07/04/2020 às 12:55, atualizado em 07/04/2020 às 13:16

Oficinas de saber fazer mantêm viva a arte trazida pelos candangos

Cursos diversos preservam tradições dos candangos há 30 anos

Por Agência Brasília *

Abril é o mês de Brasília. A capital que celebra 60 anos no próximo dia 21 preserva sua característica ímpar de reunir povos de todos os cantos do país e do mundo. Presentes na narrativa das homenagens aos que fizeram a cidade nascer e crescer, os candangos são lembrados e homenageados em um local especial, o Museu Vivo da Memória Candanga (MVMC).

Regido pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec), o Museu Vivo, localizado entre as regiões administrativas de Candangolândia e Núcleo Bandeirante, comemora seus 30 anos no próximo dia 26, um domingo. O espaço abriga a exposição permanente “Poeira, Lona e Concreto”, que conta a história dos primeiros artistas de Brasília, assim como as primeiras fotos da construção da capital e o conjunto arquitetônico, que leva o visitante a passear pelas ruas que foram habitadas pelos construtores anônimos à época.

[Olho texto=”“O Museu Vivo é um ambiente responsável por transformar vidas, além de contar uma história cheia de garra e otimismo escrita pelos candangos”” assinatura=”Guaraciaba Monteiro, tecelã e instrutora do Museu Vivo” esquerda_direita_centro=”direita”]

Propositalmente tomado pela atmosfera interiorana, cenário habitual dos povos saídos de vários estados brasileiros para erguer a nova capital federal, o Museu Vivo ocupa as dependências do primeiro centro de saúde do Distrito Federal, o extinto Hospital Juscelino Kubitschek de Oliveira (HJKO). Construído em apenas 60 dias, o centro de saúde composto por edificações de madeira seguiu a mesma linha arquitetônica da primeira morada de JK na época da construção de Brasília, o Catetinho.

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Inaugurado em 1990, o MVMC nasceu dentro dessas casas que abrigavam o antigo hospital para um projeto totalmente novo. Diante de uma demanda antiga da população do Distrito Federal em relação à memória da construção da cidade, o espaço foi ressignificado com o intuito de valorizar e preservar as tradições dos operários que ergueram o coração do Brasil.

A alameda – composta de casa simples e coloridas, cercada por árvores frutíferas – faz parte do cenário que torna o museu “vivo”. Os cenários das exposições permanentes, retratados a partir de roupas, objetos, ferramentas e fotos, carregam as memórias dos trabalhadores otimistas que vieram de longe, cheios de esperança, em busca de uma vida nova.

A gerente do Museu Vivo da Memória Candanga, Eliane Falcão, destaca a particularidade do centro cultural, onde os visitantes podem observar a convivência pacífica entre o passado e o presente. “O conceito do museu une o passado com os dias atuais, em momentos que filhos apontam as histórias e emoções vividas por seus pais e avós, despertando assim o interesse em aprender costumes da época em que surgiu Brasília”, ressalta.

Além das exposições permanentes e itinerantes, o equipamento cultural oferece à comunidade as “Oficinas do Saber Fazer”, cursos de artesanato que resgatam os saberes populares e incentivam a interação com as novas tecnologias e possibilidades criativas. Responsáveis pela geração de emprego e renda de boa parte da população do DF, as aulas de tecelagem, artesanato produzido com barro e argila, costura, gravura, pintura, cerâmica e fotografia oferecidas pelo MVMC já capacitaram cerca de 10 mil profissionais.

Referência

Um dos cursos mais procurados é o de tecelagem, que se tornou um referencial de cultura e de troca de saberes para os profissionais locais. As peças produzidas, que vão desde colchas, redes e panos diversos, representam um misto da tecelagem nordestina – rica no colorido dos listrados – e das tecelagens mineira e goiana, que tem nos “repassos” sua maior expressão.

A antropóloga e tecelã Ana Pina teve sua vida profissional marcada pelo Museu Vivo, onde iniciou seu processo de aprendizagem e chegou a ser coordenadora da oficina de tecelagem. “Foi o Museu Vivo que me apresentou o mundo da tecelagem manual, um universo totalmente desconhecido pra mim”, revela.

Segundo a antropóloga, a criação dos cursos coincidiu com um período de efervescência cultural no Distrito Federal, em que os cursos eram bastante movimentados. Ela fala sobre a importância cultural e pedagógica da capacitação realizada no Museu. “Dei aula para homens, mulheres, pessoas que aprenderam a tecer ainda na infância.”

Já a tecelã e instrutora do Museu Vivo, Guaraciaba Monteiro, conta que sua experiência durante uma despretensiosa visita em 1994 rendeu não só o passeio, mas construiu sua carreira profissional. Na oficina de tecelagem e barro, ela conheceu um modo descontraído de produzir.

Hoje, Guaraciaba faz peças que vão desde vestuário até itens de decoração, como tapetes e redes. A moradora de Ceilândia destaca que o Museu Vivo possui ainda o papel de salvar vidas. “Ministrei cursos para muitos jovens com problemas psiquiátricos, que se encontraram e se reinventaram por meio do ofício do artesanato. O Museu Vivo é um ambiente responsável por transformar vidas, além de contar uma história cheia de garra e otimismo escrita pelos protagonistas do espaço, os candangos”, celebra.

 

* Com informações da Secretaria de Cultura