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29/03/2020 às 13:00, atualizado em 30/03/2020 às 10:40
Jornalista e atriz, ela viveu a juventude numa época de grande vigor cultural da cidade. “Nunca achei que criaria raízes, mas Brasília me conquistou.”
[Numeralha titulo_grande=”23″ texto=”dias para os 60 anos de Brasília” esquerda_direita_centro=”centro”]
Em homenagem à capital federal, formada por gente de todos os cantos, a Agência Brasília está publicando, diariamente, até 21 de abril, depoimentos de pessoas que declaram seu amor à cidade.
Nunca achei que criaria raízes. Nasci em Belo Horizonte. Com pouco mais de um ano fiz minha primeira mudança, para o Rio de Janeiro. E foi assim durante bastante tempo: pulando de um lugar para outro.
Morei em vários bairros do Rio, em Resende, vivi dois anos em Caracas, na Venezuela, e quando cheguei a Brasília, em 1977, achei que seria mais uma passagem. Ainda estava no ensino médio e quem neste momento não considera que tem o mundo inteiro pra conquistar? Mas Brasília me conquistou.
Vivi a juventude numa época rara: tempos do nascimento do rock brasiliense, do teatro do Grupo Pitu, dos Teatros Galpão e Galpãozinho, Escola Parque, Centro de Criatividade, Concertos Cabeças, shows no Karim, UnB vivendo greves contra o reitor almirante e por aí vai. A cidade efervescia. Beirute, Cafofo, política estudantil, poesia e música.
[Olho texto=”Brasília, hoje, são muitas! Nem todas acolhedoras, nem todas belas. Uma senhora com imenso vigor e ainda com espírito jovem para se reinventar. Quero estar ao lado dela.” assinatura=”” esquerda_direita_centro=”esquerda”]
Comecei como atriz no susto, em 1980, substituindo outra pessoa. Nunca mais passei um só ano sem subir ao palco! Participei de momentos referentes: cantando no Pessoal do Beijo e atuando no Vidas Erradas, na Companhia dos Sonhos e no Grupo Cena, entre outros. Meus dias eram divididos entre a UnB, ensaios e redações de jornal. Brasília era (também) minha! Gostava de dizer que a cidade tinha meu cheiro.
O mundo era uma promessa e a cidade era nossa, com seus horizontes, seu céu imenso, seu ar puro; cidade-parque onde construí uma família de irmãos e irmãs escolhidos.
Hoje, Brasília segue sendo minha casa, mas essa senhora de 60 anos cresceu muito, para o bem e para o mal. Brasília é a cidade-parque, mas é também a Brasília da minha amiga Genésia, que leva horas de ônibus para trabalhar no Plano Piloto.
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E da amiga Ana, que enfrenta longos congestionamentos na região de Arniqueira. Ou da amiga Jô, que não deixa os netos brincarem na rua por causa da violência e do amigo Gilson, que deixa o celular em casa para não ser assaltado no ônibus.
Brasília, hoje, são muitas! Nem todas acolhedoras, nem todas belas. Uma senhora com imenso vigor e ainda com espírito jovem para se reinventar. Quero estar ao lado dela.
Carmen Moretzsohn, 59 anos, atriz e jornalista, mora no Plano Piloto