília”, cujo circuito passava por trechos como o Setor Comercial Norte, Hotel Nacional, Setor Comercial Sul, Banco do Brasil, Vale do Rio Doce.
A maratona no asfalto foi disputada por 33 competidores. A corrida, com largada às 4h da manhã, tinha quase 10h de duração. Era uma espécie, guardadas as devidas proporções, do circuito de Mônaco (um dos mais tradicionais da Fórmula 1), no coração do Cerrado. Só que sem príncipe. E sem Grace Kelly. E, naquele ano de 1962, também sem JK.
“Os carros passavam bem na frente da minha casa. Naquela madrugada, eu, meu pai e meu irmão ficamos na janela de casa assistindo, maravilhados”, lembraria, anos depois, Napoleão Augusto Ribeiro, presidente da Federação de Automobilismo do Distrito Federal (FADF), que morava na 403 Norte, em depoimento ao livro Ponto de Partida.
Uma sensação do esporte na cidade na década de 1960, “Os 1000 Quilômetros de Brasília” seriam realizados pelas ruas espaçosas da capital até abril de 1970, quando foi proibido pelas autoridades visando a segurança da população. A última prova, disputada em 1970, debaixo de muita chuva, seria vencida pela dupla Marivaldo Fernandes e Emílio Zambello, pilotando um Alfa Romeo GTA, da equipe Jolly.
Só assim, após três anos de corridas numa pista improvisada no estacionamento do Estádio Rei Pelé, finalmente foi inaugurado, em fevereiro de 1974, o hoje Autódromo Internacional Nelson Piquet. O circuito seria inaugurado com uma disputa extracampeonato de Fórmula 1, vencida pelo piloto brasileiro Emerson Fittipaldi, guiando uma McLaren Ford.
“Quando, por razões de segurança, os circuitos de rua foram proibidos, era natural que a jovem e veloz capital da República ganhasse um autódromo capaz de receber inclusive GPs da Fórmula 1. E, assim, o circuito brasiliense foi inaugurado”, comenta Paulo Rossi. “À época, era o mais moderno circuito do país”, assegura o jornalista.
Numa cidade onde as ruas e avenidas largas e espaçosas são abundantes como as grossas raízes árvores do Cerrado – pelo menos nos traços desenhados por Lucio Costa no Plano Piloto -, mais do que natural que uma geração de pilotos de corridas brotasse pela cidade como ouro em mina. O primeiro deles seria o gaúcho de Pelotas, Ênio Garcia, convidado pela Willys Interlagos para disputar a prova dos “1000 Quilômetros de Brasília” já no início da cidade, em 1962.
[Olho texto=”Acho essa uma das melhores histórias de Brasília, creio que ela é mais relevante mundialmente para a Capital, que a história do Rock Brasília.” assinatura=”Denílson Félix, cineasta” esquerda_direita_centro=”direita”]
“Ênio foi o primeiro nome da capital a conquistar resultados expressivos no automobilismo nacional, orgulhava-se de ter aberto as portas da velocidade para talentos que levaram o nome de Brasília para o mundo”, frisa Rossi.
Na segunda metade dos anos 1970, o talento de um jovem criativo de sobrenome francês, fora e dentro das pistas, deu o que falar no Brasil e no mundo. Filho de pais pernambucanos e nascido no Rio de Janeiro, o Piquet foi surrupiado do nome de solteira da mãe. Uma tática matreira para enganar o pai, um respeitado médico, ex-ministro da Saúde, que o queria ver trocando bola nas quadras de tênis.
“Ninguém imaginava que o Nelson fosse chegar à Fórmula 1. Nem ele”, recordaria anos depois, no livro Ponto de Partida, José Luiz Faria, um dos mais respeitados mecânicos da mítica oficina de automóveis da capital, Camber, e um dos mentores de Nelson Piquet. “Ele já era bom de volante e tinha ficado muito bom na mecânica. Era inventivo e sempre foi fuçador”, disse Faria.
O resto é história, que o transformaria em lenda do automobilismo brasileiro e mundial, com três títulos de Fórmula 1 nas costas, conquistados em 1981, 1983 e 1987. “Nunca sonhei em ser piloto. Nunca achei que seria capaz. Queria apenas saber mais sobre mecânica. Acabei com mais gasolina do que hemoglobina em meu sangue”, admitiria o ídolo, no livro, De Volta Para o Futuro – Camber Uma Escola de Vida, que conta a trajetória da oficina mecânica que consolidou a carreira, também, de Roberto Pupo Moreno. “A Camber física é coisa do passado, mas marcou uma geração de fãs de automobilismo na cidade e o seu legado está vivo na memória dos apaixonados pelo tema”, garante Alex Dias Ribeiro, hoje morando em São Paulo.
O ano era 1967. Os Beatles tinham acabado de lançar Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band, no Reino Unido, e no sudoeste asiático, a Guerra do Vietnã estava longe de ter um fim. No Brasil, o povo dançava ao som dos festivais da canção sob a sombra da ditadura. Enquanto isso, em Brasília, quatro jovens apaixonados por automobilismo, bons de volantes e antenados em motores alimentavam um sonho quase utópico. “A gente queria ter o nosso próprio carro de corrida”, revela Alex Dias Ribeiro, que, a bordo de um March 761 Ford, chegaria a Fórmula 1 em 1973.
E foram o que ele e os amigos Helládio Toledo, João Luiz da Fonseca e José Álvaro Vassalo fizeram, dando origem a uma das mais respeitadas e requisitadas mecânicas de automóveis da capital, a Camber, que até 1975, tinha dois endereços na cidade. Um na Asa Norte e outro na Asa Sul. O nome não podia ser mais apropriado e técnico. Fazia referência ao ângulo de inclinação das rodas de um automóvel. Por ali trabalharam como mecânicos Nelson Piquet e Roberto Pupo Moreno. E ali foi construído o primeiro carro de corrida de Brasília. “Nós conseguimos nosso protótipo”, exulta, Alex.
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Dos que tiveram privilégio de pilotar a caranga, vermelha como uma Ferrari e esquisita como um patinho feio, tal qual o personagem da fábula do dinamarquês Hans Christian Andersen – apelido que ganhou após uma reportagem do Correio Braziliense -, o bólido construído improvisadamente em 25 dias conseguiu a façanha de conquistar o segundo lugar nos “500 Quilômetros de Brasília”. Um feito que chamaria a atenção do cineasta Denílson Félix, realizador de um documentário que conta a história desses quatro pilotos sonhadores e sua máquina voadora. O filme foi vencedor da mostra paralela do Festival de Brasília do Cinema de Brasileiro de 2018.
“Eu simplesmente achava que levar aquela história para os cinemas era uma necessidade histórica e uma obrigação cinematográfica”, justifica hoje Félix, que pretende lançar uma continuação do projeto. “Acho essa uma das melhores histórias de Brasília, creio que ela é mais relevante mundialmente para a Capital, que a história do Rock Brasília. Estamos ainda trabalhando na segunda parte da história, que agora vai tratar especificamente da oficina Camber, da rotina da oficina Camber, que para muitos, foi o ‘Facebook’ da época”, afirma.